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    Policiais infiltradas filmam festa de quadrilha que vendia ingresso da Copa

    MARCO ANTÔNIO MARTINS
    DO RIO

    17/07/2014 12h02

    Para mostrar a atuação da quadrilha de venda ilegal de ingressos da Copa do Mundo, a Polícia Civil do Rio infiltrou duas jovens policiais mulheres em festas e recepções organizadas pelo grupo.

    Em uma delas, em 26 de junho, com o Mundial em andamento, a dupla filmou uma festa no restaurante Palaphita, na Lagoa, zona sul do Rio.

    Na ocasião, o franco-argelino Mohamadou Lamine Fofana, 57, acusado de liderar o grupo, transitava entre os convidados, sorridente e distribuindo presentes. Entre as pessoas que compareceram ao evento está o ex-jogador Jairzinho, campeão do mundo em 1970 com a seleção brasileira.

    Veja vídeo

    Em outra filmagem, junto a Fofana aparece o advogado José Massih. Ele está de óculos. As policiais viram tudo. Como convidadas pelos organizadores do evento, não chamaram a atenção.

    Do lado de fora do Palaphita, os policiais da equipe do delegado Fábio Barucke estavam na cobertura. Toda a movimentação da dupla era acompanhada pelos investigadores. Caso elas fossem descobertas, os policiais entrariam no local. Não foram.

    Durante o período que passaram no Palaphita, as policiais filmaram, por exemplo, José Massih distribuindo presentes. Ele parece estar à vontade junto ao franco-argelino.

    O depoimento de Massih, na polícia, levou os investigadores a elucidarem a estrutura da quadrilha. Massih e Lamine Fofana negam qualquer envolvimento com a quadrilha de cambistas.

    Ambos estão presos no sistema penitenciário de Gericinó, na zona oeste do Rio. As filmagens foram anexadas ao inquérito e estão entre as provas que levaram 12 pessoas –entre elas Lamine Fofana e Massih– para a prisão. Todos foram denunciados por cambismo, associação criminosa, lavagem de dinheiro e sonegação fiscal.

    SEGUNDA FASE

    A Polícia Civil do Rio iniciou a segunda fase da investigação sobre a quadrilha de venda ilegal de ingressos para jogos da Copa. Nesta nova fase, os policiais apuram se há envolvimento de nove cambistas com Lamine Fofana e o britânico Raymond Whelan, 64, diretor-executivo da Match.

    A Match é a única empresa autorizada pela Fifa para comercializar os chamados pacotes de hospitalidade (ingressos mais hospedagem).

    Da primeira fase, 12 pessoas foram identificadas como envolvidas no esquema. Elas foram denunciadas na semana passada pelo Ministério Público estadual. Todas estão presas.

    Dos nove investigados nesta nova fase, dois já estão identificados: os ingleses Roger Anthony Leigh e Desmond John Lacon.

    Eles foram presos pela Deat (Delegacia de Atendimento ao Turista), dez dias antes de Lamine Fofana ser detido pela equipe do delegado Barucke.

    Tasso Marcelo - 7.jul.2014/AFP
    O diretor-executivo da Match, o britânico Raymond Whelan
    O diretor-executivo da Match, o britânico Raymond Whelan

    No caderno de Fofana há os nomes de Leigh e Lacon com valores a serem destinados a eles. A dupla está em liberdade e ainda se encontra no país.

    Os passaportes de Leigh e Lacon estão acautelados na Justiça. Barucke recebeu os 200 ingressos apreendidos com a dupla quando foram presos. Todos pertencem à empresa Match.

    Além dos ingleses, a polícia tenta identificar os outros sete integrantes deste grupo. Entre eles, há um chinês que atuaria em São Paulo.

    Tanto o chinês como os outros cambistas seriam abastecidos por ingressos repassados por Alexandre Marino Vieira e por Antonio Henrique de Paula Jorge.

    De acordo com as investigações, Vieira e Jorge receberiam ingressos VIP de Lamine Fofana e revenderiam os bilhetes no Rio, São Paulo, Ceará, Espírito Santo e Brasília.

    A quadrilha também desviava ingressos de federações, entre elas a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), bilhetes de cortesia, ONGs e de escolas.

    Além de identificar os outros integrantes do grupo, nesta segunda fase, os policiais tentam descobrir para onde ou em que foi investido o dinheiro obtido com a venda de ingressos.

    O delegado Barucke se reúne nesta quinta (17) com delegados do Laboratório de Lavagem de Dinheiro, da Polícia Civil carioca. A unidade especializada vai cruzar informações sobre a quadrilha.

    Nas interceptações telefônicas, com autorização judicial, os integrantes da quadrilha são flagrados vendendo ingressos e pedindo pagamentos em dinheiro.

    Em uma delas, Whelan pede que Lamine Fofana leve ao Copacabana Palace US$ 25 mil (R$ 55 mil) em dinheiro para a compra de ingressos. Há suspeita ainda de que a quadrilha lucrasse R$ 1 mil por jogo.

    Até agora, a polícia apreendeu R$ 60 mil do grupo.

    "Não encontramos dinheiro em contas no país. Há possibilidade de que tenham mandado para o exterior. Vamos investigar isso", afirmou o delegado.

    Whelan, Fofana, Vieira e Jorge estão presos no complexo penitenciário de Gericinó. Nesta quarta, a Justiça recusou pedido de habeas corpus em favor de Whelan.

    Seu advogado, Fernando Fernandes, era esperado para depor, mas não compareceu. Ele entrou com uma medida judicial para não ir à DP. O caso será enviado pelo delegado à Justiça.

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