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    Dívida ameaça resort que hospedou seleção alemã na Bahia

    FABIO VICTOR
    ENVIADO A SANTA CRUZ CABRÁLIA (BA)

    18/07/2014 02h00

    Paulo Whitaker - 16.dez.2013/Reuters
    Vista aérea do resort Campo Bahia
    Vista aérea do resort Campo Bahia

    Enquanto o Brasil lembra com carinho da passagem dos alemães por uma minúscula vila praiana da Bahia, o Ministério Público daquele Estado ameaça pedir à Justiça o sequestro do resort que hospedou os campeões mundiais.

    O motivo é que, segundo a Promotoria, os empresários alemães donos do resort Campo Bahia não pagaram a primeira parcela de uma taxa de R$ 300 mil devida à Prefeitura de Santa Cruz Cabrália.

    O valor, a título de compensação ambiental pelo empreendimento à beira-mar na vila de Santo André, foi acordado num TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) assinado entre os donos do resort e o Ministério Público.

    O dinheiro, conforme o TAC, será usado para a criação de um programa de coleta seletiva de resíduos sólidos.

    A primeira das cinco parcelas de R$ 60 mil teria de ser paga no dia 30 de junho. Mas, segundo o Ministério Público, o depósito não foi feito.

    Um oficial foi aos endereços que constam como sendo das firmas responsáveis pela construção do Campo Bahia, a Acquamarina e a RLL, e informou não ter encontrado nenhuma empresa no local.

    A Promotoria diz que o próximo passo é a execução judicial do TAC, pela qual poderá ser pedido o sequestro ou arresto de bens das empresas, inclusive o Campo Bahia.

    Os empresários dizem ter feito o depósito e que pode ter ocorrido um mal-entendido sobre os endereços.

    A vila de Santo André está dentro de uma APA (Área de Proteção Ambiental) e, portanto, qualquer empreendimento está sujeito à legislação ambiental do país.

    Segundo o Ministério Público, o Campo Bahia não obteve todas as licenças ambientais necessárias nem queria pagar 0,5% sobre o valor do empreendimento como compensação ambiental, como determina a legislação.

    Por isso, os promotores Bruno Gontijo Teixeira e Antonio Maurício Magnavita moveram uma ação civil pública contra os empresários pedindo R$ 1 milhão de reparação. O TAC foi uma solução negociada.

    O Campo Bahia é dos empresários alemães Christian Hirmer e Kay Bakemeier. O alemão radicado no Brasil Tobias Junge é gestor do projeto.

    Os empresários convenceram a federação alemã que seria ideal hospedar a seleção no local, e em poucos meses puseram o complexo de pé.

    Após a saída da equipe, as casas serão vendidas, e o local funcionará como um misto de resort e condomínio.

    Fabio Victor /Folhapress
    Na entrada do Campo Bahia, bandeira da Alemanha com frase em alemão aos jogadores: "Estamos orgulhosos de vocês"
    Bandeira da Alemanha com frase "Estamos orgulhosos de vocês" em alemão para a seleção no CT

    MARCHAND PRESO

    Outro problema com a Justiça pode prejudicar o legado alemão. Os quartos do Campo Bahia ostentam obras de arte de 14 artistas renomados da Alemanha e do Brasil.

    Pelo plano original dos donos, quando o time deixasse o país, as peças seriam leiloadas, e a renda, revertida para projetos sociais na vila.

    Mas a prisão, há um mês, do magnata alemão das artes Helge Achenbach, responsável pelo projeto, pôs em risco o plano. "Isso [a prisão] poderá ser um problema para a venda das obras. Foi ele quem organizou tudo", disse Kay Bakemeier, um dos donos do resort.

    O gestor Tobias Junge disse não ver problema, uma vez que Achenbach foi apenas o intermediário na compra das peças.

    Achenbach é acusado de fraudes como superfaturar as peças que negociava para terceiros, lesando os seus clientes. Ele nega as acusações.

    Outro legado prometido foi um campo de futebol para a vila, que começou a ser construído, mas acabou interrompido. Os moradores protestaram e o trabalho foi retomado.

    OUTRO LADO

    Gestor do resort Campo Bahia, Tobias Junge contradisse a informação do Ministério Público de que não foi paga a primeira parcela do TAC.

    Engenheiro alemão radicado no Brasil, ele disse ter o comprovante do depósito dos R$ 60 mil na conta judicial aberta para receber o dinheiro.

    A reportagem pediu que Junge enviasse uma cópia digitalizada do comprovante. Na primeira vez em que foi procurado, na semana passada, o alemão respondeu que estava no Rio e que, portanto, só conseguiria enviar a cópia a partir de terça-feira.

    Procurado novamente nesta quarta (16), ele mudou de ideia e disse que não enviaria o comprovante por se tratar de um "documento interno".

    Ainda assim, o empresário garantiu ter feito o pagamento e enviado o recibo ao Ministério Público. A Promotoria afirma que não o recebeu.

    Quanto ao fato de o oficial do Ministério Público não ter encontrado empresas nos endereços listados no TAC, Junge disse que pode ter havido confusão. "Houve alteração no contrato. É só irem lá no Campo Bahia, as empresas funcionam lá", afirmou.

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