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    Saiba quem são e o que pensam os candidatos a presidente do Santos

    RAFAEL REIS
    DE SÃO PAULO

    05/12/2014 02h00

    Como contornar a crise econômica? O que fazer com Leandro Damião? Jogar em São Paulo ou em Santos? Encerrar as investigações sobre a venda de Neymar para o Barcelona? Reformar a Vila Belmiro ou construir um novo estádio.

    São várias as questões que o novo presidente do Santos terá de encarar.

    O sucessor de Odílio Rodrigues no comando do clube será escolhido neste sábado (6), em eleição aberta para mais de 19 sócios.

    A Folha apresenta os cinco candidatos e mostra o que eles pensam sobre os assuntos de maior interesse entre os santistas.

    Quem são?

    Fernando Silva, 58, é empresário e foi superintendente de futebol do clube entre 2010 e 2011.

    José Carlos Peres, 66, é economista e diretor executivo do G4 Aliança Paulista, empresa criada para integrar os quatro maiores clubes de São Paulo.

    Modesto Roma Jr., 62, é jornalista, filho de um presidente do Santos nos anos 1970, tem o apoio de Marcelo Teixeira, mandatário entre os anos de 2000 e 2009, e acumula vários cargos no clube, entre eles, vice de comunicação.

    Nabil Khaznadar, 54, é empresário, economista e o candidato mais alinhado à situação.

    Orlando Rollo, 36, ex-líder da organizada "Torcida Jovem", é servidor público estadual.

    O que pensam?

    1 - Por que o senhor se considera o melhor nome para ser o próximo presidente do Santos?

    Silva - O Santos vive um momento que não permite ter em seu comando alguém que não saiba dirigir um clube e que não conheça de futebol, caso dos nossos adversários. As soluções precisam ser imediatas e nós temos a experiência de administrar em situação delicada como a atual. Em 2010, pegamos uma clube devastado após uma década nas mãos de Marcelo Teixeira, que quer voltar ao poder por meio do Modesto Roma. Naqueles dois anos, reorganizamos o clube financeiramente, equacionamos as dívidas, aumentamos as receitas e formamos a equipe campeã da Libertadores, da Copa do Brasil e do Tri-Paulista. Já fizemos uma vez e faremos novamente. Somos os únicos capazes de impedir a volta daqueles que destruíram o Santos e transformaram o clube em uma ditadura.

    Peres - Não me considero melhor do que ninguém. Considero-me, juntamente com minha equipe, como o mais preparado para tirar o clube desse atoleiro no qual se meteu. Minha experiência no mundo corporativo, no futebol, com dirigentes de clubes, com dirigentes de Federações e Confederações me habilitam para postular esse cargo de grande relevância, Estou preparado para esse desafio.

    Roma - Nasci, vivo e vou morrer Santos FC. Sou de uma família que tem nas veias o sangue alvinegro. Meu pai foi diretor e presidente do Santos FC na época de Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé. Tenho experiência para tirar o glorioso Santos FC desta situação. Atendi um chamado de santistas ilustres que me conhecem e sabem da minha capacidade e amor pelo alvinegro mais famoso do mundo. Fiz questão de anunciar minha equipe, meus homens de confiança, que, assim como eu, são santistas de alma e coração. Tudo o que o clube precisa para este momento. Por tudo isso e pelo associado, torcedor, me coloco à disposição para servir ao Santos FC e não me servir do Santos FC.

    Khaznadar - Em primeiro lugar, tenho uma paixão enorme pelo Santos, paixão que vem desde que ainda menino vi jogar este time de branco, com um Rei no comando, estraçalhar o Corinthians no Morumbi. Depois, tenho experiência empresarial adquirida como empreendedor, em atividades desenvolvidas desde a minha adolescência. Trouxe a Hugo Boss, Puma, Ralph Lauren e Original Penguin para o Brasil, entre outras marcas. Acredito que o clube avançou nos últimos anos, mas precisa avançar muito mais. Apesar das falhas cometidas, alguns pilares importantes foram construídos, dentro de valores corretos. Faltou uma execução melhor, mas isso não significa devolver o Peixe às mesmas mãos que quase o levaram à falência e à queda para a segunda divisão. Ao invés de olhar o passado, temos que continuar visando o futuro. Fui eleito conselheiro pela primeira vez em 1997 e, depois de acompanhar de perto a trajetória do clube nesses anos todos, sinto que chegou a hora de dar mais ao Santos. Vamos unir toda a nossa experiência para fazer o clube caminhar na direção correta. Nós do "Avança, Santos!" sonhamos grande: queremos revolucionar o futebol brasileiro e sabemos que o Santos é o clube que pode fazer isso. É o clube que pode protagonizar essa revolução, assim como a partir da década de 1950 levou a nossa seleção ao topo. Por isso, sou candidato à presidência do Santos, ao lado do vice Carlos Fonseca Filho.

