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    Crises política e econômica apagam brilho do futebol de Milão

    RAFAEL REIS
    DE SÃO PAULO

    30/08/2014 08h00

    Milão é o maior polo econômico da Itália, soma 36 títulos da Série A e dez taças da Liga dos Campeões da Europa.

    Mas na temporada 2014/15 do Calcio, que começa neste sábado (30), os olhos estarão todos voltados para Turim, Nápoles e Roma.

    Sofrendo com falta de talentos, mudanças nos comandos dos clubes e verba curta para investir, Milan e Inter de Milão viraram coadjuvantes no país até onde pouco tempo atrás eram reis.

    A temporada passada foi desastrosa.

    O Milan recorreu até a um antigo ídolo no banco, Seedorf, para tentar se salvar, mas terminou o Italiano em oitavo, sua pior posição em 16 anos.

    A Inter também não teve razões para comemorar. Foi quinta colocada, mas ficou a inacreditáveis 42 pontos da Juventus, de Turim, atual tricampeã nacional.

    Resultado: pela primeira vez desde 2001, a cidade de Milão ficou sem representante na Liga dos Campeões, o torneio que reúne a nata dos clubes europeus.

    "O futebol italiano nivelou por baixo, voltou a ser como era antes, com maior equilíbrio. Milan e Inter se desgarraram quando receberam injeção de capital dos seus mecenas. Com a crise econômica mundial e as políticas que afetaram o Berlusconi [dono do Milan], esses times sofreram um crash maior", afirmou o advogado Marcos Motta, especialista em transferências internacionais.

    Editoria de arte/Folhapress

    ERA BERLUSCONI

    Realmente, os clubes de Milão viveram eras de ouro sob o comando dos bilionários Silvio Berlusconi e Massimo Moratti.

    Berlusconi, dono do grupo Mediaset e da financeira Fininvest, foi o primeiro a entrar no futebol. O magnata assumiu um Milan cambaleante em 1986 e despejou dinheiro em reforços como Van Basten e Gullitt.

    Em 28 anos de gestão, ganhou cinco vezes o título europeu e oito italianos, o último em 2011. Seu sucesso no clube ajudou a alavancar a carreira política, e ele foi eleito três vezes primeiro-ministro italiano.

    "O Milan era um grande clube porque seu dono podia gastar muito dinheiro. Agora é diferente. Por razões políticas e econômicas, Berlusconi e sua família não querem continuar gastando", disse a jornalista Alessandra Bocci, da Gazzetta dello Sport.

    O dono do clube rubro-negro colecionou nos últimos anos escândalos que minaram sua imagem como político de uma maneira que dificilmente o time conseguiria restaurar. A saúde financeira do bilionário também foi abalada por problemas econômicos das empresas de sua holding.

    Quem pagou o pato foi o Milan. Os principais jogadores, como Ibrahimovic e Thiago Silva, foram saindo ano após ano. E as peças de reposição estão longe de repor o nível técnico dos antecessores.

    Para a atual temporada, o clube se desfez dos três jogadores com salários mais altos, Balotelli, Kaká e Robinho. O reforço mais conhecido é o espanhol Fernando Torres, que era motivo de piadas pelos gols perdidos na Inglaterra e que foi emprestado de graça pelo Chelsea.

    ERA MORATTI

    Ao contrário de Berlusconi, que se mantém no comando do Milan, Massimo Moratti já não é mais é o proprietário da Inter de Milão. O magnata do setor elétrico e de refinaria de petróleo entregou em 2013 o controle acionário do clube para o indonésio Erick Thohir.

    Nos 18 anos em que ficou à frente da Inter, Moratti acabou com o estigma de perdedora que rondava a equipe e venceu cinco títulos italianos consecutivos, além da Liga dos Campeões de 2010. Segundo suas contas, 1,5 bilhão de euros (R$ 4,4 bilhões) de sua fortuna pessoal foi torrada em reforços do quilate de Ronaldo, Roberto Baggio, Figo e Eto'o.

    O elenco atual nem de longe lembra essa constelação. Alguns dos seus principais jogadores, como o argentino Icardi e o zagueiro Ranocchia, não foram convocados por suas seleções para a Copa. Outros, caso do brasileiro Hernanes e do argentino Ricky Álvarez, até vieram ao Brasil, mas como reservas.

    "Os dois clubes têm de se convencer que só há possibilidade de voltarem a ganhar se investirem em jogadores jovens e reconstruírem suas organização. Mas será necessário um longo período, pelo menos de cinco anos, porque os clubes sofrem com a crise econômica da Itália e de Milão", concluiu Enrico Curro, jornalista do "La Repubblica".

    Longe do favoritismo e tentando pelo menos campanhas mais dignas que na temporada passada, os clubes de Milão estreiam domingo no Italiano. O Milan recebe a Lazio, enquanto a Inter visita o Torino.

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