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    Ex-presidente da FPF, Eduardo José Farah morre aos 80 anos em SP

    DE SÃO PAULO

    17/05/2014 09h25

    O ex-presidente da FPF (Federação Paulista de Futebol) Eduardo José Farah morreu neste sábado aos 80 anos, no Hospital do Coração, em São Paulo.

    De acordo com o hospital, a morte ocorreu por falência múltipla de órgãos, às 5h30 (Brasília). O ex-dirigente, que tinha problema renal, estava internado na UTI do HCor desde novembro do ano passado. Em abril, ele chegou a ter uma parada cardíaca, mas foi reanimado.

    Segundo informações do hospital, o enterro de Farah será neste sábado (17), às 16h, no Cemitério do Morumbi, na zona sul de São Paulo.

    Danilo Verpa - 16.dez.08/Folhapress
    Eduardo José Farah, ex-presidente da FPF (Federação Paulista de Futebol)
    Eduardo José Farah, ex-presidente da FPF (Federação Paulista de Futebol)

    Farah presidiu a FPF de 1988 a 2003. Sua gestão foi marcada por uma série de inovações polêmicas, como a adoção de dois árbitros por partida, disputa de pênaltis em jogos empatados no tempo normal durante a fase de grupos.

    A FPF adotou o uso do spray para formação da barreira, mais tarde adotado por outras entidades de futebol. O dirigente implantou ainda a parada técnica para hidratação nos dias de jogos com muito calor, e tentou, sem sucesso, a implantação da cobrança de laterais com os pés.

    Farah também presidiu a Liga Rio-São Paulo e foi responsável pela reinvenção do Torneio Rio-São Paulo, em 2002, com 16 clubes (nove de São Paulo e sete do Rio de Janeiro). O torneio não vingou e não foi disputado em 2003.

    O cartola deixou a FPF em 6 de agosto de 2003, poucos meses após uma briga judicial entre a FPF e a Rede Globo. O dirigente negociou os direitos de transmissão do Campeonato Paulista-2003 com o SBT, alegando que a emissora carioca não exerceu o direito de preferência na renovação do contrato do Estadual.

    A Globo contestou a posição de Farah, dizendo que enviou à federação uma proposta nos mesmos termos financeiros propostos pelo canal de Silvio Santos.

    A competição começou sem uma decisão definitiva da Justiça, no dia 25 de janeiro daquele ano, com uma situação constrangedora para a entidade e as duas emissoras. A partida de abertura, entre Santo André e Santos, foi transmitida por Globo e SBT, apesar de uma liminar garantir o direito exclusivo da emissora paulista.

    A Globo alegava que não tinha conhecimento da liminar conquistada pela FPF, e apresentou outra decisão judicial, anterior, para entrar no estádio e fazer a transmissão do jogo.

    A briga entre as emissoras gerou fatos curiosos, como a transmissão por TV aberta de partidas do Campeonato Paulista às 21h, horário em que a Globo costuma exibir sua principal novela na programação. SBT e Globo acabaram transmitindo juntas a maior parte da competição.

    No ano seguinte, meses depois de deixar o cargo, Farah disse a empresários durante uma palestra, em São Paulo, que o caso acabou forçando sua saída da federação.

    "Tirei a Globo do campo, ela me tirou da federação", disse o ex-dirigente, de acordo com relato da Folha. Na ocasião, a Globo se defendeu dizendo que não foi "tirada de campo", já que manteve na Justiça o direito de preferência na transmissão do Paulista-2004.

    ESCÂNDALOS E POLÊMICAS

    Eduardo José Farah foi o maior responsável pelo crescimento da influência do futebol paulista no cenário nacional. Foi durante a gestão dele que a entidade deixou o edifício que ocupava na região central de São Paulo, na avenida Brigadeiro Luiz Antônio, e se transferiu para a suntuosa sede na região da Barra Funda, Zona Oeste.

    O prédio, que ainda é sede da federação, foi inaugurado em 1999 e custou R$ 14 milhões.

    Entre os vários inimigos que colecionou enquanto foi presidente da FPF, estavam as torcidas organizadas de futebol. Em 1997, o dirigente pediu ao Ministério Público a extinção das organizadas e apoiou a medida, que até hoje perdura, de proibir a entrada de bandeiras nos estádios.

    Mas Farah também esteve envolvido em vários escândalos envolvendo sonegação de impostos e outras irregularidades financeiras. Inclusive, foi alvo de investigação da CPI do Futebol.

    Foi acusado de apropriação indébita de recursos da FPF, apropriação indébita e evasão de divisas no caso do jogador polonês Piekarski; lavagem de dinheiro; indiciamento por perjúrio por falso depoimento à comissão e indiciamento pedido por obstrução aos trabalhos da comissão.

    Durante o depoimento à CPI, em março de 2001, Farah disse nunca ter sido remunerado pela federação, mas sim por empresas que a ela prestavam serviços; negou qualquer ganho financeiro com o caso Piekarski.

    A Folha revelou na edição de 5 de agosto de 2002 que Farah omitiu informações. A reportagem revelou documentos que mostravam que o empresário Bruno Balsimelli, então membro do Conselho Fiscal da FPF e que teve Farah como seu padrinho de casamento, recebeu mais de R$ 5 milhões de comissão pela intermediação de cinco acordos da FPF.

    Na mesma CPI, Farah teve de dar explicações sobre 12 depósitos de R$ 15 mil feitos em sua conta bancária pela federação. Tais depósitos configurariam salários, o que não era permitido até 1998.

    Também teve de explicar a existência de três cheques emitidos pela FPF ao clube Central Espanhol do Uruguai, que na época era investigada como fantasma, utilizado apenas para transações envolvendo jogadores pelo empresário uruguaio Juan Figer.

    A ligação de Farah com Figer ficou conhecida como "Operação Uruguai". Farah negou ter qualquer ligação com o empresário.

    Em outubro de 2003, Farah admitiu que a FPF tinha dívida de R$ 5 milhões com o INSS.

    Um mês depois, a FPF foi autuada em R$ 4 milhões por irregularidades na gestão e sonegações de impostos iniciadas em 1998, quando a entidade deixou de ser classificada como sem fins lucrativos.

    O advogado de Farah na época foi o atual presidente da FPF, e presidente eleito da CBF, Marco Polo del Nero, que o sucedeu após a renúncia.

    Farah foi o o primeiro presidente a adiantar as cotas de direito de transmissão dos campeonatos para os clubes anos antes das disputados e foi muito criticado. Segundo seus detratores, tal manobra mantinha os clubes reféns da federação durante assembleias para decisões importantes e eleições de membros da diretoria.

    Com UOL

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