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    Luis Fabiano se diz pronto para melhor ano, mas revela mágoa com diretoria

    MARCEL THOMÉ
    DO "AGORA"
    RAFAEL VALENTE
    DE SÃO PAULO

    29/01/2015 02h00

    "Vocês não vão filmar meus pés, né?", pergunta Luis Fabiano, ao se aproximar da reportagem da Folha sem chuteiras, só de meiões, após sessão de treino no São Paulo.

    Ao ter a confirmação, pede um copo de água e diz "vamos começar a entrevista?", exibindo a mesma confiança que tem em campo. Não é a toa que inicia a nona temporada pelo clube como titular.

    Aos 34 anos, Luis Fabiano só demonstra incomodo ao abordar rótulos que não gosta. O de jogador que perde a cabeça e é expulso em momentos importantes e de estar devendo em decisões.

    Apaga o sorriso do rosto. Aperta as sobrancelhas. O tema até o fez revelar uma mágoa com a diretoria. Foi multado ano passado -valor não revelado- por ter sido expulso diante do Huachipato (CHI), no Morumbi, nas oitavas da Copa Sul-Americana.

    Luis Fabiano sente que está preparado para fazer a melhor temporada desde que retornou ao clube, em 2011, e afirma que o desafio é se manter jogando. O temor é vivenciar novamente os meses em que ficou afastado devido lesão na coxa direita -região que operou em 2011 e que desde então modificou sua rotina no futebol.

    Terceiro maior artilheiro da história são-paulina, com 199 gols, descarta alcançar Serginho Chulapa, primeiro com 242. Pensa em buscar títulos e convencer a diretoria a renovar o contrato, que encerra no final de dezembro.

    *

    Folha - Aos 34 anos, como está prestes a iniciar mais uma temporada pelo São Paulo?
    Luis Fabiano - Em relação as últimas, estou me sentindo melhor. Nas anteriores eu tive lesão, demorei para recuperar e acabei iniciando com dificuldade. [Agora] Consegui fazer os treinos normalmente, sem me preocupar, sem receio. Essa tem tudo para ser a melhor temporada.

    O que é mais difícil?
    Até 2011, quando operei [o tendão da parte posterior da coxa direita], nunca tinha tido lesões. Depois que tirei um músculo, fiquei limitado da perna direita. Então tenho de fortalecer os demais para suprir a ausência de um. Aí está o problema. [Ano passado] A parada da Copa teve influência na minha contusão [ficou de junho a setembro sem jogar]. Como eu vinha bem no começo do ano, achei que tinha de descansar o corpo em vez de continuar o trabalho de fortalecimento [muscular]. Fui fazer um jogo amistoso [nos EUA] despreparado e me machuquei. [Esse ano] Se não tiver parada, vou jogar a temporada toda.

    Quais são suas metas?
    Gostaria de jogar o máximo possível. Conto que essa é a última temporada porque é o que está assinado.

    Você está a 43 gols de igualar Serginho Chulapa como o maior artilheiro do São Paulo.
    É difícil em um ano fazer 43 gols. É muita coisa. Apesar que já fiz mais que isso em 2003. Mas é diferente. Eu tinha 22 anos. Mas sempre trabalho com meta de 50%. Se fizer 40 jogos, busco 20 gols. Se forem 50 jogos, 25 gols. Menos que isso é ruim.

    Então, descarta o recorde?
    Está fora de cogitação. Seria colocar mais uma pressão em cima de uma pilha que já existe. Não vou me cobrar para chegar no Serginho. Vou me cobrar para jogar mais. Jogando mais é maior a possibilidade de ter êxito.

    Lalo de Almeida/Folhapress
    Luis Fabiano, no CT do São Paulo, na última terça (27)
    Luis Fabiano, no CT do São Paulo, na última terça (27)

    Você não parece confiante em renovar o contrato. Por quê?
    Vou deixar o tempo passar, as coisas acontecerem. Não tenho pressa. Se [a diretoria] tiver interesse da minha permanência, sabe que não vai ter qualquer tipo de problema para renovar. Pela torcida, o meu carinho pelo clube, renovaria sem problema. Não me vejo jogando em outro clube. Se for aqui melhor, se não for eu sigo minha vida. Penso em jogar mais três anos.