    Rollo - Sou o mais experiente e mais bem preparado. Sou conselheiro há seis mandatos, fui Vice- Presidente da Federação Paulista de Futebol. Fui o mais jovem conselheiro eleito no clube, fui presidente interino do Conselho Deliberativo

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    Fernando Silva, candidato a presidente do Santos
    Fernando Silva, candidato a presidente do Santos

    2 - O que o senhor pretende fazer a respeito do comitê gestor? É preciso modificá-lo? É possível acabar com ele?

    Silva - O Comitê de Gestão foi criado para impedir gestões autoritárias como a da era Marcelo Teixeira, mas precisa ser modificado em sua forma de atuar. Quando foi criado, o conceito era que funcionasse como o Conselho Administrativo de uma empresa, com participação em assuntos estratégicos. O atual CG têm ingerência em decisões de menor relevância, algo que não acontecerá em nosso governo.

    Peres - Pretendo propor a sua extinção. O Comitê Gestor mostrou-se um grande equívoco, que engessou a vida do Santos FC. Não é possível e nem compreensível que o sócio vote em dois visíveis e eleja 7 invisíveis. As decisões desse Comitê, com todo o respeito das opiniões contrárias, não são naturais. Essa invenção da atual gestão mostrou-se ineficiente e, dessa forma, deve ser revista. Pretendo formar um Conselho de Administração já no meu mandato, que se ocupará de questões estratégicas, de planejamento financeiro, não se imiscuindo no dia a dia do clube, contratação de atletas, demissão de pessoal, etc.

    Roma - O Comitê de Gestão foi criado por um grupo de empresários que não tinham confiança no presidente do clube. Empresários que colocariam dinheiro no clube. Entendo que isso engessou o Santos FC. Engessou as decisões mais banais como a retirada de um prego da parede, por exemplo.
    Minha ideia é criar um Conselho de Administração, onde o regime voltará a ser presidencialista. Não podemos deixar as decisões de um clube do tamanho do Santos FC nas mãos de 9 pessoas que muitas vezes não entendem as necessidades, as carências e a agilidade que é preciso para tomar decisões coerentes. Essa é minha ideia e vou coloca-la ao Conselho Deliberativo para que possamos alterar o estatuto. Os meus nomes para o Conselho de Administração já estão escolhidos para os sócios analisarem. Inclusive fui o único a fazer isso.
    Osvaldo Nico Gonçalves, Paulo Roberto Dias, José Renato Quaresma, Rodrigo Marino, Gastone Righi, Jorge Correia da Costa e José Macedo Reis. Peço que o sócio analise, pesquise cada nome. São todos santistas que não dependem do clube para viver. Amam o clube. Eu e meu candidato a vice-presidente, o médico cardiologista César Augusto Conforti, escolhemos muito bem. Peço que o associado pesquise de verdade. Não temos nada a esconder.

    Khaznadar - Somos favoráveis ao Comitê de Gestão. O problema principal é como o comitê é gerido hoje, diluindo as responsabilidades. Ou todos estão certos ou todos estão errados. Isso não funciona. Tem que ter um responsável para cada área, que será cobrado por ela. Cada integrante vai ser responsável por um setor e será cobrado por isso. Vou delegar missões, estabelecer metas e exigir resultados. O critério de escolha desses sete gestores será a meritocracia. Um dos sete nomes é o publicitário Celso Loducca, que será responsável pelo marketing. Aliás, o estatuto que contempla o comitê é fruto de votação e desejo soberano do sócio, por isso não é possível acabar com o Comitê, como alardeiam outros candidatos.

