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    Após trocar o salto alto pela chuteira, Erika se destaca nos gramados

    MARINA GALEANO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    12/09/2014 13h20

    Ivan Dias/Folhapress
    Erika posa para a foto após jogo entre Centro Olímpico e Avaí, pelo Campeonato Brasileiro Feminino
    Erika posa para a foto após jogo entre Centro Olímpico e Avaí, pelo Campeonato Brasileiro Feminino

    Loira, alta, magra, sorriso bonito. Com 1,72 m e 60 kg, Erika Cristiano, 26, poderia ser modelo. Na verdade ela até foi, mas, ainda na adolescência, trocou o salto alto das passarelas pela chuteira e seguiu carreira como atleta profissional de futebol.

    Hoje, ela é uma das principais jogadoras do Centro Olímpico, que estreou com goleada por 5 a 0 sobre o Avaí, nesta quinta-feira (11), no Campeonato Brasileiro Feminino de Futebol 2014 –o time vinculado à Prefeitura de São Paulo venceu o torneio no ano passado.

    Também já foi convocada diversas vezes para a seleção brasileira e participou da campanha da medalha de prata na Olimpíada de Pequim-2008.

    Erika ainda era aluna da escolinha do Marcelinho Carioca, na zona leste de São Paulo, quando largou o mundo da moda para ficar de vez no mundo da bola.

    Aos 12 anos, entre um chute e outro, apareciam alguns bicos como modelo. Porém, no dia em que marcaram um jogo no mesmo horário de um desfile que ela faria para o estilista Ronaldo Ésper, a menina não teve dúvida. Calçou as chuteiras e avisou a mãe que estava se mandando para o campo.

    "Aquilo não era meu. Não gosto de desfilar e sou péssima para foto. Gosto de jogar futebol", diz Erika, que, entretanto, não abandonou a base, o rímel, o lápis de olho e o gloss. "Saio sempre assim. Até para treinar."

    Enquanto conseguiu conciliar as duas coisas, Erika exigia esforço extra dos maquiadores. "Era um problema disfarçar os hematomas. Haja maquiagem", lembra sua mãe, Jeane Cristiano, 50, que incentiva e acompanha de perto a carreira da filha.

    O primeiro "salário" que Erika recebeu foi aos 11 anos: R$ 80 para ajudar a pagar o transporte até a sede do time Associação Sabesp. Recrutada por observadores, ela jogava com as meninas mais velhas, do juvenil, e, mesmo assim, se destacava.

    Naquela época, saía da escola às 18h, se trocava e comia marmita no ônibus até chegar ao treino. No final do mês, apesar das contas apertadas, conseguia juntar um dinheiro. A economia lhe rendeu uma bicicleta nova.

    "A Erika sempre foi muito centrada, comprometida e responsável", diz Jeane, revelando também que a filha é pagodeira e chegada numa roda de samba.

    Depois da Associação Sabesp, Erika foi convidada para vestir a camisa do Juventus, clube da Mooca, onde surgiu a primeira convocação para a seleção brasileira sub-19. Ela tinha 15 anos. Disputou o Mundial sub-20 na Tailândia em 2004, aos 16.

    Versátil, já jogou como zagueira, volante e atacante em uma mesma partida e diz não ter preferência por essa ou aquela posição.

    "Eu gosto de jogar, independente de onde. Se o técnico pedir para que eu jogue na zaga, eu nunca vou falar talvez. Por isso que acho que me tornei uma jogadora polivalente", afirma.

    A partir de 2006, passou a defender o Santos. Era uma das "sereias da Vila" –como costumavam ser chamadas as meninas da equipe alvinegra– e ficou arrasada quando o time foi extinto, em 2012, sob alegação de falta de patrocínio do então presidente do clube, Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro. Do Santos, ela foi direto para o Centro Olímpico.

    O jogo desta quinta, contra o Avaí, praticamente marcou a reestreia de Erika, que ficou afastada dos gramados por cerca de dez meses devido a uma cirurgia de reconstrução do ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo.

    Apesar do caráter amador do futebol feminino no Brasil e da falta de apoio à modalidade, a atleta conta que, hoje em dia, consegue "viver da bola" e ajudar a família. Mas não sabe até quando. Por isso, planeja cursar jornalismo ou retomar a faculdade de educação física.

    "Não consigo bater no peito e dizer que estou tranquila. Daqui a um ano pode ser que eu tenha que parar de jogar bola e procurar outro emprego. Essa é a nossa realidade no Brasil. Jogamos porque gostamos. Se fosse por causa do dinheiro, a gente parava."

    Ivan Dias/Folhapress
    Erika posa para a foto após jogo entre Centro Olímpico e Avaí, pelo Campeonato Brasileiro Feminino de Futebol
    Erika posa para a foto após jogo entre Centro Olímpico e Avaí, pelo Campeonato Brasileiro Feminino
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