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    Imitação de macaco é apoio da torcida da Ponte Preta

    DE CAMPINAS

    17/03/2014 12h10

    Concentrado, o artilheiro ajeita a bola na marca do pênalti e se prepara para a cobrança. De repente, a torcida, em uníssono, começa a gritar "Uh! Uh! Uh! Uh! Uh!", imitando o som de um macaco.

    O que poderia ser mais um ato racista durante uma partida de futebol é, na verdade, o grito de apoio da torcida da Ponte Preta, clube do interior de São Paulo, carinhosamente conhecida como Macaca.

    A invenção do grito tem cerca de 15 anos, mas o apelido vem desde a década de 1930, segundo o historiador oficial do clube, José Moraes dos Santos Neto.

    "É uma história bem peculiar", diz Santos Neto, que é formado em história pela Unicamp e professor da PUC de Campinas. "Quando a Ponte começou a jogar a Liga Mogiana, na década de 30, a torcida que acompanhava o time de trem era diversa, com torcedores de todas as cores e classes sociais".

    Flavio Grieger - 6.abr.02/Folhapress
    Torcida da Ponte Preta exibe uma bandeira com o rosto de uma macaca
    Torcida da Ponte Preta exibe uma bandeira com o rosto de uma macaca

    "Como eles desciam nas estações das outras cidades pulando muito e cantando, eram chamados de 'macacada' pela torcida adversária", diz Neto. Em vez de rechaçar o apelido, os pontepretanos o incorporaram.

    "A partir de 1948, quando a Ponte começa a jogar a primeira divisão do Paulista, a própria imprensa já se refere ao time como 'a macaca'", diz Santos Neto. O símbolo oficial do clube estava criado.

    O historiador destaca diversos atletas negros da Ponte, como Miguel do Carmo, Amparense, Pitico e Sabará, ponta esquerda que jogou no Vasco e chegou à seleção.

    Segundo o presidente do clube, Márcio Della Volpe, a Ponte era um time da periferia, "mais pobre". "Muitos chamavam os jogadores de macaco, e a torcida, de macacada. Era uma outra sociedade. Não se aceitava negros no futebol", afirma.

    "Acabamos assumindo o apelido", diz o atual dirigente, que chama a Ponte Preta de "a primeira democracia racial do futebol".

    No ano passado, quando disputava a Sul-Americana, o time foi alvo de ataques na Argentina, quando enfrentou o Vélez Sarsfield nas quartas de final. "Contra o Vélez a torcida ficava nos chamando de 'macaquitos'. Para nós, isso é motivo de orgulho".

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