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    Na hora vi que a morte de Senna seria inevitável, diz médico sobre acidente

    TATIANA CUNHA
    ENVIADA ESPECIAL A IMOLA

    05/05/2014 12h00

    Quando chegou para trabalhar em seu 14º GP de F-1 no autódromo Enzo e Dino Ferrari naquele 1º de maio, Giuseppe Pezzi não imaginava que, horas mais tarde, seria uma das primeiras pessoas a socorrer Ayrton Senna.

    Anestesista especializado em reanimação, o italiano era o médico que estava no posto 2 localizado na Tamburello no momento do acidente.

    "Assim que a direção de prova deu bandeira vermelha e pediu que entrássemos na pista, demoramos uns 20 segundos para chegar, já que nosso carro estava a uns 250 ou 300 metros do local da batida", contou à Folha Pezzi, 62, em uma das salas do centro médico do circuito italiano, onde trabalha até hoje.

    "Na hora vi que a lesão era muito grave e já dava para se supor que sua morte seria inevitável. O paciente estava em coma por conta do ferimento na cabeça e não se mexia. Mas ele tinha cardíaca e respiratória autônoma", disse.

    *

    Folha - Onde o senhor estava no momento do acidente?
    Giuseppe Pezzi - Estava dentro de um dos carros médicos, com um enfermeiro e o motorista. Estávamos no posto 2, na entrada da Tamburello.

    Quando chegou ao local do acidente, quem estava lá?
    Já havia alguns comissários e algumas pessoas do serviço de incêndio, que esperavam a intervenção médica. Cheguei antes de Sid [Watkins, o então médico-chefe da FIA]. Foi então que eu e meus colegas demos início ao processo de remoção do piloto do carro.

    Qual era o estado de Senna?
    O paciente estava em estado de coma. Quando tiramos seu capacete havia um pouco de sangue, que saía pelo corte. Também havia um pouco de material encefálico.

    O que você pensou ao vê-lo naquele estado?
    Imediatamente me dei conta de que a possibilidade de ele sobreviver era muito pequena, especialmente porque saía material encefálico de sua ferida.

    Ele morreu na pista?
    Não. Absolutamente não. Ele ainda respirava e tinha atividade cardíaca. Obviamente estava em coma pela grave lesão cerebral.

    Claro que na hora do atendimento você não pensou que estava tratando Senna. Em que momento se deu conta?
    Sim, no nosso no nosso trabalho estamos acostumados a pensar no que devemos fazer para ajudar o paciente naquela hora, sem nos preocuparmos em quem é a pessoa que você está tratando. Claro que psicologicamente não tem como não ser diferente, mas o fato de ser uma pessoa famosa e de o mundo inteiro estar prestando atenção em você e no seu trabalho é algo no qual você pensa antes ou depois do atendimento. No meu caso eu consegui me dar conta do que havia acontecido algum tempo depois.

    E o que pensou?
    Pensei em muitas coisas. Mas em geral meu sentimento era de tristeza, pois tinha acabado de vivenciar uma tragédia, algo que marcaria para sempre a F-1 e o esporte.

    Tatiana Cunha /Folhapress
    Anestesista especializado em reanimação, o italiano Giuseppe Pezzi era o médico que estava no posto 2 localizado na Tamburello no momento do acidente de Senna
    Giuseppe Pezzi era o médico que estava localizado na Tamburello no momento do acidente de Senna
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