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    Técnicos concordam com Fofão sobre falta de renovação no vôlei brasileiro

    MARCEL MERGUIZO
    DE SÃO PAULO

    12/03/2015 02h00

    Como costuma fazer com qualidade em quadra, Fofão levantou a bola. "Me preocupa mesmo no Brasil é a falta de renovação de jogadoras", disse em entrevista à Folha, na última terça-feira (10), dia de seu aniversário de 45 anos.

    O problema apontado pela levantadora campeã olímpica é compartilhado por alguns treinadores, inclusive pelo que comanda a seleção feminina principal do Brasil.

    "É uma preocupação grande. Vejo aparecer mais jogadores no masculino. No feminino, não vejo uma geração surgindo", afirma o técnico José Roberto Guimarães.

    O tricampeão olímpico –1992 com os homens, 2008 e 2012 com as mulheres– acredita que a falta de clubes formadores é a grande falha na estrutura brasileira.

    "Estamos em um momento econômico complicado. Clubes que têm equipe principal já não têm times de base. Os colégios também não formam mais como antes. Não está se formando mal, está se formando pouco", analisa Zé Roberto.

    Treinador da equipe principal, Zé Roberto diz não ter ingerência sobre as seleções de base da CBV (Confederação Brasileira de Vôlei), mas mostra-se preocupado.

    "A gente vai pagar um preço enorme no futuro, concordo com a Fofão. A atenção precisa ser grande para 2024. Pois para 2020 ainda temos uma geração que vai brigar", conclui o técnico.

    SEM CRISE

    Técnico de seleções de base do Brasil desde 2003, Luizomar de Moura concorda que a participação dos clubes nas categorias menores diminuiu. Para ele, há realmente menos meninas do que meninos querendo jogar vôlei, no entanto, a qualidade continua elevada.

    "Nossa preocupação em preparar novos valores para serem atletas olímpicos é constante. Hoje quase todas da seleção adulta passaram pela base. E mesmo quando não vencemos, estamos nos mantendo no topo", explica Luizomar, que também comanda a equipe de Osasco.

    "Hoje muitos países copiam o trabalho de base do Brasil", emenda o treinador que, este ano, está à frente da equipe feminina sub-18 do Brasil.

    Nos Mundiais sub-20, as brasileiras ganharam quatro títulos de 2001 a 2007 –três destes com Luizomar–, mas perderam os últimos três (um vice e dois terceiros lugares).

    No período também perderam a hegemonia no Sul-Americano, em 2012, para o Peru, na categoria até 18 anos. Único vice desde o campeonato de 1996.

    "Hoje me preocupa apenas uma posição: as centrais. O Brasil teve muito sucesso com as 'Torres Gêmeas', Thaísa e Fabiana, e não estamos encontrando garotas com esse biótipo, de 1,94 m, 1,95 m de altura", diz Luizomar.

    BASE DOS CLUBES

    Outros dois técnicos de times da Superliga feminina concordam que o problema da formação está nos clubes.

    "As conquistas das seleções adultas masculina e feminina nos últimos anos servem como maquiagem para o vôlei como um todo. Parece ser um projeto vencedor, mas que esconde uma total desatenção pela formação de base", afirma Spencer Lee, técnico do Rio do Sul, que tem um trabalho consagrado de categorias menores à adulta.

    "E não estou falando apenas de seleções, mas principalmente nos clubes formadores. A CBV olhou apenas para as seleções adultas, olímpicas, e logo teremos um hiato na formação de novos atletas em todos os níveis do vôlei nacional, no masculino e no feminino", completa.

    Wagão, treinador do Pinheiros, um dos principais clubes do Brasil, inclusive na formação, endossa a crítica.

    "A renovação tem sido difícil já que o que temos visto é uma redução no número de clubes e equipes que desenvolvem trabalhos com a base ou mesmo participam dos campeonatos menores. Buscamos qualidade na quantidade, mas com menos gente, torna-se uma tarefa mais complicada", afirma.

    ESCOLA E SAQUAREMA

    Os técnicos da equipes masculina e feminina do Sesi, potências do esporte, também apontaram outros problemas na atual formação de jogadores no Brasil.

    "O nosso problema é muito maior do que simplesmente o voleibol. Estamos vivendo um momento, onde a minha geração, e a da Fofão, e até antes, todo mundo praticava esportes na escola e a educação física era um prazer. Mas o mundo está mudando muito rápido, com a internet, que estão mobilizando muito mais o jovem do que o esporte. Isso tira os jovens das quadras, de praticar esporte", comenta Talmo, técnico do time feminino do Sesi.

    "Hoje precisamos trazer os jovens para gostar do esporte. E adaptar com a realidade atual, trabalhar a habilidade motora. Isso vem lá do início. E concordo com ela e vamos passar dificuldades", conclui o treinador, ex-levantador da seleção brasileira.

    Já Marcos Pacheco, da equipe masculina do Sesi, critica a forma como a CBV trata os jogadores da base, que passam semanas dentro do Centro de Treinamento da entidade, em Saquarema, no Rio.

    "Masculino e feminino estão diferentes. Mas me parece que no masculino há uma renovação maior. Alguns jogadores podem ocupar as vagas no futuro. O modelo de treinamento que era empregado antes está atrasado, ultrapassado. Esse modelo de base de deixar os jogadores enclausurados em Saquarema, ao invés de participar de competições importantes e de serem protagonistas em competições. Assim deixam de passar por um processo de maturação em seus clubes, enquanto ficam em Saquarema. Deveriam ficar mais em seus clubes e disputar as competições lá. Ter mais responsabilidade em seus times. Eu não sou entendedor do vôlei feminino, mas vejo isso no masculino. E acho que o masculino está um pouco melhor e temos uma luz no masculino. Aparecem alguns jogadores para essas funções", analisa Pacheco.

    A opinião é oposta à do técnico do Osasco e da seleção brasileira feminina sub-18. Para Luizomar de Moura, o CT de Saquarema é um dos "motivos do sucesso" brasileiro.

    "Há intercâmbio, levamos técnicos para Saquarema. Trabalhamos juntos. O CT é um sucesso. Lá ficam as seleções infanto, juvenil, sub-23 e adulta. E todo mundo é tratado igual. As meninas da base pegam a mesma fila das da principal. É uma lição", diz Luizomar.

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