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    Para número 2 da Conmebol, Tinga não sofreu racismo

    RAFAEL REIS
    ENVIADO ESPECIAL A ZURIQUE

    21/03/2014 03h49

    "Um moreno peruano imitando macaco para um brasileiro um pouco mais escuro que ele não é uma discriminação racial. É sim uma provocação mal-educada."

    A frase foi dita pelo argentino José Luis Meiszner, secretário-geral da Conmebol (entidade que comanda o futebol sul-americano).

    Ele se referia ao recente episódio de ofensa ao volante brasileiro Tinga, do Cruzeiro, que ouviu gritos simulando um macaco de torcedores do peruano Real Garcilaso, durante partida da Taça Libertadores da América.

    Após a partida no Peru, o jogador disse que "trocaria todos os títulos pelo fim do preconceito".

    Na ocasião, a Conmebol abriu uma investigação contra o Real Garcilaso, mas, passado mais de um mês, ainda não aplicou nenhum tipo de punição ao clube.

    "O problema é que as ofensas não estão no relatório do juiz da partida", explicou o vice-presidente da CBF, Marco Polo del Nero.

    A entidade cobra uma resposta dura da entidade sul-americana sobre o caso –a pena pode ser multa, perda de mandos de campo ou pontos e até mesmo uma exclusão da competição.

    José Luis Meiszner não é contra uma punição ao Real Garcilaso, mas pensa que o caso deva ser tratado sem exageros porque aconteceu em um ambiente menos propício ao racismo do que a Europa, por exemplo.

    "O que se vê na América do Sul é algo que, na maioria dos casos, não deve ser considerado racismo", disse.

    Segundo o dirigente, as ofensas sul-americanas são vazias, provocadas por deficiência cultural, e não carregam a mesma carga de ódio provocada por longas histórias de conflitos étnicos de ofensas de outros povos.

    "Não devemos reagir como os europeus. Somos filhos de uma mistura de brancos, índios e africanos", disse.

    "Nós, os sul-americanos, não somos racistas. Somos sim o povo mais mal-educado do mundo. Nos falta até mesmo cultura para, filosoficamente falando, provocarmos discriminação racial."

    Além das ofensas que Tinga recebeu no Peru, o futebol brasileiro foi balançado recentemente por mais dois casos de discriminação racial em campeonatos estaduais.

    O volante Arouca, do Santos, foi chamado de macaco por torcedores do Mogi Mirim durante uma partida do Campeonato Paulista.

    Já o árbitro Márcio Chagas da Silva relatou ter sido alvo de ofensas após jogo entre os times do Esportivo e do Veranópolis, em Bento Gonçalves, pelo Gaúcho.

    'PENA DIDÁTICA'

    O presidente do Tribunal de Disciplina da Conmebol, o brasileiro Caio César Rocha, disse ontem à rádio Itatiaia que deve haver decisão se o Garcilaso será punido ou não na próxima segunda-feira.

    "Acredito que o tribunal vai analisar o nível da gravidade, mas com intenção de proferir uma pena didática, não muito radical", disse.

    Por ser do mesmo país de um clube interessado –no caso, o Cruzeiro–, Rocha não pode participar da decisão a ser tomada pelo tribunal.

    Ontem, a Conmebol anunciou que afastou do caso Tinga o uruguaio Adrián Leiza, o vice-presidente do Tribunal de Disciplina.

    O motivo é que há um clube uruguaio, o Defensor, no grupo do Cruzeiro e do Real Garcilaso. Essa equipe poderia se beneficiar das possíveis punições após o julgamento do tribunal.

    (fo1c)..

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