    Quais são sua expectativas neste ano? Vai jogar sua terceira Libertadores.
    Gosto desse torneio, já fui artilheiro [oito gols, em 2004]. A expectativa é boa pelo ano que tivemos, mas vamos com os pés no chão. Somos competitivos, mas não vamos dizer que o São Paulo é o grande favorito. Outros times estão bem. Nós somos um dos que podem vencer. Sabemos da responsabilidade, a torcida quer ganhar. Hoje, o São Paulo tem bom elenco para isso.

    No Brasil, é um dos melhores?
    O São Paulo não deixa a desejar para ninguém. O Cruzeiro também tem bom elenco. Perdeu peças, mas contratou e creio que pode suprir. O São Paulo tem jogadores na reserva que podem jogar a qualquer momento como titulares. Não vejo time com elenco melhor que o nosso.

    Já deu para sentir as diferenças nos amistosos desse ano?
    Sim. Os dois laterais gostam muito de atacar e deixam espaço atrás. Temos de saber jogar com isso. Saber fechar espaços, compactar o time.

    Muricy exige que os atacantes marquem. Até você. Como foi essa transformação?
    Aqui é trabalho [risos]. Se não fizer o que o treinador pede, já sabe. [risos].

    Editoria de arte/Folhapress

    Se adaptou com facilidade?
    Fácil, não. Durante toda minha carreira treinador pediu para ficar cercando zagueiro. Foi uma mudança do futebol. Hoje, não tem mais espaço para centroavante paradão.

    Por outro lado, hoje temos centroavantes que não são tão artilheiros como na época em que você começou...
    Hoje, não vejo muitas promessas. Temos carência de centroavantes que gostam de fazer gol. Vivemos uma escassez. Não é só no Brasil. Vários times pelo mundo tentam buscar um atacante assim e não encontram.

    Por quê?
    O motivo é a base. Atleta é formado na base. E ela está deixando a desejar. Hoje, a característica [preferida é] jogador que joga pelas pontas, que é rápido, puxa contra-ataque. Mas não adianta ter só jogador rápido. Vai cruzar a bola para quem? Falta a base encontrar jogador assim.

    Você parece mais tranquilo também. Só foi expulso uma vez em 2014. Mudou isso?
    Esse ano vou tentar nenhuma. Se for zero, será um recorde [risos]. Vai ser a melhor temporada de todas. A que teve ano passado foi piada. Foi ridícula. Não fiz nada para o adversário [foi acusado pelo árbitro de dar um soco em um jogador do Huachipato e expulso com 30 min de jogo].

    Incomoda o rótulo de jogador "problema", que sempre é expulso em jogos decisivos?
    O que me incomodou foi a punição no clube. Isso me incomodou. Se é para um, tem de ser igual para todos. Tem de ver os históricos das expulsões e fazer igual para todo mundo. Por que na hora da cobrança só eu sou cobrado? Os outros têm de ser também. Quando se cria uma marca, um erro basta. O que os outros falam não incomodou. Hoje falam uma coisa e amanhã, outra. O que me incomoda é o [que aconteceu no] clube que eu trabalho.

    Incomoda quando dizem que você não é um jogador de decisão, tem poucos títulos?
    Nada me incomoda. Quem fala tem de ter um porquê. Tem de ter os números, olhar minha história. Eu joguei seis ou sete finais no São Paulo. Só que infelizmente o time não saiu campeão. Sempre fiz gol em final, em semifinal, em clássico. No Sevilla fiz gol em final e semifinal. Tem de olhar meu histórico. Mas, na minha idade, não ligo mais.

    RAIO-X
    LUIS FABIANO

    Nome
    Luis Fabiano Clemente

    Nascimento
    8.nov.1980 (34 anos), em Campinas (SP)

    Altura
    1,85 m


    Destro

    Principais clubes
    Ponte Preta, Rennes, Porto e Sevilla

    Principais títulos
    Mundial Interclubes, pelo Porto; 2 Copas da Uefa, Supercopa da Europa e Copa do Rei, pelo Sevilla; Copa América e Copa das Confederações, pela seleção

    Títulos pelo São Paulo
    Torneio Rio-São Paulo (2001), Supercampeonato Paulista (2002) e Copa Sul-Americana (2012)

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