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    Juvenal Juvêncio ficou emotivo no fim do mandato

    BERNARDO ITRI
    DO PAINEL FC
    RAFAEL VALENTE
    DE SÃO PAULO

    14/04/2014 03h00

    As pessoas que conhecem e convivem com Juvenal Juvêncio têm estranhando o comportamento do presidente do São Paulo nos últimos meses.

    O cartola que sempre conservou imagem austera, algumas vezes até carrancuda, está emotivo e saudosista.

    O exemplo mais recente dessa transformação foi observado na última quarta. Após o triunfo do time na Copa do Brasil, o cartola foi homenageado no vestiário do Morumbi.

    Os jogadores o saudaram e o capitão Rogério Ceni fez um discurso para exaltá-lo. O cartola retribuiu com fala firme, em que reforçou sua condição de líder. Mas teve dificuldade para camuflar a emoção, embora confessou a Folha que só o fez reservadamente.

    "Não pega bem um dirigente se emocionar na frente dos jogadores", justificou.

    O motivo para a mudança no perfil de Juvenal, segundo seus parceiros, é a despedida do poder na quarta-feira, quando os conselheiros irão eleger o novo mandatário do São Paulo.

    Juvenal, que presidiu o clube entre 1988 e 1990, está no cargo atual desde abril de 2006. Foram oito anos consecutivos no comando da agremiação de coração.

    Parceiros políticos e amigos disseram a Folha que o cartola sempre teve como principal característica centralizar as decisões e que jamais compartilhou histórias pessoais.

    É o tipo de cartola que decide sem consultar e que espera que seus aliados defendam suas posições. Foi assim quando resolveu concorrer ao polêmico terceiro mandato.

    Juvenal já havia cumprido um mandato de dois anos e sido reeleito para outro de três, após mudança no estatuto. Em tese não poderia tentar outra reeleição. Mas concorreu sob a justificativa de que aquela seria a primeira reeleição após a mudança no estatuto.

    A polêmica foi parar na justiça, mas no pleito do clube Juvenal derrotou seu oponente –Edson Lapolla– por 163 votos a 7 e cumprirá o mandato até o dia 16.

    Os aliados veem essas características positivamente.

    Apontam que foi graças ao esforço do atual presidente que o São Paulo deu um salto no que se refere a estrutura. Hoje, o clube tem dois centros de treinamento modernos.

    Na Barra Funda, onde treinam os profissionais, Juvenal comandou uma ampla reforma e criou o Reffis –referência na recuperação de jogadores. E Cotia, que hospeda as categorias de base, foi cria da sua gestão.

    O Morumbi também passou por ampla reforma de modernização.

    "Juvenal respira o São Paulo 24h por dia. Começa a resolver os problemas às 7h e, se for preciso, encerra somente a meia-noite. Está no clube diariamente, intercalando suas visitas ao CT da Barra Funda e de Cotia", revela Julio Casares, vice-presidente de comunicação e marketing do São Paulo.

    A preocupação com o clube fez de Juvenal um homem reservado a ponto de ninguém saber ou confirmar sua verdadeira idade (80 anos). Algo que ele esconde com maestria. Ou até mesmo sua real condição de saúde –ele trata um câncer na próstata.

    Mas hoje Juvenal passou a dividir no clube assuntos da sua vida familiar.

    "Outro dia ele estava feliz porque disse que deu mamadeira a um dos netos e conseguiu fazê-lo dormir em seu colo. É o tipo de história que o Juvenal jamais compartilharia, mas ultimamente ele pegou gosto por esse lado da vida", contou Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, vice-presidente do São Paulo e aliado de Juvenal desde 1984.

    Mas nem por isso Juvenal é visto com um olhar de fraqueza. As pessoas no clube dizem que ele é um político habilidoso e até por isso é difícil encontrar alguém que o desafie.

    É possível que mesmo ausente do clube após o dia 16 algumas pessoas vão continuar temendo sua figura.