    Rollo - Pretendo propor a extinção do comitê gestor por meio de reforma estatutária, seguindo todos os trâmites necessários e de maneira democrática. O Comitê Gestor não se presta à administração do futebol, que exige decisões imediatas.

    3 - Na sua opinião, o Santos deve atuar exclusivamente em Santos ou mandar jogos também em São Paulo? E como deve ser a relação entre as partidas nessas duas cidades?

    Silva - Nosso projeto é equilibrar os mandos entre as duas praças. As datas em que os jogos acontecerão em cada estádio serão informadas com bastante antecedência, o que permitirá que o santista se programe com tranquilidade.

    Peres - O Santos FC deve mandar seus jogos em Santos, na Capital e onde houver possibilidade de rendas maiores. Há candidatos que defendem mandos de jogos somente em Santos e creio que isso é um erro estratégico que não tem volta. Se o clube decidir mandar todos os seus jogos em Santos, vai se apequenar. O Santos FC é de Santos e do mundo. Uma marca valiosa internacionalmente não pode se conformar com públicos de 5.000 torcedores. O torcedor do Santos será valorizado e respeitado e os mandos de jogos serão objeto de análise e deliberação no princípio de cada campeonato, com planejamento e gestão, visando o máximo de renda e público.

    Roma - A torcida do Santos FC não é exclusiva da cidade de Santos. Ela é do Brasil, do Mundo! A Vila Belmiro é e sempre será nossa casa assim como o Pacaembu, o Maracanã, as arenas da copa do mundo, enfim, onde estiver o torcedor do alvinegro mais famoso do mundo time do Santos FC estará. Tudo pe questão de planejamento. Marketing, futebol profissional, administração. O time do Santos FC vai jogar na Vila Belmiro e quando jogar na Capital (SP) ou em outro estádio tem por obrigação respeitar os direitos dos sócios e donos de cadeiras na Vila Belmiro. Respeito e planejamento eficiente vão nos levar para todos os cantos do Brasil pois o torcedor do Santos FC está em todo lugar.

    Khaznadar - O Pacaembu é nossa segunda casa, já que possuímos enorme torcida na capital. O importante é o clube fazer um planejamento no início do ano, para que o torcedor saiba com antecedência onde os jogos acontecerão. Dessa forma, eles poderão se programar para assistir aos jogos e teremos tempo para promover o espetáculo. Essa é uma das ações que estão inseridas em nosso projeto "Match Day". 

    Rollo - A casa do Santos FC é a Vila Belmiro porém pretendemos mandar jogos pontuais e estratégicos em outros lugares, inclusive em São Paulo. Temos muitos torcedores fora da cidade de Santos, que merecem ser prestigiados. Nossa preferência na cidade de São Paulo é pelo Pacaembu.

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    José Carlos Peres, candidato a presidente do Santos
    José Carlos Peres, candidato a presidente do Santos

    4 - O senhor é a favor da reforma da Vila Belmiro ou da construção de um novo estádio?

    Silva - Não podemos ficar atrás dos nossos adversários. Temos de decidir em um curto espaço de tempo qual será o caminho, mas precisamos ver a real situação do clube e ouvir torcedores e poder público. Já possuímos um estudo que aponta as vantagens e desvantagens das duas opções e teremos uma definição em seis meses de gestão.

    Peres - Essa discussão será tratado no momento oportuno, envolvendo toda a comunidade do clube (conselheiros, sócios, torcedores). Hoje o crucial, na verdade vital, é aumentar os públicos nos estádios, promovendo uma ampla ação de associação, mudando os paradigmas de tratamento de sócios, oferecendo espetáculos sefuros, confortáveis, compras de ingressos e facilidades num portal decente, eliminando todos os problemas dos sócios para assistir um jogo de futebol.

