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    'Garoto imitou macaco e o juiz deu risada', conta volante do São Paulo

    DE SÃO PAULO

    17/03/2014 03h03

    "Os melhores jogadores que o futebol brasileiro revelou são negros, incluindo o rei Pelé. Isso só mostra o nosso valor."

    Foi assim que Willie, do Vitória (BA), reagiu à sequência de casos de racismo no futebol brasileiro nas últimas semanas. Willie, aliás, já foi vítima de insultos raciais, como conta abaixo.

    Após episódios como do santista Arouca, chamado de macaco por torcedores do Mogi Mirim, a reportagem foi a campo e ouviu 34 jogadores negros sobre o tema.

    Entre eles, três reconheceram ter sido ofendidos em partidas de futebol. Já os 31 restantes afirmaram nunca ter sido vítima de racismo durante a prática do esporte.

    A reportagem falou com jogadores de 11 clubes, que representam seis Estados e disputam a Série A ou B do Brasileiro. São eles Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Santos e Ponte Preta (SP); Botafogo e Fluminense (RJ); Atlético Mineiro (MG), Inter (RS), Grêmio (RS) e Vitória (BA).

    A grande maioria dos boleiros afirma não ter sofrido por conta de racismo dentro de campo. No entanto, boa parte deles admite que o protagonismo nos gramados não evita que sejam alvo de preconceito fora deles.

    Saldanha, da Ponte, conta ter sido parado "umas três vezes" no trânsito, segundo ele, "por preconceito".

    "Quando falo que sou jogador, os policiais baixam a bola", afirma. "Aí o guarda diz: 'Temos que parar ao ver um menino com um carro desses [uma Tucson]. Ou é traficante ou é filho de pai rico ou é jogador."

    GRITOS DE "GORILÓN"

    Em 2011, quando jogava nas divisões de base do Vitória, o atacante do time rubro-negro Willie, 20, foi hostilizado pela torcida do time adversário.

    Ele participava de uma competição no Uruguai pelo clube e ouviu gritos de "gorilón" da torcida.

    "A vontade que dá é de parar de jogar na hora e abandonar o campo. E é o tipo de coisa que não dá para entender", desabafou.

    Willie afirma que, no Brasil, não passou por situação de racismo.

    E afirma que a discriminação não faria sentido.

    "Os melhores jogadores que o futebol brasileiro revelou são negros, incluindo o rei Pelé. Isso só mostra o nosso valor", diz.

    Julia Chequer - 5.jul.2013/Folhapress
    O volante Wellington durante um treino do São Paulo
    O volante Wellington durante um treino do São Paulo

    JUIZ VIU E DEU RISADA

    O racismo encontra espaço até em um Mundial. É o depoimento do são-paulino Wellington.

    O jogo era contra o Villareal, no Mundial Sub-17, na Espanha, em 2007.

    "No meio do jogo, estávamos eu e o Zé Victor, que também tem pele negra, e um garoto começou a imitar macaco. O juiz viu e não fez nada. Olhou e deu risada, foi incrível", lembra Wellington.

    Segundo o jogador, ele ficou surpreso e deu uma risada para Zé Victor, que ficou bravo com a provocação.

    "Eu falei `eles estão tentando tirar jogador nosso já que estão perdendo. Deixa para lá. Vamos classificar e pronto'", lembra ele.

    RACISMO EM ARENA DA COPA

    A Arena das Dunas, em Natal, um dos estádios da Copa, já foi palco de um caso de racismo, direcionado a Marquinhos, 25, do Vitória.

    Foi durante um jogo do Vitória contra a equipe da casa, o América-RN, em fevereiro.

    "Houve uma discussão que parou o jogo. Um grupo na torcida começou a me chamar de macaco", contou o atacante.

    Marquinhos admite que a provocação acabou produzindo efeito negativo.

    "Fiquei nervoso, comecei a reclamar e a cuspir no chão. Os jogadores do América acharam que eu estava provocando, mas o problema veio da torcida", lamentou.

    Participaram do levantamento Eduardo Ohata, Rafael Valente, Alex Sabino, Diego Iwata e Marina Galeano, de São Paulo; Lucas Sampaio, de Campinas; Maíra Rubim, do Rio; Felipe Bachtold, de Porto Alegre; João Pedro Pitombo, de Salvador;
    e Paulo Peixoto, de Belo Horizonte

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