"Luto". Este foi sentimento do técnico José Roberto Guimarães ao saber, por telefone, do fim do projeto que nasceu com ele e esteve sob o comando dele, em Campinas, nos últimos dois anos.

"Uma perda como se fosse de um filho", disse o técnico da seleção brasileira feminina à Folha, nesta terça-feira, dia em que a Amil anunciou que não será mais a patrocinadora do time vôlei da cidade, quarto colocado na Superliga deste ano, "em função de reposicionamento de estratégia de marketing".

De Saquarema, no Rio, no centro de treinamento das seleções nacionais de vôlei, Zé Roberto contou que foi avisado pelo seu auxiliar-técnico Paulo Coco, na noite da última sexta-feira, sobre a saída do patrocinador que bancava o projeto do time campineiro desde 2012. Zé havia passado o cargo para Coco dois dias antes, para se dedicar integralmente à seleção até a Rio-2016.

"Preocupa quando fecha uma equipe. É motivo de luto muito grande, principalmente no meio de um ciclo olímpico, porque [um time como Campinas] dá condição de trabalho e estrutura às atletas. É uma preocupação para o futuro do voleibol", afirmou o treinador.

Ainda não há definição sobre o futuro da equipe campineira, mas Zé Roberto disse que havia um acordo verbal com a comissão técnica, atletas que estavam no elenco e outras que ainda iriam chegar. O investimento da operadora de planos de saúde na equipe era de aproximadamente R$ 10 milhões por ano.

Dentre as principais jogadoras do time estão Tandara e Natália, ambas campeãs olímpicas e destaques da seleção que já treina com Zé em Saquarema. Com elas, nos treinos de preparação para o torneio de Montreux,o Grand Prix e o Mundial, este em setembro, está Jaqueline, atualmente sem clube. E é esta a preocupação do treinador tricampeão olímpico.

A ponteira Jaqueline ficou sem jogar a última temporada devido à gravidez e o nascimento de seu filho com o jogador Murilo. Ela, porém, está sem time atualmente em razão do ranking da CBV (Confederação Brasileira de Vôlei). A regra limita, desde março passado, a apenas duas jogadoras de ranking máximo por equipe. Como Osasco já tem duas atletas de 7 pontos (além de Jaqueline, Thaisa e Sheilla), ela está sem clube.

O temor de Zé Roberto é que as principais atletas de Campinas não consigam se recolocar no mercado brasileiro e precisem jogar em ligas fora do país. Natália e Tandara têm o ranking máximo, 7 pontos.

"É um momento crítico, fico apreensivo. Elas precisam estar felizes para jogar. Mas, enquanto não se recolocam, não conseguem descansar, passam o dia no telefone, não ficam tranquilas. Afinal, estão cuidando da vida delas", explicou o treinador.

Para ele, o fato de ter deixado o projeto não influenciou na decisão da saída do principal patrocinador. Zé Roberto recorda que já havia avisado que esta seria sua última Superliga no time (chegaram às duas últimas semifinais), pois já quer "estudar" e se "reciclar" para os Jogos Olímpicos do Rio, no qual a seleção feminina defende o bicampeonato. "A preparação começa agora", disse.

Zé Roberto também destaca que era uma "situação muito dura" para ele ficar jogando contra atletas que precisa avaliar e convocar para a seleção. Por isso tomou a decisão de sair do time após conversa com a família.

"Apenas ontem eu soube que estava confirmado [a saída da Amil], desde sexta estavam tentando reverter ainda. Quase caí da cadeira. Não sei o que aconteceu. As jogadoras foram avisadas hoje [terça]. Está todo mundo no chão".

	Felipe Christ/Divulgação/Vôlei Amil
	Zé Roberto fala com jogadoras durante pedido de tempo em partida em Campinas