    Roma - Não podemos iludir o sócio com promessas eleitoreiras. O Santos FC perdeu o bonde da história. Enquanto os rivais construíam arenas nós paramos no tempo e justo em um momento histórico para nós, brasileiros, a Copa do Mundo. Agora, com a atual situação financeira, não podemos iludir o sócio e o torcedor sobre isso e, claro, falar de investidores no Santos FC hoje é complicado, pelas experiências dos últimos 5 anos.
    Temos que nos reestruturar financeiramente. Temos que conhecer a atual situação financeira do clube para depois partir para opções que possam nos levar uma arena, com inteligência e pensando no bem do clube, dos sócios e torcedores.
    Reformar a Vila Belmiro? Não! Precisamos modernizá-la! Ampliando sua capacidade e transformando o templo sagrado do futebol, a casa do Rei Pelé, em um estádio com opções de se passar o dia com a família não só apenas em jogos e sim quando o associado e o torcedor quiser.

    Khaznadar - A Vila Belmiro é nossa casa. Trazer o torcedor de volta para a Vila Belmiro é um dos nossos objetivos. Temos que melhorar a infraestrutura para acolher o torcedor e criar benefícios que o incentivem a acompanhar o time. A Vila Belmiro precisa ser reformada e modernizada, o torcedor merece mais conforto e serviços de qualidade. Esta reforma está prevista nas nossas propostas e é uma das prioridades. Aliás, em 2016 será celebrado o centenário da Vila e desde já estamos preparando um programa comemorativo à altura da data, para iniciar as comemorações em outubro de 2015, quando a Vila faz 99 anos. No caso específico de novas arenas, Santos merece uma arena a sua altura, não podemos ficar para trás já que todos os grandes times construíram as suas. Quero ser o presidente que vai assinar este contrato para erguer a nova Arena para o Santos. Temos três terrenos na Baixada Santista que oferecem uma boa opção de negociação para a construção de uma arena pela iniciativa privada. Mas como todos sabem, um estádio não fica pronto do dia para a noite, por isso vamos ouvir, você torcedor, para entender quais as melhorias que devemos fazer na Vila Belmiro para atrair mais público e paralelamente negociar com o Pacaembu uma forma de jogarmos mais na cidade, onde se concentra a maior parte da nossa torcida.

    Rollo - Uma de nossas principais propostas é a de reforma e modernização da Vila Belmiro. É um estádio bem localizado na cidade, é um patrimônio do futebol mundial, não há que se falar na construção de um novo estádio. A reforma da Vila é totalmente viável, o Santos FC precisa de um estádio moderno, não pode ficar atrás de outros clubes.

    5 - A venda do Neymar provocou muita polêmica e investigações internas. O que o senhor pretende fazer em relação a esse assunto? Ele já terminou?

    Silva - A imagem do Neymar precisa ser respeitada, afinal ele é nosso ídolo, deve ser tratado como tal, e não tem culpa das atitudes tomadas por seus representantes. No aspecto financeiro, a atual gestão afirma que já tomou todas as medidas necessárias. Mas ninguém se preocupou com o torcedor que foi ao Japão e não sabia que seu ídolo já estava fechado com o adversário. Não podemos admitir o que o Barcelona fez e entraremos com uma representação na FIFA.

    Peres - A venda em si depende de uma séria auditoria interna, de contratos, de autorizações, de responsabilidades, que não nos furtaremos a fazer, para que o sócio saiba exatamente o que aconteceu e se o clube foi lesado. Se foi lesado, os responsáveis serão acionados. Em relação à postura do Barcelona nesse negócio, avaliamos a possibilidade de acionar o clube na FIFA por aliciamento. Mas isso depende de uma análise criteriosa de documentos, para não entrarmos numa aventura sem volta.

    Roma - Quem deve explicação ao sócio e torcedor sobre esse assunto é a atual diretoria e os que estavam nela e que hoje se dizem oposição. Temos concorrendo ao cargo de presidente pessoas que ocupavam lugares de destaque na gestão Luis Alvaro/ Odilio Rodrigues. Inclusive sou o único que não tem ligação com este caso por ser o único candidato de oposição. Afirmo ao sócio e ao torcedor do Santos FC que vou tirar esqueletos do armário. Claro que este caso não terminou. Mas quero saber como começou tudo isso.

