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    Análise: No futebol, mistura de paixão e finanças acaba em catástrofe

    SAMY DANA
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    24/02/2015 02h00

    A junção de paixões com finanças tende a trazer resultados catastróficos para o qualquer negócio e, sem dúvida, a situação é ainda pior quando o assunto é futebol.

    Para ilustrar os possíveis desastres desta combinação, nada melhor do que o próprio cenário desportivo brasileiro.

    O envolvimento do dirigente do clube com o seu time é, evidentemente, importante para o sucesso dos empreendimentos. No entanto, isso se torna um problema quando a relação deixa de ser pautada por decisões práticas e profissionais e passa a ter como guia o amor à bandeira.

    Nessas situações, a gestão se torna pouco profissional e passa a ter a responsabilidade reduzida, implicando decisões ruins que influenciam de forma significativa não só os resultados financeiros do clube, mas também o desempenho dos atletas, que têm de lidar com impasses organizacionais e até, em alguns casos, atrasos no pagamento.

    Exemplo recente para ilustrar este cenário é o caso do jogador Jadson, do Corinthians, que, magoado com o clube, aceitou uma transferência para a China e deve permanecer por lá até 2018.

    Outro agravante é que a torcida, de modo geral, não possui uma visão clara quanto às contas do clube e pode exigir contratações incompatíveis com as possibilidades financeiras reais.

    Como consequência, o dirigente-torcedor que deseja atender aos anseios do público toma decisões que causam complicações a longo prazo para o orçamento.

    Esses dirigentes, por sua vez, contam com mandatos de prazo determinado, o que os torna propensos a antecipar receitas futuras –como as cotas de direito de transmissão dos jogos pela TV– e aproveitar a renda no curto prazo, que permite melhoras no elenco, sem considerar que a futura administração será deixada sem recursos para investir.

    IMPRUDÊNCIA

    Por fim, é impossível não citar a postura leniente do governo, que sempre refinancia as dívidas dos clubes e perpetua, consequentemente, os incentivos à imprudência.

    Há uma proposta de Lei de Responsabilidade Fiscal que não permitiria aos clubes gastarem mais do que devem. Contudo, a cultura já estabelecida de despesas indiscriminadas existe há anos e deve permanecer em voga enquanto tal regulamentação não for finalmente aprovada.

    O programa de sócios-torcedores é uma grande ideia para os clubes, mas o dirigente-torcedor, não!

    É importante ter paixão, mas, por outro lado, é fundamental ter cabeça no lugar. Assim, lamentavelmente, podemos dizer que ainda engatinhamos quando o assunto é profissionalismo na direção dos clubes.

    SAMY DANA é economista e professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV

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