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    Patrocinadores pressionam atletas para esconderem homossexualidade, diz pesquisador

    DE SÃO PAULO

    11/02/2015 02h00

    Ao revelar sua homossexualidade, a ex-ginasta Lais Souza, 26, se tornou a primeira brasileira de alto nível a admitir que é gay, mas não só.

    Ela é uma das raríssimas figuras conhecidas do esporte no país a fazer publicamente o anúncio.

    Por aqui saíram do armário atletas como Larissa e Lili, jogadoras de vôlei de praia, Michael, atleta do vôlei, e Maissa, goleira de handebol.

    É um cenário diferente do que se vê no exterior. Nos últimos dois anos, revelaram a homossexualidade estrelas internacionais, como o ex-nadador australiano Ian Thorpe, que ganhou nove medalhas olímpicas na carreira; o britânico Tom Daley, dos saltos ornamentais; e a norte-americana Abby Wambach, eleita a melhor jogadora de futebol do mundo em 2012.

    "O esporte é, por si só, segregador de gênero porque divide os atletas em homens e mulheres. Ainda são poucos os atletas que assumem que são gays devido a essa característica. No Brasil, são ainda menos casos devido à nossa forte tradição religiosa", avalia Wagner Xavier de Camargo, pesquisador na área de sexualidades dissonantes no esporte na Universidade Federal de São Carlos.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Segundo ele, a situação de Lais, impossibilitada de competir, é mais propícia para que um atleta assuma sua orientação sexual.

    "Esses anúncios acontecem quando o esportista está no fim da carreira e não tem mais nada a perder. Enquanto estão em alta, há pressão contrária de patrocinadores e da sociedade", afirma.

    "Com certeza, ela criou coragem agora porque não vai mais prejudicar sua carreira", concorda a antropóloga Heloisa Buarque de Almeida, professora da USP.

    De acordo com ela, há em alguns esportes menos tolerância em relação à homossexualidade que em outros. Isso explica porque não existe no futebol masculino nenhum grande atleta que assumiu ser gay –o ex-volante Hitzlsperger, reserva da Alemanha na Copa-2006, é possivelmente o atleta mais famoso a ter se revelado homossexual publicamente.

    "No futebol, é difícil o atleta assumir sem manchar uma certa moralidade. O jogador tem que ser hétero e pegador de mulheres", diz Heloisa.

    ACIDENTE

    Ex-ginasta, Lais se acidentou no dia 27 de janeiro de 2014, esquiando, quando se preparava para competir nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, que foram disputados em Sochi, na Rússia.

    Ela já havia participado das olimpíadas de 2004 e 2008 na ginástica artística e, em Sochi, competiria no esqui aéreo. Em um treinamento em Salt Lake City, nos Estados Unidos, Lais se chocou contra uma árvore, lesionou a coluna e ficou paralisada do ombro para baixo.

    Lais é uma das pacientes especiais do Miami Project, que conta com mais de 300 cientistas procurando métodos para a cura da paralisia e para a melhora da qualidade de vida de acidentados. Ela foi, por exemplo, a primeira pessoa nos EUA autorizada a receber tratamento com células tronco.

    Em janeiro, a presidente Dilma Rousseff sancionou lei que concedeu pensão especial vitalícia a ex-atleta.

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