    Khaznadar - A justiça espanhola já deu perda para o Santos em qualquer sentido de ressarcimento. Esse assunto foi encerrado segundo o presidente Odílio, não tem mais instância, não tem mais o que fazer. O advogado acabou voltando, então para o Santos o caso está encerrado. No entanto, o que for preciso para cuidar do Santos Futebol Clube, independentemente do que aconteça, vai ser feito. Com relação a tal negociação, acho que houve dois erros. Quando foi renovado, a duração do contrato foi reduzida de 2015 para 2014. Simplesmente deixamos de tê-lo na Copa do Mundo. Sabíamos e tínhamos certeza que poderíamos vendê-lo por um valor muito maior. O segundo erro foi aquela carta dada ao pai do jogador. A partir desse momento, a culpa é puramente da gestão e de quem fez isso na época. A gente vai tentar resolver da melhor maneira possível para o Santos.

    Rollo - Estive em Barcelona para averiguar essa negociação obscura. Ainda há muito a ser analisado nessa questão, mas já protocolei oficialmente junto ao Conselho Deliberativo do clube a documentação que me foi entregue na Espanha e um pedido de explicações. O Santos FC não pode ficar prejudicado.

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    Modesto Roma Jr., candidato a presidente do Santos
    Modesto Roma Jr., candidato a presidente do Santos

    6 - Leandro Damião foi uma contratação cara e que, na opinião quase unânime dos santistas, não deu certo. O que o senhor pensa em relação a ele?

    Silva - Não podemos destruir os nossos ativos. Precisamos passar confiança ao Leandro Damião. Ele não é o causador da negociação esdrúxula que o trouxe ao Santos. Quem tem que responsabilidade é contratou um jogador por valor muito acima do mercado, gerou uma dívida absurda ao clube e nem realizou um exame médico decente.

    Peres - Leandro Damião é patrimônio do clube. O torcedor pode reclamar, a Torcida Organizada pode reclamar, mas é uma irresponsabilidade sem tamanho ouvir tais reclamações de postulantes ao cargo de presidente do clube. Uma coisa é o negócio, e esse já foi feito. Se foi uma negociação prejudicial e temerária, temos mecanismos para responsabilizar. Outra coisa é a realidade: o jogador é nosso e deve ser valorizado, quer seja para recuperar seu bom futebol, quer seja para ser negociado. O presidente de um clube, ou o postulante ao cargo, não pode ser irresponsável e manifestar-se como torcedor de arquibancada, O cargo exige mais responsabilidade.

    Roma - A maior fonte de arrecadação de um clube de futebol é a televisão. Nunca um administrador pode comprometer metade desta arrecadação com a contratação de um único atleta. Ai você me diz: Mas a Doyen (grupo de investidores que emprestou dinheiro ao Santos FC para a compra dos direitos de Leandro Damião) pagou pelo Damião. Tudo bem, mas esta conta o clube tem que pagar. E é uma conta cara, com juros em euros, 10% ao ano. Não tenho nada contra o Leandro Damião. Quero conversar com ele. Vamos analisa-lo. Não sou de fazer propostas eleitoreiras e tenho respeito com os profissionais.

    Khaznadar - Hoje, nove meses depois da contratação, muita gente que gostou na época está falando mal. O caso do Leandro Damião é como o do Lucas Lima, um contrato diferente, que ainda não pagamos, e que está no começo da passagem ainda. Veja o Montillo. Quando ele chegou havia muita expectativa sobre ele, tínhamos perdido o Ganso, o Neymar estava sozinho... Não desembolsamos um tostão pelo Damião até agora e, como o Montillo, ele pode reverter a má fase. Acho que está faltando um bom papo, ele é um cara de grupo, muito querido pelos companheiros. Está faltando calma, tranquilidade para ele ter sucesso, como teve o Montillo, que deu lucro ao Santos. Ele tem contrato de cinco anos e só vamos começar a pagar daqui a três. Ele pode virar a partir de amanhã. No jogo com o Botafogo, por exemplo, ele já fez dois gols. Quanto ao Doyen, se a parceria for boa para o Santos Futebol Clube eu faria o negócio. Não estou falando que contraria o Leandro Damião. Estou falando do tipo de investimento, sobre começar a pagar só depois de três anos. É um risco que todo mundo tem. O Corinthians não teve com o Pato? Mas, diferentemente de nós, eles pagaram pelo Pato, tiraram do fluxo de caixa. A gente não! Como gestor, não achei essa parceria ruim.

