• Esporte

    Friday, 03-May-2024 15:20:32 -03

    Com técnicos estrangeiros, África revive colonialismo no futebol

    RAFAEL REIS
    DE SÃO PAULO

    19/01/2015 02h00

    Cabo Verde não teve dúvidas quando o local Lúcio Antunes deixou o comando da seleção, no ano passado. Seus dirigentes visitaram Portugal, antiga metrópole do país para buscar um novo treinador.

    Rui Águas, 54, não tinha uma grande carreira no seu país até então. Mas trabalhava na Europa e falava o mesmo idioma dos atletas.

    Cerca de 50 anos depois do fim do período colonial e da independência dos principais países africanos, essa ainda é uma prática bem recorrente no futebol do continente.

    Das 16 seleções que disputam desde sábado (17) a Copa Africana de Nações (CAN), em Guiné Equatorial, sete são dirigidas por técnicos dos seus colonizadores.

    É por isso que a competição reúne tantos técnicos que nasceram na França. São cinco no total. Eles estão à frente de Argélia, Senegal, Costa do Marfim, Guiné e Congo.

    Camarões também adotou esse expediente e entregou sua seleção nas mãos do alemão Volker Finke. Antes de ser colonizado pela França, o país africano foi dominado pela Alemanha, entre o fim do século 19 e o início do 20.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Os dirigentes africanos costumam justificar a preferência por técnicos estrangeiros com o argumento de que eles são mais rígidos taticamente, atualizados e estariam acostumados a lidar com a elite do futebol –que inclui jogadores africanos, como o volante marfinense Yaya Touré, estrela do inglês Manchester City.

    Se o treinador vem da antiga metrópole, melhor ainda, já que domina o idioma dos jogadores.

    Essa espécie de colonialismo existente no futebol praticamente afastou os treinadores africanos das seleções mais fortes do continente.

    Só três participantes do torneio continental - África do Sul, Zâmbia e República Democrática do Congo - são dirigidas por técnicos locais. São ainda os únicos treinadores negros na competição.

    Esse é o menor número de comandantes africanos desde que a CAN passou a ter 16 participantes, em 1996.

    A preferência por treinadores europeus para dirigir as seleções africanas recebe críticas de jogadores é técnicos do continente.

    O nigeriano Stephen Keshi que comandou o seu país no título da CAN em 2013 já reclamou repetidas vezes do preconceito que os treinadores africanos enfrentam no seu continente.

    "Os estrangeiros têm mais oportunidades que os africanos. Quando isso for superado, a África dará um salto gigantesco", disse, em 2010.

    "O africano tem uma forma própria de trabalhar e seus jogadores, povos entendem-se melhor, porque existem vários fatores. Há, por exemplo, o orgulho de ser africano e ajudar seu companheiro a crescer", completou.

    Os resultados dão razão a Keshi. Quatro das últimas cinco seleções campeãs eram comandadas por treinadores do próprio continente.

    Mesmo assim, a África não abandonou o colonialismo. Ao menos, no futebol.

    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024