• Esporte

    Monday, 06-May-2024 09:24:19 -03

    Brasileiro usa jiu-jítsu para tentar aproximar israelenses e árabes

    DIOGO BERCITO
    EM JERUSALÉM

    10/11/2014 02h00

    O caminho para a paz entre árabes e israelenses passa, para o brasileiro Marcos Gorinstein, 35, pela via marcial. Não que eles tenham de sair na porrada. Pelo contrário: o treinador acredita que o contato físico entre ambos durante luta de jiu-jítsu pode ajudá-los a se conhecer e, assim, evitar a violência.

    É esse projeto que o carioca está desenvolvendo em uma escola de Jerusalém, ao ensinar jiu-jítsu para crianças árabes e israelenses, estimulando a interação entre grupos que os extremistas gostariam de ver separados.

    Gorinstein imigrou para Israel em 2010. Ele, que já havia praticado jiu-jítsu no Brasil, passou a treinar em seu novo país e, hoje, representa ali a Academia Gracie Humaitá (www.bjj-israel.com), da popular variante brasileira da modalidade. O projeto de Gorinstein é divulgado no site www.treeoflife-bjj.com.

    Arquivo Pessoal
    O brasileiro Marcos Gorinstein, 35, em Jerusalém, com crianças árabes e israelenses
    O brasileiro Marcos Gorinstein, 35, em Jerusalém, com crianças árabes e israelenses

    À Folha, o brasileiro contou ter imigrado por razões ideológicas, convencido pelo projeto da ida de judeus a Israel. Mas, diante do cenário político, desanimou-se. "Esse não é o Estado judeu que eu quero deixar para os meus filhos", afirmou.

    Israel enfrenta, por exemplo, duras críticas da comunidade internacional pela ocupação da Cisjordânia desde 1967. A violência entre árabes e israelenses tem momentos de ápice, como a guerra recente em Gaza, mas a tensão é constante.

    Gorinstein faz parte de uma linha que busca atenuar essa crise por meio da aproximação das duas partes, com o discurso de que, quando começarem a conversar, ambas perceberão que não são tão diferentes assim.

    Não à toa suas classes de jiu-jítsu, que contam com 20 alunos, são realizadas na escola bilíngue (árabe e hebraico) Hand in Hand, que adota um projeto pedagógico na mesma abordagem, ensinando às crianças as duas narrativas do conflito.

    Gorinstein já havia apresentado a proposta a outras instituições de ensino, sem ter sido recebido com entusiasmo. A decisão de sugerir as aulas para a Hand in Hand veio de quando, passando por sua sede, o brasileiro leu uma faixa que dizia "nós nos recusamos a ser inimigos".

    Uma vez aceito o projeto, Gorinstein demonstrou a prática em uma aula-show e distribuiu panfletos na região. Os alunos judeus vêm de toda a cidade. Os árabes, em geral de bairros próximos à escola, como Beit Safafa.

    "O mais importante é a possibilidade do toque, que não existe nas aulas de matemática ou de geografia", disse. "Quando você entende a sua força e a força do outro, passa a agir de outra maneira."

    O jiu-jítsu tem crescido em Israel a partir do sucesso do MMA. Há diversas filiais da Academia Gracie Humaitá espalhadas pelo país. O fenômeno se repete no restante do Oriente Médio. Na Jordânia, Zaid Mirza foi recentemente incumbido pelo rei Abdullah 2º a treinar o exército e a polícia no jiu-jítsu brasileiro, que ele havia aprendido quando viveu no Brasil.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024