    Rollo - Foi um ótimo negócio para o atleta e ruim para o clube. Vamos analisar minuciosamente o contrato do jogador, que é cheio de cláusulas sigilosas, e assim decidir qual a melhor medida a se tomar.

    7 - Na sua opinião, como deve ser a relação entre o clube e as torcidas organizadas? O senhor pretende dar algum incentivo a elas?

    Silva - Não haverá incentivo exclusivo a nenhuma torcida organizada. A relação tem que ser de respeito com todas, desde que elas saibam seu limite de atuação. Os benefícios que ofereceremos serão destinados aos assíduos frequentadores dos jogos e que sejam participantes do Sócio-Rei. Em nossa gestão, o Santista de Carteirinha não pagará pelo ingresso.

    Peres - As torcidas organizadas são uma manifestação cultural do país e assim devem ser encaradas. O respeito é uma via de mão dupla. Sentaremos com as torcidas e explicaremos nossos projetos. Elas precisam se reinventar e precisam se adequar ao que os poderes públicos e a sociadade esperam delas: apoio ao clube, mas sem atos de violência. Ajudaremos as torcidas organizadas a se reinventarem, encontrarem seu espaço e auferir suas receitas. Isso não passa por subvenção ou financiamento de suas atividades. Passa por uma contrapartida de respeito e consideração mútuas. Ajudaremos as torcidas organizadas a se reinventarem, repito, encontrando fontes de receita legítimas e contrapartidas de apoio em atividades sociais e culturais.

    Roma - Deve ser a melhor possível. O torcedor uniformizado ele viaja com a equipe em qualquer momento. Estou falando de torcedores uniformizados e não de bandidos. Quero manter sempre um bom relacionamento com os que amam o clube. Tenho como meta trazer o sócio das uniformizadas para a filiação no clube. Assim saberemos com quem conversar e de quem cobrar. Meu relacionamento com os santistas em geral será sempre aberto e sincero.

    Khaznadar - Fui membro da Torcida Jovem em 1974, quando tinha 24 anos, e viajei o Brasil afora com amigos da torcida. Eles estão no estádio nos bons e maus momentos, têm o meu respeito, mas não podem prejudicar o clube em nenhum momento. Nem eles nem ninguém. Meu compromisso é com todos os torcedores do time, organizados ou não. Nenhuma pessoa, nada, está acima do Santos Futebol Clube.

    Rollo - As torcidas são importantes, elas que fazem o espetáculo nas partidas. Clube e torcida devem conversar, porém as torcidas devem ser autossustentáveis, independentes. Pretendo estabelecer o diálogo entre o clube e as torcidas.

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    Nabil Khaznadar, candidato a presidente do Santos
    Nabil Khaznadar, candidato a presidente do Santos

    8 - O Santos vive uma grave crise econômica. Que medidas o senhor pretende tomar para melhorar as finanças do clube?

    Silva - Quando assumimos em 2010, a situação financeira era quase tão ruim quanto agora. Uma das nossas primeiras ações na presidência será abrir renegociação com os principais credores, no intuito de alongar o perfil das dívidas. E isso é possível. Em paralelo, iniciaremos nosso plano de ampliação de receitas e a criação de novos canais de captação. O patrocínio máster que conseguimos logo que entramos, há cinco anos, por exemplo, era três vezes maior do que o que havia na administração do Marcelo Teixeira. Não podemos deixar que o Modesto Roma e sua turma volte com sua mentalidade de time pequeno.

    Peres - Não ha mágica. Muito trabalho e competência no gerenciamento da crise. Enxugamento de despesas de custeio, alongamento do perfil da dívida, incremento de receitas até então desprezadas pela atual direção, especialmente no marketing e licenciamentos, e uma política de responsabilidade orçamentária rígida.

