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    Qatar bate Polônia e é 1º não-europeu a decidir Mundial de handebol

    MARCEL MERGUIZO
    ENVIADO ESPECIAL A LUSAIL (QATAR)

    30/01/2015 16h21

    "O dinheiro compra tudo. Até amor verdadeiro." A máxima do dramaturgo Nelson Rodrigues resume como uma torcida apaixonada por handebol lotou a novíssima e moderna arena no meio do deserto para ver a seleção do Qatar vencer mais uma potência europeia da modalidade e chegar à uma inédita final de Mundial masculino.

    Nesta sexta-feira (30), o "domingo" para os qataris, a legião estrangeira que representa o país venceu a Polônia, dona de uma prata e dois bronzes em Mundiais, por 31 a 29, e se classificou para a decisão de domingo, às 14h15 (de Brasília). França e Espanha jogam nesta sexta para definir quem enfrenta o Qatar.

    Esta é a primeira vez na história da competição, em 23 edições, desde 1938, que uma equipe não-européia fica entre as três melhores. Entre os 16 atletas da seleção qatari, no entanto, seis naturalizados (contratados) são da Europa, um do Egito, um da Tunísia e um de Cuba. A maioria nos últimos dois anos.

    Também é a primeira vez que um técnico pode conquistar o bicampeonato seguido comandando dois países diferentes. O responsável pela possível façanha é o espanhol Valero Ribera, campeão em 2013, em casa, com a Espanha, e agora podendo repetir o feito com o time que montou a pedido do rico e pequeno emirado do Golfo Pérsico.

    "Jogam com o coração", repete o treinador que recebe, segundo a imprensa de seu próprio país, cerca de R$ 2,4 milhões por ano, além de outros benefícios, para ser o porta-voz de um time internacionalizado. De acordo com o site especializado "HandStation", os jogadores receberiam 90 mil euros (cerca de R$ 270 mil) por vitória. Já o título renderia mais de R$ 780 mil a cada atleta, fora benefícios como terras dentro do emirado.

    O JOGO

    Mesmo com a arbitragem tirando do jogo, com suspensões de dois minutos cada, três jogadores da Polônia e nenhum do Qatar, os europeus se mantiveram à frente do placar por praticamente todo o primeiro tempo.

    Somente aos 22 minutos a seleção qatari assumiu a ponta do placar, principalmente graças aos gols do cubano Rafael Capote, com cinco gols na primeira etapa (que acabou 16 a 13 para o time da casa).

    Nos 30 minutos finais de jogo, mais do que o potente ataque, as defesas do goleiro bósnio Saric mantiveram a diferença a favor dos primeiros asiáticos a chegarem tão longe em um Mundial masculino.

    A partir de determinado momento do jogo, algumas bolas na trave qatari ou que entravam no gol polaco pareciam até obra de algum Sobrenatural de Almeida árabe, ou montenegrino, francês, espanhol, bósnio, egípcio, tunisiano, cubano...

    CLIMA DE DECISÃO

    Com as típicas túnicas brancas, os qataris lotaram a Arena Lusail, que tem capacidade para 15 mil espectadores e estima-se que custou US$ 300 milhões (cerca de R$ R$ 780 milhões).. O luxuoso ginásio é uma das primeiras grandes obras que estão sendo feitas na cidade, a 15km do centro de Doha, planejada para receber a abertura e a final da Copa do Mundo de 2022.

    Junto aos qataris estavam os barulhentos espanhóis contatados para torcer pela seleção local. Os 60 torcedores de tradicionais times de handebol da Espanha novamente levaram seus instrumentos de sopro e percussão ao ginásio e entoaram músicas como se fossem as antigas charangas do Maracanã.

    Por sinal, antes mesmo de a partida começar, o clima era de jogo histórico. Pela primeira vez no Mundial, os jogadores foram apresentados no melhor estilo NBA, com cada jogador sendo apresentado individualmente e saudando a torcida. E todos os 16 jogadores do Qatar cantaram o hino do país, incluindo os nove naturalizados.

    Durante a partida, entretanto, o sangue faz pulsar mais forte a origem em alguns. O pivô Borja Vidal, por exemplo, ao comemorar um gol, virou para a torcida e gritou em bom espanhol: "Vamooos".

    Assim, com sua legião estrangeira, o Qatar ostenta a histórica classificação para a final. Com amor verdadeiro.

    O repórter MARCEL MERGUIZO viaja a convite da organização do Mundial

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