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    Mais seguro após sabático, Tite aponta falha em preparação de treinadores

    MARCEL RIZZO
    DE SÃO PAULO

    21/03/2015 02h00

    O ano sabático fez de Tite, 53, um técnico melhor. A opinião é do próprio corintiano. O 2014 foi de estudos, que ele coloca em prática agora e tem dado ótimos resultados.

    Os números do Corinthians em 2015 impressionam: 14 jogos, 11 vitórias e nenhuma derrota. Aproveitamento de 85,7% dos pontos.

    Bem superior aos 60,2% da primeira passagem pelo clube (2004 e 2005), e dos 59,1% do segundo período (2010 e 2013), quando ganhou a Libertadores e o Mundial.

    "Estou mais seguro dos meus conhecimentos e muito mais preparado. Isso que fui buscar: evolução. Independentemente de onde trabalharia", disse Tite à Folha nesta sexta (20), no centro de treinamento corintiano.

    Para ele, treinadores, dirigentes e todos os envolvidos no futebol precisam seguir o seu caminho e estudar.

    "Não concebo um dirigente que vejo falando que 'o importante é ganhar'. Isso é elementar, uma criança de dois anos sabe disso. A questão é que o profissional esteja interessado no processo que será feito para ganhar. É preciso qualificação para isso".

    Tite admite que comandar a seleção brasileira era um objetivo, mas Dunga foi o escolhido da CBF após o fracasso na Copa-2014. Fracasso que o corintiano de tira dos ombros de outro técnico gaúcho, Luiz Felipe Scolari.

    Confiante de que Guerrero vai ficar e preparado para domar Emerson Sheik, Tite tem trabalhado com o fantasma do atraso do pagamento de salários do elenco -não confirma, mas também não nega, que parte de seus vencimentos estejam atrasados.

    "Quando há confiança e lealdade na direção, há a compreensão", disse.

    *

    O novo Tite
    Tite leu e assistiu a vídeos, mas o trabalho de campo foi o principal aprendizado para compor a nova filosofia de jogo, com base no elenco que tem em mãos, que se define em quatro jogadores no meio de campo participando das jogadas ofensivas, com dois deles abertos nas laterais - Jadson e Sheik, atualmente.

    "O que trouxe de aprendizado foram treinamentos mais específicos de infiltração no ataque, criação de jogadas ofensivas para alargar o campo [deixar os atletas mais espalhados] e treinamento de bola parada ofensiva", disse.

    As visitas
    Tite visitou o Boca Juniors e esteve nas instalações do Arsenal. Mas foi no Real Madrid, com Carlo Ancelotti, que teve a maior abertura. Foram cinco dias, um almoço, um jantar e detalhes do trabalho que surpreenderam Tite.

    "O que levo dele é exigir intensidade e concentração alta dos atletas o tempo todo. Ele abriu seu sistema de trabalho de uma forma que, admito, eu não faria com outro profissional."

    Fora da Seleção Brasileira
    O técnico corintiano nunca escondeu que o período sabático era uma maneira de se preparar, mas também de estar livre, quando Luiz Felipe Scolari deixasse a seleção brasileira após a Copa do Mundo de 2014.

    O Brasil ficou apenas em quarto lugar, Felipão saiu, mas a CBF preferiu Dunga, treinador da equipe entre 2007 e 2010.

    "Remoí isso uma semana... Talvez dez dias. Mas tenho uma atenção especial comigo mesmo. Meu objetivo era crescer na minha área", disse o treinador.

    Editoria de arte/Folhapress
    Tite versão 2015Ano sabático do treinador o fez pensarem novo esquema tático
    Tite versão 2015Ano sabático do treinador o fez pensarem novo esquema tático

    Efeito 7 a 1
    "Concordo com o Abel [Braga], treinador] quando ele diz que após o 7 a 1, se cair um pingo d´água aqui a culpa é do treinador. Mas culpar um profissional por isso... Não. Ali perdeu uma estrutura toda", disse o treinador sobre a goleada sofrida pela seleção brasileira, 7 a 1, na semifinal da Copa-2014 para a Alemanha.

    Para Tite, o futebol se complementa com estrutura diretiva, técnica, dos jogadores e financeira. Sem dinheiro, é difícil fazer um bom trabalho.
    Indiretamente, defendeu Felipão e criticou a direção da CBF em um aspecto que foi destaque no fracasso na Copa: a falta de privacidade no CT da CBF, em Teresópolis.