    Roma - Tenho na minha equipe profissionais especialistas em gerenciamento de crise. Vamos pagar todas as dívidas. Ninguém ficará sem receber. Mas temos que tomar conhecimento dos números reais desta dívida. Se o Santos FC deve 400, 300, 100 milhões. Para melhorar as finanças temos que apostar no espetáculo dentro e fora de campo. Criarmos alternativas de marketing, todas planejadas. Temos os melhores produtos e uma marca incrível que é o Santos FC. Só não podemos ficar acomodados. Estamos assumindo este compromisso a pedido de santistas ilustres e porque temos condições de reerguer nosso glorioso Santos FC.

    Khaznadar - Não há mágica, vamos investir em marketing para ter mais receitas e não gastar mais do que entrar. Também vamos sentar com os credores e renegociar as dívidas. Temos que honrar os pagamentos, contratos e dívidas. Os outros times estão bem piores que o Santos e se a situação estivesse tão ruim não teríamos cinco chapas disputando a presidência. É preocupante essa visão muito pessimista sobre o Santos que vemos nos adversários. O Santos Futebol Clube conquistou grandes títulos, como o tricampeonato paulista, a inédita Copa do Brasil, a terceira Libertadores. Os times comandados por Neymar resgataram a autoestima do torcedor santista e voltaram a ser referências mundiais de futebol bem jogado. A instituição também avançou, com o novo Estatuto Social, que abriu o Conselho Deliberativo para a participação de todas as correntes políticas, de forma saudável e democrática. 

    Rollo - Vamos equalizar as dívidas, equilibrar o balanço e priorizar o pagamento dos salários. O clube tem um faturamento anual de quase 200 milhões, não falta dinheiro, falta uma boa gestão desse dinheiro. Administrando bem esse faturamento é possível gerir o clube, sem crises.

    9 - O que é mais importante para o Santos neste momento: ter um time capaz de ganhar títulos imediatamente ou organizar a casa, colocar as contas em dia?

    Silva - Quando você administra um clube gigante como o Santos FC, é preciso compreender que esses dois pontos precisam ser trabalhados paralelamente. Como disse anteriormente, já provamos uma vez que é possível organizar a casa e montar um time vencedor. Ao contrário dos nossos adversários, possuímos experiência e resultados que nos credenciam a resolver esse problema.

    Peres - As duas coisas são importantes e concomitantes. Uma reflete na outra. Um time competitivo gera mais receita. E contas em dia ajudam a montar times competitivos. Atacaremos as duas frentes, e para isso contaremos com parceiros fortes para reforçar o time, e gente competente para reduzir gastos e alongar o perfil de nossa dívida.

    Roma - Uma coisa leva a outra. A padaria está em crise mas não posso piorar a qualidade do pão! Arrumaremos a "casa" e vamos recorrer à base para montar um time equilibrado e no caminho das vitórias. Historicamente as categorias de base sempre que solicitadas atenderam nossas expectativas. Foi assim na época do Pelé, quando Pelé parou, na primeira geração dos Meninos da Vila em 1978, na segunda, em 2002, na terceira, em 2009, e assim será. Isso é uma marca do Santos FC.

    Khaznadar - Qual país, empresa e clube não está enfrentando uma crise? Enfrento águas turvas diariamente como gestor há 35 anos, é o que sei fazer melhor. E um time forte será consequência direta de uma gestão profissional, honesta e transparente. Vamos tratar o clube como uma empresa, buscar novas receitas para que o Santos avance e tenha um crescimento sustentável e conquiste títulos. Para isso é fundamental a excelência na execução dos projetos, investindo na categoria de base e promovendo maior interação com os torcedores. Vamos levar em conta também a relação receita e despesa coerente com o cenário econômico; profissionalização da gestão do clube; nova política e procedimentos para contratação de jogadores e profissionais da comissão técnica. Estamos no jogo com propostas inovadoras para tornar o Santos protagonista do novo futebol brasileiro. Hoje o Santos tem uma dívida de R$ 80 milhões e ela precisa ser paga. E vamos buscar receitas para honrá-la. Além disso, diferentemente dos outros grandes clubes de São Paulo, o Santos não antecipou as cotas de transmissão dos jogos do Campeonato Brasileiro de 2016. Decisão essa fruto do Estatuto moderno com Conselho de Gestão (que torna as decisões colegiadas) e que prevê que as antecipações de cotas têm que ser aprovadas pelo Conselho Deliberativo.

