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    Cruzeiro vê portões fechados como pena branda para racismo

    LILIANE PELEGRINI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BELO HORIZONTE

    14/02/2014 22h08

    O foco no treino desta sexta-feira do Cruzeiro, na Toca da Raposa II, era o clássico contra o Atlético-MG que acontece neste domingo, no estádio Independência. Mas o assunto que dominava as rodas ainda era o volante celeste Tinga, alvo do comportamento discriminatório da torcida do Real Garcilaso, em partida realizada em Huancayo, no Peru, na estreia do time na Taça Libertadores da América.

    O treinamento com bola poupou a maior parte dos titulares, mas Tinga estava lá. Parecia bem disposto e recebia a todo o momento o carinho dos companheiros em campo.

    Discretamente, o presidente do Cruzeiro, Gilvan de Pinho Tavares, apareceu no campo para assistir o trabalho dos atletas e a impressão era de que estava de olho especialmente em Tinga.

    À Folha, Gilvan afirmou que o clube tomou todas as providências cabíveis que que agora aguarda o posicionamento da Conmebol. "Estamos chateados, mas estamos agindo de todas as formas possíveis. É importante que o mundo tomar conhecimento de que o Cruzeiro não se descuida em proteger seus atletas de atos tão abomináveis, principalmente para o futuro. Não toleramos esse tipo de agressão", declarou o presidente do Cruzeiro.

    Até o momento, segundo ele, o Cruzeiro enviou à diretoria da Conmebol um relatório à em que constam todas as dificuldades que o clube enfrentou no Peru, contra o Real Garcilaso: equipe revistada por duas vezes de forma ostensiva, falta de água no vestiário, luzes desligadas durante o treinamento.

    Mas, também fez questão de protocolar uma denuncia específica ao tribunal da Conmebol, instituído este ano na competição, em que repudia e pede providências quanto aos atos racistas direcionados ao volante Tinga.

    "Tivemos a notícia de que o tribunal vai aplicar pena de campo. Se for isso, considero uma punição muito branda diante do que aconteceu", disparou, citando que a Federação Mineira de Futebol (FMF), a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a própria Fifa já manifestaram em favor de uma pena mais severa para o clube peruano.

    "Ainda não sabemos como será o procedimento. A denúncia já foi encaminhada pelo departamento jurídico do Cruzeiro, mas o tribunal da Conmebol foi instituído este ano, ainda não temos conhecimento sobre quais critérios seguirão e quanto tempo vão levar para tomar uma decisão", disse Gilvan.

    Após o trabalho em campo, Tinga foi poupado da sequência de entrevistas para a imprensa. Na coletiva, quem fez seu desabafo foi o zagueiro Dedé. "Foi uma situação muito ruim que aconteceu com o nosso companheiro Tinga. Fiquei revoltado, esse tipo de discriminação não pode acontecer. Acho que foi o único jogo em que me vi descontrolado em algumas situações. Na volta para casa, não consegui dormir, fiquei com os olhos cheios de lágrima, não conseguia pegar no sono. Sou negro também, me senti na pele dele. Isso não deveria acontecer", declarou o zagueiro. "Chegamos lá respeitando os peruanos e fomos desrespeitados", acrescentou.

    O técnico Marcelo Oliveira também comentou o caso. "Foi um assunto muito debatido, na proporção da importância que ele tem, e espero que haja uma punição na mesma proporção. Mas temos que seguir em frente. Que sirva de aprendizado e fortalecimento", afirmou o técnico do Cruzeiro.

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