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    Fofão diz que odiava apelido e revela crise existencial com aposentadoria

    MARCEL MERGUIZO
    DE SÃO PAULO

    10/03/2015 12h12

    Hélia de Souza tem três medalhas olímpicas, um ouro (Pequim-2008) e dois bronzes (Atlanta-1996 e Sydney-2000). Mesmo assim, essa brasileira que completou 45 anos nesta terça-feira (10) é uma desconhecida. Até para ela mesma. Talvez porque tais conquistas não sejam exatamente da Hélia, mas de Fofão, apelido que a levantadora da seleção brasileira de vôlei carrega desde criança.

    "Para falar a verdade, acho que nem existe a Hélia. Desde os 12 anos eu sou a Fofão. Vou continuar sendo a Fofão, mesmo como ex-jogadora. A Hélia nunca existiu porque não sei quem ela é de verdade. Já falei para o meu marido [João Márcio]: 'Agora você vai se separar da Fofão e vai casar com a Hélia, não vai se assustar'. Seja bem-vinda, Hélia", divaga a atleta sobre a própria existência agora que vai se aposentar.

    Jogadora da equipe do Rio, em busca do terceiro título seguido da Superliga, Fofão já anunciou que deixará as quadras ao fim da temporada, mais precisamente depois do Mundial de Clubes, de 5 a 10 de maio, na Suíça.

    "Estou pensando demais até na vida. Quando começa a temporada, faltam meses. Agora faltam jogos. E a cabeça vai junto. Agora começa a passar mais rápido. Faço as contas e já é meu aniversário, depois tem os playoffs. A todo momento, no treino, em casa, começo a pensar no que vai ser minha vida. Mesmo que eu não queira, começo a pensar o que vai ser depois... Sempre fico curiosa com o que vai vir. É como se a Hélia fosse dar vida agora. Vou deixar a jogadora e ser a Hélia. Mas quem é a Hélia? Vem essas coisas meio malucas e vou viajando. É muito questionamento. É bom porque vou viver uma nova vida", reflete.

    Depois de 30 anos de carreira, cinco Olimpíadas, Mundiais, Grand Prix, Superligas, atuação por clubes de quatro países e uma dezenas de títulos conquistados, Fofão quer se dedicar mais ao marido, que, em 2004, largou a carreira de bancário, logo quando se casaram, para acompanhá-la na Itália. Desde então, ele se tornou agente da jogadora e se divide entre São Paulo, onde têm casa, e Rio, onde ela joga.

    "Eu sempre vivi em função de mim mesma. Por mais que eu seja casada, tudo sempre girou em torno de mim. Meu marido deixou o emprego para estar comigo. Queremos aproveitar nossa vida, nossa casa. Está tudo novinho, se as pessoas forem os presentes ainda estão lá. Não quero ser dona de casa, Deus me livre. Mas quero fazer um pouco das coisas que ele gosta. Ele nunca me cobrou. Nunca. Mas sinto que ele tem essa vontade de ser pai, então é algo que a gente quer agora. Vamos tentar ter um filho", anuncia.

    APELIDO

    A origem do apelido que se tornou um dos mais conhecidos e vitoriosos do esporte brasileiro remete aos anos 1980, quando a menina Hélia começou a treinar vôlei em São Paulo.

    "Foi o vôlei que me descobriu, ainda na escola. Porque naquela época o vôlei não tinha força de hoje. Eu jogava basquete, fazia handebol e, por eu gostar muito de esporte, minha professora disse para eu ir fazer um teste no Centro Olímpico do Ibirapuera. Passei no teste e fui aprendendo a gostar, só com treinamento. Hoje aquele período para mim foi importantíssimo", recorda.

    Treinando no Centro Olímpico, Fofão foi descoberta pelo técnico João Crisóstomo, que a levou para o time do Pão de Açúcar.

    "Mas ele cismava com a minha bochecha. Fica apertando e falando 'fofinha, fofinha'. Eu odiava. Me sentia um bebê. Como criança sofre, né?", conta.

    No clube, como havia uma outra menina com nome parecido, o treinador resolveu dar apelido a Hélia. "Ele falou que eu ia ser a Fofão. Fui ver depois que era aquele boneco feio e falei que não queria. Como não gostei, o apelido ficou. Desse dia em diante, nunca mais me chamaram pelo nome", diz.

    Já levantadora da seleção brasileira, ela encontrou com o Fofão original, personagem do Balão Mágico, e foi direta:
    "Me perdoa, mas você é muito feio".

    "Com 12 anos, era meio agressivo [o apelido]. Depois me chamavam de Fo, Fofinha, e comecei a achar engraçado. É um apelido forte, uma marca forte. Na verdade, gostar eu nunca gostei. Fui me adaptando ao apelido. Hoje é tranquilo", afirma, com a serenidade dos 45 anos.

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