    Rollo - Os dois tem a mesma importância neste momento. Precisamos de um time capaz de ganhar títulos, que atraia o torcedor e o incentive à compra de produtos, que atraia novos investimentos de parceiros e patrocinadores. E como dito antes, é preciso uma boa gestão do dinheiro do clube, para que se atinjam todos os objetivos e o Santos FC volte a ocupar seu lugar.

    Jorge Araujo/Folhapress
    Orlando Rollo, candidato a presidente do Santos
    Orlando Rollo, candidato a presidente do Santos

    10 - Como o senhor imagina o Santos dentro de campo em 2015? Com o técnico Enderson Moreira, com Robinho, com mais medalhões ou mais garotos das categorias de base?

    Silva - Gosto do perfil do Enderson, mas só tomaremos uma decisão após conversas diretas com ele. Nosso plano é manter o Robinho, realizar mais duas ou três contrações do mesmo nível, utilizar os bons valores do elenco e completar com atletas formados em casa.

    Peres - Imagino um time forte, independente de nomes. Robinho é prioridade. Não pretendemos que ele renove por mais um ano. Pretendemos que ele se aposente no clube. O técnico será aquele que se ajustar à nossa filosofia de trabalho. É até uma indelicadeza falar diretamente do técnico que tem contrato com o clube. Caso eleito, e depois de indicar o responsável pelo futebol, conversaremos com todos da comissão técnica para expor nossas filosofia e para ouvir de cada profissional sua visão. Aproveitaremos quem estiver alinhado com nossa concepção do futebol. Não faz parte da índole da minha chapa a caça às bruxas. Queremos um Santos forte e competitivo.

    Roma - Uma equipe equilibrada. Com atletas da base e os experientes que estão ou podem chegar ao elenco. Um time com a alma da torcida! Com a vontade do torcedor! Robinho? Por mim ele se aposenta no Santos FC, na casa dele. Quero o Robinho em 2015, 2016 e até onde ele aguentar. Sobre o Enderson Moreira, não sei. Não o conheço. Não seria leviano de dizer aqui que o demitiria. Preciso respeitar e conhecer mais os profissionais que trabalham no Santos FC. É preciso se encaixar na filosofia de trabalhar com garotos e experientes e tornar a equipe vencedora. O treinador precisa se adaptar ao clube e não o clube ao técnico. Por isso vamos avaliar todos do futebol e, a partir daí, traçarmos nossas metas e objetivos.

    Khaznadar - Os contratos em vigor precisam ser respeitados. Mas é claro que precisamos entender se os profissionais envolvidos querem continuar. A relação é de mão dupla. Só não queremos mais do mesmo. Futebol inclui muita coisa além de bons atletas e profissionais. Nem sempre um time de craques é campeão, é mais ou menos como uma orquestra. Também não vamos trazer jogador mediano para compor elenco apenas. Isso é sinônimo de prejuízo e problema. Queremos atletas que venham para resolver. E, claro, vamos priorizar a base, que sempre nos trouxe gratas surpresas. Além disso vamos criar uma célula de inteligência de pessoas que são ligadas 24 horas por dia no futebol. Temos pessoas assim dentro do Santos e elas ajudarão o membro do Comitê de Gestão responsável pelo futebol. Quatro ou cinco torcedores, alguns membros do Conselho Deliberativo, farão parte dessa célula. É já colocaremos em prática no começo do mandato. Outra coisa que faço questão de falar é: não vamos contratar por DVD. Veremos quantos jogos forem precisos antes de contratar, pois o DVD se edita. Faremos acompanhamento antes da compra. O scout vai nos dar a direção e aí vamos atrás. A economia do país não permite mais ter erros. É melhor pagar R$ 500 mil para o Robinho do que R$ 200 mil para quem está no banco. Trazer jogador para agradar esse ou aquele não faremos.

    Rollo - Pretendemos mesclar os talentos da base com jogadores com passagens por seleção, seja a brasileira ou outra seleção tradicional. Acreditamos que essa convivência estimula os meninos a evoluir e desperta o melhor do seu potencial. Quanto ao técnico Enderson Moreira, não acredito que ele seja o melhor para o Santos FC, pretendemos trazer um técnico de nível internacional.

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