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    Recordista, alpinista perdeu dedo e já empurrou sequestrador de penhasco

    ANDREA MURTA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE WASHINGTON

    15/01/2015 12h02

    O escalador americano Tommy Caldwell, 36, sempre levou uma vida incomum. Em 2000, foi sequestrado por rebeldes no Quirguistão e só se salvou empurrando um militante islâmico de um penhasco. Em 2001, perdeu parte do indicador esquerdo em um acidente, mas em vez de encerrar a carreira prosseguiu até se tornar um dos melhores do mundo.

    Porém, Caldwell só entrou mesmo para a história nesta quarta-feira (14), quando ele e o parceiro Kevin Jorgenson, 30, se tornaram os primeiros a completar em escalada livre os mais de 900 metros do paredão Dawn Wall, no Parque Nacional do Yosemite (California). Além de considerada a mais difícil escalada do mundo, foi também a mais midiática: com transmissão ao vivo por TVs e mídias sociais, a empreitada de 19 dias criou um frenesi que promete transformar o esporte.

    "Deixei meu celular cair há uma semana, então estive um pouco isolado, mas víamos os carros no vale e tínhamos alguma informação sobre o que ocorria", disse Caldwell ao "New York Times" minutos após chegar ao topo. Havia acabado de ser informado de que até o presidente dos EUA, Barack Obama, queria telefonar para ele.

    A Dawn Wall, como é chamada a face sudeste da formação rochosa El Capitan, no Yosemite, vinha sendo escalada em ascensão artificial (com a ajuda de equipamentos para apoio e impulsão) desde que sua primeira via foi estabelecida pelo lendário escalador Warren Harding em 1970. A escalada livre (só com pés e mãos, usando cordas apenas para proteção) ali era considerada impossível. São cerca de 31 trechos até o topo, vários com grau de dificuldade ao redor de 10c, atingido por pouquíssimos atletas mesmo na elite do esporte. É preciso saltar e se apoiar pelas pontas dos dedos em agarras minúsculas e afiadas.

    Para o escalador brasileiro Nicola Martinez, que já subiu duas vias em ascensão artificial na Dawn Wall e estava no Yosemite durante parte da aventura de Caldwell e Jorgenson, "a dificuldade técnica do que eles fizeram - em si surreal para um ser humano - não é a única". "O desafio psicológico e logístico de ficar suspenso tanto tempo é tão grande quanto", disse à Folha.

    Caldwell tentava essa escalada desde 2007, e teve Jorgenson como parceiro a partir de 2009. Felipe Camargo, número um do ranking brasileiro, escalou com Jorgenson no Brasil e nos EUA e afirma que nem a dupla americana sabia se o feito seria possível. "Kevin sempre comentava que achava o projeto muito difícil e futurístico, mas via progressão a cada ano e ia continuar", afirmou à Folha.

    Desta vez, sob milhares de olhares atentos via Twitter, Facebook, Instagram e outros, o impossível foi alcançado.

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