Em um dia ensolarado e de mar transparente, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), afirmou que as águas da baía de Guanabara estão prontas para as competições de vela dos Jogos Olímpicos. Só faltou combinar com os atletas que participam da Regata Internacional de Vela, evento-teste do comitê Rio-2016 iniciado neste domingo (3).
"É legal que, exatamente na hora do evento, a água fique parecendo o Caribe. Mas daí a o prefeito dizer: 'Tá vendo como a água tá limpa?' Pô, prefeito! Está longe de estar limpa. A gente deu sorte de entrar uma corrente bacana e ficar tudo limpo", comentou o velejador Ricardo Winicki, o Bimba.
Ele falou após concluir duas provas de windsurfe (categoria chamada de RS:X). Por três vezes, Winicki parou em um trecho da prova para tentar retirar um saco plástico na quilha de sua prancha.
Horas antes, Paes foi à Marina da Glória, sede da regata, e disse que a poluição afeta apenas as áreas periféricas da baía de Guanabara.
Representantes do Comitê Rio-2016 comunicaram que a qualidade da água havia sido comprovada.
Uma análise do Instituto Estadual de Meio Ambiente, órgão do Governo do Estado do Rio, considerou as raias escolhidas para competição (três delas situadas dentro da baía de Guanabara) com "plenas condições de balneabilidade, inclusive para o contato primário [banho]".
"Em cinco anos, não resolveram sequer o esgoto na Marina", disse Winicki.
Velejador da classe Finn, Jorge Zarif fez avaliação semelhante. "Foi mais sorte do que competência. A maré trouxe bastante água de fora para dentro da baía", disse.
Patrícia Freitas, do windsurfe, lamentou a discussão.
"É preciso tirar o foco do saco de lixo, porque é um problema que todo mundo vai ter", disse a velejadora. "Velejo na Baía de Guanabara há dez anos e nunca vi nada mudar", completou.