• Esporte

    Thursday, 02-May-2024 13:02:25 -03

    Futebol já rivaliza com beisebol como esporte favorito dos jovens cubanos

    JERÉ LONGMAN
    DO "NEW YORK TIMES"

    29/12/2014 02h00

    Ronald Hernandez Vega dá pouca atenção a um esporte jogado com as mãos.

    É segunda-feira, dia de jogo de beisebol pela liga nacional de Cuba. Hernandez Vega, 16, não se importa. Ele não veste a camisa de Yasiel Puig –o grande jogador cubano de beisebol, que atua pelos Los Angeles Dodgers, nos EUA– mas de Messi.

    O beisebol é o esporte da revolução de Cuba, mas o futebol é o esporte do mundo que está chegando.

    "É um esporte forte, com movimento, energia", diz o jovem, explicando sua prefere pelo futebol.

    O beisebol parece adequado a essa ilha retrô, onde as atitudes desportivas, como muitos dos carros, são da década de 1950. Mas o beisebol é estático enquanto o futebol é freneticamente criativo.

    Josh Haner - 22.dez.2014/The New York Times
    Ronald Hernandez Vega (dir.) arruma o seu cabelo após um treino em San José, Cuba
    Ronald Hernandez Vega (dir.) arruma o seu cabelo após um treino em San José, Cuba

    Pois o futebol agora rivaliza com o beisebol como o esporte favorito de muitos jovens cubanos. Eles jogam em campos irregulares e ruas esburacadas, improvisando com gols feitos de redes de pesca, camas e mesas.

    Em um jogo da última segunda (dia 22) em Havana, jogando com os pés descalços no asfalto inclinado, Marlon Peres Capotes, 11, gritou "goooool" e deu uma cambalhota ao chutar uma bola flácida de basquete.

    Agora vem a retomada das relações diplomáticas entre EUA e Cuba. Será que os norte-americanos vão ajudar a abrir o futebol cubano como eles esperam a abertura do beisebol cubano? Será entusiasmo juvenil acreditar em tal realização?

    Haverá mais acesso a Major League Soccer (MLS), dos EUA, ou em ligas na Espanha e no Brasil? Será que vai se erguer em direção à sua primeira aparição Copa do Mundo desde 1938?

    "Nosso maior problema é não termos chance de competir internacionalmente", diz Ariel Curbalo Lopez, 45, que treina os jogadores de 16 a 18 na província de Mayabeque. "Nosso desenvolvimento é local. Os EUA são o país mais próximo, mas não temos sido capazes de tirar proveito da ascensão deles".

    Lopez faz uma previsão ousada. "Dois ou três anos é tudo o que vai levar para o futebol se tornar o esporte mais importante em Cuba", afirma. "Em todas as ruas, as crianças estão brincando".

    Há quem discorde, como Roel Santos, 26, jogador do Granma Alazanes, do campeonato cubano, e um recém-chegado à equipe nacional.

    "No beisebol é mais difícil criar momentos de ação", disse Santos. Na avaliação dele, o povo cubano aprecia esse tipo de dificuldade.

    Josh Haner - 22.dez.2014/The New York Times
    Yan Junior Mendoza, 15, treina perto do estádio Nelson Fernandez, em San José, Cuba
    Yan Junior Mendoza, 15, treina perto do estádio Nelson Fernandez, em San José, Cuba

    MISTÉRIO

    Sete cubanos jogam futebol na MLS, mas o campeonato não tem planos de contar com uma equipe em Havana, agora ou no futuro próximo, disse Don Garber, representante da MLS. As prioridades são EUA e Canadá.
    "Cuba é realmente um grande mistério para o mundo do futebol", disse Garber. "Nós ainda não somos capazes de avaliar o desenvolvimento de seus jovens".

    Até mesmo o vocabulário do futebol não é fácil para o linguajar cubano. O taxista Gerardo Verdecia Acosta, 50, aprecia o esporte, mas não consegue dizer, de bate-pronto, o nome do seu jogador favorito. "O cara da Argentina eu gosto", disse Acosta. "Messi?", pergunto. "Messi!"

    Seu filho tem outro favorito, conta. "Diga-me alguém do Brasil", pediu. "Neymar?", indago. "Sim, Neymar!".

    É evidente, porém, que a popularidade do futebol no país cresceu nos últimos cinco ou seis anos. O esporte não se restringe mais às ruas. Já há equipes organizadas.

    A Copa do Mundo foi mostrada na TV em 2010 na África do Sul e, novamente, em 2014 no Brasil. Também são transmitidas os campeonatos da Espanha, Brasil, Inglaterra, Alemanha e Itália.

    A camisa de Messi, do Barcelona, e de Cristiano Ronaldo, do Real Madrid, são muito populares em Cuba.

    DESAFIO

    "Esse é o meu sonho, jogar na Copa contra a Argentina ou o Brasil", diz Marlon Garcia Medaro, 14, ao chutar uma bola na Avenida dos Presidentes, em Havana. Esse é o desafio para os cubanos: não apenas se vestir como grandes atletas do mundo, mas desenvolver alguns dos seus próprios jogadores.

    "Não há nenhuma razão para que em um país de 11 milhões de pessoas que teve reputação para produzir atletas de classe mundial não possa ser um produtor de jogadores de futebol de classe mundial", disse Garber.

    Tradução de MARCEL MERGUIZO

    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024