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    Todo mundo já tem plano de fuga da Ucrânia, afirma brasileiro

    ELIANO JORGE
    DE SÃO PAULO

    15/03/2014 07h02

    Os brasileiros que estão na Ucrânia sabem o que devem fazer, caso seja necessário deixar o país durante a atual crise.

    "Plano de fuga, todo mundo já tem", contou à Folha o preparador físico Michel Huff, do Metalist, que possui seis jogadores nascidos no Brasil. "É só a embaixada nos avisar [para irmos embora]".

    "Temos tudo traçado e estamos em permanente contato com eles", garantiu o embaixador brasileiro na Ucrânia, Antônio Fernando Cruz de Mello.

    Ao se apresentar à seleção brasileira na África do Sul, no dia 3, o meia Bernard, do Shakhtar Donetsk, havia revelado a existência de um plano de emergência para deixar a Ucrânia.

    "A cada momento, mudam as coisas aqui. O sinal amarelo está ligado. Se acontecer algo mais grave, nos avisam e programam o voo para sairmos o quanto antes", afirmou o lateral direito Danilo Silva, do Dínamo de Kiev.

    "É pegar o que precisa pegar e ir embora", disse o ex-zagueiro Antônio Carlos Zago, assistente técnico do Shakhtar.

    "De três meses para cá, não existe um momento de tranquilidade, só de aparente tranquilidade, mas debaixo de uma tensão muito grande", avaliou o embaixador, que está lá há quatro anos.

    "Estamos em cima de um barril de pólvora, a qualquer momento pode acontecer tudo. Depende do imponderável. Os acontecimentos são muito rápidos, acontecem em questão de horas", relatou Mello.

    "É um país independente. Mas dependente da Rússia. Têm muitos acordos, inclusive alguns econômicos e que foram questionados pela oposição [ao presidente deposto Viktor Yanukovich]", analisou Huff.

    "O estopim foi quando o presidente manteve acordos com a Rússia e decidiu que não iria para o lado da União Europeia", lembrou o preparador físico, que trabalha na Ucrânia há três anos e fala um pouco do idioma russo.

    No auge dos confrontos que causaram mais de 80 mortes, ele interpretou a turbulência como "uma guerra econômica entre EUA e Rússia".

    Ele imagina que a discutida adesão da Ucrânia à zona do euro reserva um lado negativo para os brasileiros: um possível aumento dos impostos. "A vida aqui é muito boa para quem ganha em moeda estrangeira, o custo de vida é muito baixo".

    Em Kharkiv, onde ele mora, a 40 km da fronteira com a Rússia, houve confrontos em manifestações. Mas Huff não percebe tanto perigo.

    "Não vi nada, é mais no Palácio do Governo, onde protestam. Na minha vida, não altera nada. Vou de carro para o treino, todo dia. Os jogadores estão com suas famílias. Está tranquilo aqui. Mas me ligam do Brasil, minha família ficou lá e pede para eu voltar", relatou.

    "Aqui as pessoas são pró-Rússia. A gente fica até protegido por estar perto da Rússia, mas teme que venha alguém de Kiev e cause algum terrorismo", admitiu.

    Editoria de Arte/Folhapress
    Ucrânia Mapas Porcentagem da população que fala russo

    Mais de 80% dos atletas brasileiros na Ucrânia atuam em clubes das regiões leste e sul, que são mais vinculadas aos russos.

    "A central de nossos contatos se concentra no leste: em Donetsk, Kharkiv e Dnipropetrovsk", informou o embaixador. Vivem nestas três cidades 27 profissionais de futebol oriundos do Brasil.

    Em Donetsk, quinta-feira, morreram duas pessoas em briga entre grupos de manifestantes rivais.

    "Não tinha nada, nada, estava tranquilo aqui. Foi a primeira vez assim. Meu prédio fica a 100 metros, o [atacante] Eduardo da Silva também mora do lado. Está prevista outra reunião na praça nos próximos dias, mas estaremos viajando", disse Antônio Carlos.

    "A maioria do pessoal aqui é russa, a língua aqui é a russa. Tem sempre a preocupação que aconteça o pior. Ficamos apreensivos, com medo do que pode ocorrer. Dizem que chegaram militares, mas não vi", acrescentou.

    Por outro lado, no oeste e no centro do país, a antiga turbulência deu lugar à calmaria após a deposição do presidente Yanukovich, que ainda é defendido no leste e no sul.

    "Agora, está tranquilo em Kiev. Estava o caos. Mas, a depender do que aconteça na Crimeia, o próximo ponto [de embates] é aqui na capital", opinou Danilo Silva.

    "Em fevereiro, no ápice dos conflitos, havia muitas barricadas e manifestantes nos limites da cidade. Eles revistavam carros e caminhões, então preferi evitar passar por isso. Moro há 2 km de onde aconteciam os confrontos e fiquei no centro de treinamento, a 10 km", disse.

    Ele não tem conversado com outros brasileiros. "Tenho mais contato com outro Danilo, [atacante] do Zorya. Ele diz que está mais tranquilo em Luhansk [no extremo leste]".

    "Agora não tem tanto risco em Kiev. Minha esposa veio há pouco mais de uma semana, mesmo sabendo da situação. Porque pode levar uma semana para isso se resolver, mas pode demorar muito tempo", afirmou Danilo Silva.

    O lateral direito disse que nem precisa acompanhar o noticiário porque, no Dínamo, já se fala muito sobre a situação do país. "Chego ao clube, e logo fico sabendo das informações".

    Editoria de Arte/Folhapress
    Entenda a crise na Ucrânia

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