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    Zagueiro são-paulino quer voltar campeão ao interior de PE

    RAFAEL VALENTE
    DE SÃO PAULO

    16/11/2014 02h00

    Ricardo Nogueira/Folhapress
    Edson Silva durante treino do São Paulo
    Edson Silva durante treino do São Paulo

    Até agosto o zagueiro Edson Silva, 28, havia feito apenas três jogos na temporada pelo São Paulo. Praticamente última opção, não foram poucas às vezes que ouviu seu nome fora do Morumbi.

    Tudo mudou em agosto, quando foi escolhido por Muricy Ramalho para substituir o lesionado Antonio Carlos. E dizer que tudo mudou não é um exagero neste caso.

    O zagueiro natural de Santa Tereza, povoado com pouco mais de quatro mil habitantes no interior de Pernambuco, passou a ser o homem de confiança do técnico.

    Virou símbolo de raça, passou a ter o nome gritado no estádio e até recebeu a faixa de capitão de Rogério Ceni no último domingo (9), contra o Vitória, em Salvador.

    Hoje, diante do Palmeiras, vai completar a 30ª partida pelo São Paulo em 2014 e com isso vai bater uma marca pessoal: a de mais jogos no mesmo ano desde que chegou ao clube, no início de 2012.

    "Todo atleta passa por momentos difíceis. É aí que a cabeça do jogador é colocada a prova. Não adianta fazer loucura. Se estressar, treinar com raiva ou desrespeitar os companheiros. Uma hora surge sua oportunidade e você tem de estar pronto, fisicamente e mentalmente, para aproveitar", explica Edson Silva.

    O zagueiro admitiu à Folha que a falta de oportunidades o deixou triste, embora seja conhecido no elenco por ser um cara brincalhão. Afirmou também que nunca desistiu. Buscou provar para Muricy durante os treinos que ainda poderia ser utilizado.

    Desde que entrou, perdeu só um dos 26 jogos do time, quando cumpriu suspensão por cartão amarelo contra o Atlético-PR, em 8 de outubro. Ciente de que não é infalível, o zagueiro usa muita a bagagem que adquiriu antes de chegar ao Morumbi.

    "Sempre respeitei o momento de um companheiro. A calma adquiri. Enfrentei adversidades até chegar ao São Paulo. Por isso, mesmo triste por não ser relacionado, não trazia isso para o treino. Procuro não trazer nada que prejudique o grupo. As experiências que tive na minha carreira me ajudam hoje a fazer um bom papel no São Paulo."

    ZAGUEIRO FAMÍLIA

    Quando criança, Edson Silva adorava jogar peladas em Santa Tereza. Às vezes, gastava um dia jogando. Costumava até gazear -expressão usada por ele- aulas para ir aos campinhos de terra.

    Confiante, dizia a Eduardo, um ano mais novo e um dos cinco irmãos que tem, seus sonhos. "Dizia que ia ser jogador e que ele iria me ver num grande clube do país."

    O irmão respondia com gozação. "Vai nada. Não vai passar disso. Vai ficar nisso", dizia, aos risos. Hoje, a história é uma das lembranças favoritas de Edson Silva.

    Sempre que retorna à terra natal, não deixa Eduardo esquecer a brincadeira. "Esse ano espero voltar e falar pra ele: 'fui campeão brasileiro e agora?'", diz, aos risos. Aliás, reunir as pessoas da cidade em casa e contar histórias é o que mais gosta de fazer. Esse ano, se o time for campeão, nem imagina como pode ser a recepção local.

    "Vish... o povoado de quatro mil habitantes vai parar. Quero só ver. Mas eu tenho consciência de que o título está difícil, o Cruzeiro está muito bem e com muita vantagem. Mas enquanto o São Paulo tiver chance eu e meus companheiros acreditamos. Vamos lutar até o final."

    A brincadeira com Eduardo, irmão que admite ser mais próximo, e a relação com a cidade expõe o lado familiar de Edson Silva. Aos 11 anos, o hoje zagueiro são-paulino perdeu o pai. Foi criado pela mãe e pelos avós.

    O avó Antônio, aliás, é com quem dividia a paixão pelo futebol. "A gente assistia todos os jogos possíveis. Na Copa de 2002, na Coreia do Sul e no Japão, a gente acordava de madrugada para ver o Brasil, que tinha o Kaká. Hoje jogo com ele. Que coisa", diz.

    O sonho de Edson Silva passou a virar realidade ao ser aprovado em uma peneira em Palmares, a maior cidade da região. Jogou bem no time sub-17 da cidade. Depois, chamou a atenção do Corinthians-AL, que o contratou. Sua história no futebol começou assim. Mas antes de chegar ao São Paulo passou por CRB, Botafogo, Fortaleza, Figueirense, entre outros.

    Mesmo tendo rodado tanto, o zagueiro, que está casado há seis anos e tem um filho de cinco anos, volta todos os anos para Santa Tereza.

    Na cidade mantém a rotina de receber os vizinhos, curtir os familiares e falar de futebol com o avó. "Ele me chama de filho e eu o chamo de pai. Ele assiste todos os meus jogos, só não pode me cornetar", brinca o zagueiro, que espera ser campeão para dedicar a taça ao avó.

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