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    Opinião: Torcida única não deve ser regra, mas é uma medida pela paz

    PAULO SÉRGIO DE CASTILHO
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    18/02/2015 02h00

    As duas últimas décadas foram marcadas pelo crescimento da violência no futebol brasileiro entre torcidas organizadas, com aumento de confrontos e centenas de mortos e milhares de feridos.

    O Estado brasileiro tentou conter essa escalada da violência, conseguindo alguns avanços, mas não o suficiente para extirpar ou ao menos diminuir a violência. Houve o advento do Estatuto do Torcedor (2003), alterado em 2010, com a criação de vários crimes e a indução da criação do Juizado do Torcedor.

    Desde 2005, tenho me dedicado ao tema. Fiz e continuo fazendo todo trabalho possível de conscientização, socialização e aproximação entre as torcidas organizadas de todo o país.

    Propus a alteração do Estatuto do Torcedor, com a criação de vários crimes específicos do futebol, e a redução da torcida visitante para restringir as ocorrências.
    Infelizmente, a maioria das torcidas organizadas desviou-se dos propósitos iniciais de torcer e incentivar seu time. Vão ao estádio mais para brigar do que para assistir ao jogo. Armam emboscadas, marcam confronto com torcedores adversários pela internet, atacam aficionados de outros times no transporte público, etc.

    Foi esse cenário, aliado a circunstâncias específicas, que me levou a propor torcida única no clássico Palmeiras x Corinthians. Não sou a favor da torcida única como regra. Defendo a medida em casos excepcionais, como forma de garantir a integridade física do verdadeiro torcedor, que quer ir em paz ao estádio com sua família.

    Não faz sentido que o Estado gaste dinheiro e efetivo policial para escoltar torcidas organizadas até o estádio, a fim de tentar impedir confrontos. Na prática, torna-se um privilégio em favor da própria fonte de violência. Isso tudo degrada o ambiente do futebol e afasta o torcedor de bem.

    Para solucionar o problema da violência, são necessários coragem e firmeza para adotar medidas como fortalecimento do Juizado do Torcedor, implantação do controle de acesso com identificação biométrica e facial do torcedor, criação de grupo de trabalho com integrantes dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, Ministério Público e Federação para fiscalizar de perto as torcidas organizadas e suas movimentações financeiras; aprimoramento da legislação e eliminação do subsídio dos clubes às torcidas.

    PAULO SÉRGIO CASTILHO é promotor de Justiça do Juizado Especial Criminal de Família da Capital

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