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    Rixa Corinthians-Palmeiras surgiu por causa de italianos, diz historiador

    PEDRO MARTINS
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    16/02/2014 03h02

    Os títulos e o crescimento da torcida do São Paulo nas últimas décadas colocaram o time do Morumbi em destaque nas disputas do futebol paulista.

    Para os torcedores mais saudosistas, porém, a maior rivalidade da capital e do estado ainda é propriedade de Corinthians e Palmeiras, que se enfrentam neste domingo no Pacaembu.

    Uma pesquisa realizada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP explica parte da origem dessa rixa.

    O historiador Marco Aurélio Duque Lourenço pesquisou o assunto em sua tese de mestrado, no período entre 1917 e 1933.

    Para ele, um dos fatores que fomentou a rivalidade entre os clubes foi a grande imigração italiana para a cidade no início do século passado, e a divisão desses estrangeiros em relação ao futebol.

    Lourenço revela uma situação inimaginável na atualidade: jogadores que atuavam pelas duas equipes ao mesmo tempo.

    "Durante as primeiras partidas do Palestra, o time contava com vários jogadores do Corinthians. Era comum ainda neste tempo, jogadores atuarem pelos clubes dos campeonatos oficiais e também em times da várzea", afirmou o historiador.

    "O que ocorreu com jogadores como Amílcar Barbuy, Américo Fiaschi e Bianco Gambini, que atuaram por um tempo simultaneamente no Corinthians e Palestra e depois jogaram apenas no Palestra, tem relação com o 'chamado' do Palestra por jogadores de origem italiana. A fundação do Palestra tinha como objetivo aglutinar a comunidade de italianos da cidade, e isso se reproduzia também nos seus jogadores."

    Outro fator de acirramento dos ânimos entre torcedores do Corinthians e do antigo Palestra Itália foi a decadência do clube mais poderoso do futebol da capital até 1929, o Paulistano, que enfrentou uma grave crise financeira.

    Lourenço explica que a agremiação era mais rica que as rivais, e pagava clandestinamente aos atletas, enquanto publicamente, defendia o amadorismo no futebol.

    "Até então, Corinthians, Palestra Itália e Paulistano formavam o trio de ferro do futebol de São Paulo, alternando entre eles as primeiras posições dos campeonatos. O futebol era um esporte da elite e se constituía como uma prática amadora, sem remuneração aos jogadores", disse.

    "O Paulistano defendia o amadorismo, como uma forma de frear a ascensão de clubes que não eram da elite. Ele acusava os times alviverde e alvinegro de pagarem para os jogadores atuarem e, assim, 'seduzir' os atletas para seus times. Apesar de o Paulistano praticar o 'amadorismo marrom', pagando também aos jogadores, mas às escondidas."

    A busca de Corinthians e Palestra Itália por espaço para os próprios estádios também serviu de catalisador para a disputa entre os clubes no cenário paulistano.

    O pesquisador da USP explica que, antes do Parque São Jorge, o alvinegro conseguiu um terreno próximo à Ponte das Bandeiras, quase no centro da cidade.

    Enquanto isso, o alviverde construía sua casa na região da Pompeia. Em comum, as duas áreas ficavam próximas ao Rio Tietê.

    Para Lourenço, o Tietê se tornou o "eixo da rivalidade", com características marcantes das equipes em cada ponta do rio.

    "As mitificações tanto da agremiação dos italianos, situados num bairro em grande ritmo de modernização e ascensão social de seu público habitante que é dragado para o clube, quanto do time do povo, instalado num bairro pobre, numa região cujo valor imobiliário decresce com a retificação e própria poluição do rio, e o estreitamento dos espaços públicos com as obras paisagísticas, e que resulta num movimento natural da população mais carente da cidade em ocupá-lo e encontrar uma identificação com o clube do Parque São Jorge."

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