    "O Juvenal é um animal político, no sentido positivo. As pessoas não sabem dizer se ele é de direita, de esquerda. Ele tem habilidade para reunir as pessoas, mas deixa claro que o comando é dele. Muito do que aconteceu no clube foi graças a ele. Fará falta", afirmou João Paulo de Jesus Lopes, vice-presidente de futebol.

    DO INTERIOR AO SÃO PAULO

    Juvenal nasceu em Santa Rosa do Viterbo, cidade a 310 km de São Paulo, onde até hoje conserva uma fazenda e cria cavalos de raça.

    A família do cartola era humilde e trabalhava nas fazendas da região. A vida simples de Juvenal se modificou no final dos anos 1940, quando ele mudou para a capital paulista.

    Na cidade, primeiro cumpriu serviço militar obrigatório. Depois passou a trabalhar como investigador policial até o fim dos anos 1950.

    Mas Juvenal queria progredir. E a oportunidade apareceu em 1961.

    Foi trabalhar na secretária de negócios internos e jurídicos da Prefeitura, como auxiliar do então secretário Plínio de Arruda Sampaio. Foi início da sua carreira política.

    Em 1962, filiou-se ao PDC (Partido Democrático Cristão) e elegeu-se deputado estadual, na condição de suplente. Em 1965, ano em que se formou em direito em São José dos Campos, também se elegeu vereador na condição de suplente.

    Em 1966, deixou o PDC e filiou-se no MDC (Movimento Democrático Brasileiro) e foi reeleito deputado estadual suplente. Foi assim que se aproximou do são-paulino Laudo Natel, não apenas governador de São Paulo, como também homem forte do clube tricolor.

    O motivo da aproximação foi João Batista Vilanova Artigas (1915-1985), de quem Juvenal era amigo pessoal –inclusive foi o arquiteto que projetou a casa de Juvenal, no Morumbi, em 1972.

    Em 1952, Juvenal havia apoiado o projeto do amigo para construção do Morumbi. Depois, em 1967, tentou apoiar a candidatura do arquiteto para a presidência do Cecap (Companhia Estadual de Casas Populares, atual CDH).

    Não foi possível. Artigas tinha ligação com o partido comunistas.

    Mas Natel decidiu nomear Juvenal presidente do Cecap no início dos anos 1970. O cartola ficou no cargo até 1976, quando foi afastado com toda a diretoria sob acusação de corrupção.

    Nesse momento, Juvenal já era uma figura conhecida no meio político e acabou se aproximando do futebol.

    Primeiro fez parte da gestão de José Maria Marin [atual presidente da CBF] na Federação Paulista, em 1982. Conheceu o advogado Carlos Miguel Aidar e ficaram amigos.

    Quando Aidar foi eleito presidente do São Paulo em 1984, nomeou Juvenal como diretor de futebol. Até então a única ligação oficial com o clube era o título de sócio desde 1970.

    A gestão de Aidar foi vitoriosa, com a conquista de dois títulos Paulistas e um do Brasileiro, e Juvenal foi escolhido para ser o seu substituto. Ganhou a eleição por um voto de diferença e comandou o clube tricolor até 1990. Época em que conquistou apenas o Paulista-89.

    Não conseguiu se reeleger, de maneira que por 12 anos fez parte da oposição até conseguir que o advogado Marcelo Portugal Gouvêa fosse eleito em 2002.

    Voltou a cuidar do futebol profissional e o clube conquistou nesse período os títulos do Paulista, da Libertadores e do Mundial em 2005. Candidatou-se presidente em 2006 e foi eleito. Desde então, conquistou três títulos do Brasileiro e uma Copa Sul-Americana.

    Hoje, muitos apontam que o sucesso tornou Juvenal arrogante e que a soberba do cartola foi responsável pela escassez de conquistas nos últimos cinco anos –apenas uma Sul-Americana.

    Até por isso mesmo os que o apoiam acham que chegou o momento de Juvenal deixar o clube para outro presidente. Mas seu legado será eternizado. O hotel no CT de Cotia irá se chamar Juvenal Juvêncio e haverá um busto do presidente no local.

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