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    Biografia traz as histórias de Guga para a mesa do bar

    ROBERTO DIAS
    SECRETÁRIO-ASSISTENTE DE REDAÇÃO

    29/09/2014 02h00

    Larri Passos bem que deixou Guga avisado: Andre Agassi poderia intimidá-lo. Aos 20 anos, o brasileiro duelaria pela primeira vez com o americano, um mito do tênis.

    Guga só não podia imaginar que seria daquele jeito. No vestiário, antes do jogo, Andre Agassi se levantou, caminhou em direção ao adversário e iniciou o bombardeio.

    Nas palavras do brasileiro: "O ar ficou impregnado. Um pum emendando no outro. Agassi estava com dor de barriga ou algum tipo de desarranjo".

    O episódio de 1997 é uma das muitas boas histórias contadas pelo tenista no livro "Guga, um Brasileiro", um depoimento ao jornalista Luís Colombini. Para quem gosta de tênis, a biografia deixa a sensação de estar ouvindo o jogador na mesa do bar.

    O livro é rico em mergulhos nos pontos importantes da carreira de Guga Kuerten. Até um jogador de fim de semana que pena com as duplas faltas há de se identificar aqui e acolá.

    "O tênis é uma mistura de xadrez com teatro", define Guga. Exemplo disso é sua semifinal de 2000 em Roland Garros, contra o espanhol Juan Carlos Ferrero, derrotado após cinco sets. "Criei um personagem, o inabalável Guga. Numa atuação digna de Oscar, ficava me mexendo de lá para cá, pulando para frente e para trás, dando a entender que eu ainda era capaz de correr até a Lua".

    Entende-se um pouco do que vai na cabeça do tenista brasileiro. Da preparação antes do jogo ("meu ritual era assim: antecipar a partida na cama, no chuveiro, no sonho") à superstição em quadra ("antes de a bola entrar em jogo, nunca, de jeito nenhum, pisava nas linhas").

    A transformação do surfista amador Gustavo Kuerten no ídolo Guga teve uma mãozinha do Edson.

    Quando deu seu primeiros autógrafos, o tenista optou por assinar "Pelé" para poupar os torcedores de eventual vexame. "Na minha cabeça, via um senhor perguntando ao menino quem era Guga e se esforçando para não rir do filho".

    Há vários relatos divertidos, como o de seu primeiro torneio em Sydney, quando chegou atrasado. "Ninguém tinha me dito que o viajante perde um dia quando vai para aquela banda do mundo", justificou Guga.

    Foi na Austrália que ele conheceu o uniforme amarelo que marcaria o primeiro de seus três títulos em Roland Garros, na França. "Rapaz, me deu uma vergonha! Eu parecia um periquito na muda".

    No livro, sobressai a figura do treinador que o acompanhou desde a adolescência, após a morte do pai. Larri Passos mudou não só o golpe de esquerda do "Cavalo", como se referia ao pupilo. "Ele tinha o que me faltava, o norte da minha bússola", resume o tenista.

    Estão ali também o convívio com o irmão deficiente –e a dificuldade do pai em aceitá-lo–, os perrengues do pouco dinheiro para jogar torneios mundo afora no início da carreira e a frustração com as três operações no quadril que o atrapalharam.

    Entre os muitos momentos de triunfo, é especialmente bom o relato do momento que levou Guga ao topo de sua carreira: número um do ranking mundial, campeão da temporada e do Masters, em 2000.

    Quem o viu brilhar em Lisboa daquela vez não podia saber que ele tinha esquecido os sapatos para a festa de abertura.

    Nem que o glamour do Masters previa vestiários separados para os tenistas, à prova de intimidação –medida que se revelou providencial, pois naquela final Guga encontraria justamente quem um dia o ameaçara com o mau cheiro antes do jogo.

    Quando se cruzaram, já no cumprimento pela vitória, Agassi aconselhou: "Aproveita que passa rápido".

    GUGA, UM BRASILEIRO

    AUTOR Luís Colombini
    QUANTO R$ 39,90 (384 págs.)
    EDITORA Sextante
    AVALIAÇÃO muito bom

    Otávio Dias de Oliveira - 13.jun.1997/Folhapress
    Guga em foto de 1997
    Guga em foto de 1997
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