• Esporte

    Wednesday, 08-May-2024 16:09:35 -03

    Ex-jogador da seleção argentina, Gutiérrez vence luta contra o câncer

    ALEX SABINO
    DE SÃO PAULO

    04/11/2014 02h00

    Quando apareceu na TV, em setembro deste ano, para contar que estava com câncer, a imagem fragilizada do argentino Jonas Gutiérrez, 31, chocou os telespectadores.

    Sem cabelos devido ao tratamento de quimioterapia e com a expressão abatida, não lembrava em nada o jogador esguio apelidado de "galgo", a raça de cães conhecida pela agilidade.

    As celebrações de gols em que colocava uma máscara de super-herói estava no passado. A torcida do time inglês Newcastle não podia mais chamá-lo de Homem Aranha.

    "Fiquei desolado. Como você recebe uma notícias dessas sem ficar mal? É câncer. Comecei a chorar", disse o jogador, que atua como meia e como lateral, à Folha.

    Para a TyC, emissora de Buenos Aires, ele foi mais longe. Revelou ter feito o caminho do centro de treinamento do clube para casa, no norte da Inglaterra, chorando. Escondeu de todos a doença. Voltou para a terra natal e iniciou o tratamento.

    Gutiérrez se refugiou em casa, perto dos amigos mais próximos, familiares e a noiva, a modelo Alejandra Maglietti. Começou a se sentir mais confiante quando terminou a quimioterapia. Liberado para fazer exercícios, passou a correr e a participar de provas de rua, como a maratona de Buenos Aires.

    "Resolvi falar sobre os meus problemas porque não adianta se esconder. O melhor é comentar abertamente", confirmou o jogador.

    Gutiérrez poderia ficar na Inglaterra e realizar o tratamento por lá. Tinha contrato com o Newcastle, que custearia a recuperação. Mas preferiu retornar para a Argentina, mesmo pagando tudo do próprio bolso. "Você fica em uma situação difícil, fragilizado. Deseja estar perto das pessoas que lhe querem bem."

    Recebeu muitas mensagens de solidariedade. Estádios na Inglaterra mostraram frases de apoio para o atleta que chegou ao país em 2008.

    O mesmo aconteceu no seu país natal. A mensagem de Maradona, exibida na TV, o levou às lágrimas:

    "Aqui é o seu técnico. Não queriam que eu te levasse para o Mundial [de 2010]. Eu digo a você que a vida tem dessas coisas. Você é um bom garoto e um grande profissional. Um dia me disse: Eu quero jogar igual a Diego, pelo amor à camisa'. Isso não vou me esquecer nunca", afirmou Maradona, treinador da seleção na Copa da África do Sul, da qual Gutiérrez fez parte.

    Reprodução
    Diego Maradona fala com o meia argentino, jogador do Newcastle, da Inglaterra, Jonas Gutierrez
    Diego Maradona fala com o meia argentino, jogador do Newcastle, da Inglaterra, Jonas Gutierrez

    E continuou: "Hoje em dia, o jogador tem uma dorzinha no tornozelo e não quer tomar injeção para jogar. Você, pela camisa da Argentina, tomou injeções. Vou ligar para o papa e pedir que faça uma oração por você. Desta vez, o Barba (Deus) escolheu mal. Mando-te um beijo enorme e te quero muito bem".

    Gutiérrez comentou as declarações do seu ex-técnico: "Receber uma mensagem dessas de uma pessoa e de um jogador como Diego... O que posso dizer para explicar a importância disso?".

    O MÉDICO CONFIRMOU

    Após um choque com o lateral Sagna, do Arsenal, em maio de 2013, Gutiérrez passou dias com dor no testículo esquerdo. Procurou o médico do clube, que lhe disse não ser nada demais.

    O incômodo não diminuía, e o especialista resolveu pedir um exame de ultrassom. Quando saiu o resultado, ele foi direto ao ponto.

    "Disse que eu tinha um tumor e que deveria operar imediatamente. Queria que fosse no dia seguinte. Perguntei se era câncer. Ele apenas balançou a cabeça, confirmando", lembra o jogador.

    Ele disse que preferia realizar a operação na Argentina, o que aconteceu em seguida. Teve o testículo retirado e começou o tratamento para voltar a jogar.

    No retorno a Newcastle, ficou magoado com o clube que defendia há cinco anos. Estava tentando readquirir a forma física após uma doença delicada, e o técnico Alan Pardew o avisou que não estava nos planos.

    Poderia procurar outro clube.

    Foi então emprestado ao Norwich, da segunda divisão. Contundiu-se e acabou jogando pouco. Quando o campeonato acabou, saiu de férias.

    Em julho deste ano, estava pronto para viajar novamente para a Europa após passar algumas semanas em Las Vegas, quando sentiu dor no fígado. Alarmado, voltou ao médico, que constatou o aparecimento de nódulos. Avisou ao Newcastle que não poderia voltar, pois precisava de quimioterapia.

    "Uma das coisas mais difíceis foi ver meu cabelo cair. Aconselharam que eu cortasse para diminuir o impacto. Mas eu não queria fazer isso. Depois percebi que esse era o menor dos problemas."

    A entrevista com o jogador foi feita no último dia 23 de outubro. Àquela altura ele aguardava uma avaliação médica, que definiria se ele seria submetido a uma radioterapia ou poderia retomar as atividades do esporte.

    De lá pra cá, passaram-se 11 dias. Nesta segunda (3), por volta de 19h, Gutiérrez escreveu no Twitter:

    "Hoje me deram alta médica. Muito obrigado aos que me acompanharam neste momento, especialmente meus pais, meus irmãos, minha madrinha e Alejandra Maglietti [sua noiva]".

    Na semana que vem, ele já deve voltar ao futebol.

    PEDIDO DA MÃE

    Foi Bill Shankly, técnico do Liverpool nos anos 60 e 70, quem disse que "futebol não é uma questão de vida ou morte. É muito mais importante do que isso."

    Os pensamentos do atleta, no entanto, vão muito além do esporte. Uma de suas prioridades é atender ao pedido da sua mãe, Monica: casar. "Há muitas coisas mudando na minha vida. Essa será só uma delas", concorda.

    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024