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    O futebol é terreno fértil para todo tipo de falcatrua, diz Fernando Prass

    DIEGO IWATA LIMA
    DE SÃO PAULO

    19/10/2014 02h00

    "Sem regulamentações sérias, o futebol é o terreno mais fértil que existe para fazer qualquer tipo de falcatrua", afirma Fernando Prass.

    A afirmação do goleiro de 36 anos do Palmeiras, que será titular hoje, contra o Santos, no Pacaembu, está embasada não só em seus 16 anos de carreira, mas também na autoridade que adquiriu como um dos líderes do movimento Bom Senso.

    "É só no futebol, por exemplo, que um empregador que deve milhões para funcionários pode contratar mais gente, prometendo outros milhões, que também não vai pagar, e não acontece nada", afirma o atleta. "Fique devendo para um banco, uma financeira, para ver se eles não vão atrás de você para confiscar seus bens".

    Com opiniões assim, sem rodeios, o jogador chama a atenção pela capacidade de compreensão da política do futebol e dos negócios que giram em torno do esporte.

    Adriano Vizoni/Folhapress
    O goleiro Fernando Prass, do Palmeiras, durante entrevista
    O goleiro Fernando Prass, do Palmeiras, durante entrevista

    Ao mesmo tempo, suas atuações em campo fazem com que a torcida do Palmeiras o idolatre cada vez mais.

    É opinião quase unânime entre os palmeirenses de que a volta de Prass após cinco meses, nos quais ele se recuperou de uma cirurgia no cotovelo direito, foi decisiva para que o time se afastasse da zona de rebaixamento.

    Prass, no entanto, afirma não acreditar que tenha essa relevância toda no processo de recuperação do time que atribuem a ele.

    "Não assumo nem derrotas, nem vitórias sozinho. O grupo cresceu", diz. "É tudo muito recente ainda. O time evoluiu e chega bem para enfrentar o Santos. Mas detalhes podem nos levar para o buraco de novo bem rápido".

    Recente também é a cicatriz decorrente da operação. Segundo Prass, dói como se a lesão estivesse sendo reaberta cada vez que ele encosta o cotovelo em algum lugar ou cai sobre o braço para fazer uma defesa.

    "Cada defesa é quase como uma facada. Mas o que posso fazer? Parar de me atirar na bola?", indaga.

    À Folha, o goleiro comenta o ano difícil do time, a importância de Valdivia para o elenco e duas eleições para presidente –do Brasil e do Palmeiras.

    *

    BASTIDORES DO FUTEBOL

    Prass não se conforma com a leviandade com que dirigentes esportivos cometem desmandos e saem impunemente. "Um presidente vem, quebra o clube e, quando sua gestão acaba, ele vai para a sua casa, para a praia e deixa o problema para o próximo".

    "Sem regulamentações sérias, o futebol é o terreno mais fértil que existe para fazer qualquer tipo de falcatrua", afirma. Ao falar em "regulamentação", refere-se, por exemplo, à necessidade de estabelecer regras para o pagamento de comissões na contratação de jogadores.

    Como um dos líderes do Bom Senso F.C., Prass admite que houve pouca evolução na reestruturação do futebol brasileiro a partir das iniciativas do movimento, mas acha que as conquistas virão e beneficiarão as próximas gerações.

    "Nada foi feito na história. Com um ano de atuação, até que conseguimos avanços. O 'fair play' financeiro não está como queríamos, mas avançou. A questão do calendário de jogos, porém, é um absurdo. Enquanto os clubes só se queixarem quando o time estiver mal, nada vai mudar".

    POLÍTICA NO BRASIL

    Prass diz que não pensa em se envolver com política. "Sei que generalizar é injusto, mas não confio nos políticos", diz. "O sistema é viciado e contrariá-lo é muito perigoso".

    "Programas de governo são sempre ilusórios. As promessas são sempre as mesmas. E a oposição de hoje, quando virar governo, vai receber as mesmas críticas que fazia".

    POLÍTICA NO PALMEIRAS

    O jogador não declara voto, mas entende que Paulo Nobre, atual presidente, deixou o clube mais bem organizado.

    "Acredito que o mandato de dois anos, como é o nosso, é muito curto para se estruturar um clube no Brasil", diz.

    VALDIVIA

    O goleiro tem o chileno como um de seus companheiros mais próximos no grupo e o defende: "Pelo menos 80% do que ouvia sobre ele antes de chegar aqui era mentira".

    "Não participei do processo para defini-lo como capitão, mas vejo que a responsabilidade fez bem a ele", diz.

    "Quando vencemos o Botafogo, ele atravessou o campo para me abraçar e desabafamos. Falamos sobre como era bom ganhar, sobre como não podíamos deixar aquele bom momento passar".

    LANTERNA E GARECA

    "Sei que não temos o melhor time, mas também não temos o pior, não podíamos ser lanternas", afirma.

    Lesionado, Prass não jogou nenhum jogo sob comando do técnico Ricardo Gareca, com quem conversava bastante.

    "Creio que ele seja um grande técnico, mas chegou no meio do ano, sem conhecer o nosso time, muito menos os adversários. Se começasse um trabalho do zero, poderia ter ido bem aqui", diz.

    CRISE DOS GOLEIROS

    "O Fábio [um dos goleiros que o substituiu] enfrentou dias difíceis, mas que farão bem a ele no futuro. Eu já fui o Fábio um dia, tendo a primeira chance num clube grande. Tudo que ele passou fará bem a ele", diz.

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