    "Há espaço, para todas as áreas do futebol, ter evolução. Na parte técnico, vejo ex-jogadores querendo ser técnico, vejo jovens se formando querendo ser técnicos, mas é preciso qualificá-los. Por que não fazer o curso de técnico da Fifa", disse o corintiano.

    Relação com Sheik
    Sheik foi emprestado ao Botafogo em 2014. Tite reassumiu em 2015, o atacante voltou, ficou e tem jogado.

    Há algumas semanas um atraso a treino confirmado pela diretoria do jogador fez o polêmico jogador voltar à mídia, não pelo futebol, mas pelo extracampo. Como motivá-lo?

    "Sendo sincero e falando pela frente. Se atrasou, atrasou, se não atrasou, não atrasou, mas aprendi a tratar esses casos falando diretamente ao jogador e ao grupo", disse.

    Tite aprendeu a fazer isso em 2002, no Grêmio. Gilberto, ex-lateral da seleção, procurou Tite depois de ele dar uma bronca privada em um atleta.

    "Ele me disse: o grupo todo precisa saber as regras que ele infringiu. Desde desse dia abro tudo para todo o grupo".

    Guerrero fica?
    O pressentimento de Tite é de que sim, mas ele admite que é uma negociação complicada. O peruano quer cerca de R$ 18 milhões de luvas para renovar o acordo que acaba em 15 de julho, e o Corinthians diz não poder pagar.

    "Ele é identificado com o clube, e o clube com ele. Mas não interfiro nessa parte financeira. As pessoas podem me criticar do que quiserem, mas não podem abrir a boca para falar que pedi para dar um centavo a mais para quem quer que seja", disse.

    Lobby por Jadson
    Se atua mais discretamente pela manutenção de Guerrero, para que Jadson não deixasse o Corinthians para a Ucrânia Tite foi mais incisivo.

    Sem tocar na questão financeira, fez o jogador pensar no bem-estar familiar.

    "Eu disse para ele toda a importância tática e técnica que ele tinha para o time. Mas aí deu o conselho direto: decide você e sua esposa. Sei que os filhos dele são pequenos, então é tua decisão e da tua mulher. Deu certo", afirmou.

    Ele fez algo parecido com Lodeiro, mas não conseguiu convencê-lo a ficar e o jogador foi para o Boca Juniors. E já havia feito com Paulinho, antes do atleta, em 2013, ir para o Tottenham.

    "Era para o Paulinho ter saído antes, mas eu disse a ele que escolhesse bem o time. Se o time não está montado, vai oscilar e ele [Paulinho] vai oscilar junto. E assim ele poderia não se firmar na seleção. Se o Paulinho tivesse ido antes para o Tottenham, talvez não tivesse ido para a Copa", disse Tite.

    Salários atrasados
    Tite acha que o maior problema quando há atraso de salário é se não há confiança entre os empregados e a diretoria.

    "Entre o Roberto [de Andrade, presidente] e o grupo há confiança e lealdade".

    Mas o seu salário também está atrasado?

    "A mesma resposta anterior", disse o técnico.

    Pontos corridos x mata-mata
    Tite é contra uma mudança de regulamento no Campeonato Brasileiro.

    Alguns clubes e federações articulam que o Nacional volte a decidir o campeão em jogos eliminatórios, diferentemente do que é hoje, quando o título vai para o time que somar mais pontos após todos se enfrentarem em 38 rodadas.

    "O ponto corrido premia a estruturação da equipe. Já temos o sistema de Copa em outras competições", disse o técnico.

    Sua posição é contrária a do Corinthians, que em levantamento feito pela Folha defende a mudança. Os clubes esperam obter maior receita com bilheterias e cotas de TV, que poderiam ter mais audiência.

    Técnico brasileiro na Europa
    Apesar da fama de melhor técnico brasileiro na atualidade, Tite não se vê comandando um grande clube europeu. Por quê?

    "A Fifa coloca a comunicação como um atributo de excelência para um grande técnico. Não tenho inglês fluente e não ambiciono. Como você vai se comunicar com o atleta? Por isso que o único trabalho de sucesso na Europa de um técnico brasileiro foi Portugal [Felipão na seleção local]

    Tite teve duas experiências nos Emirados Árabes, mas um país com o futebol em desenvolvimento.

    "Fui para lá por alguns motivos: financeiro, aspecto familiar, morar fora do Brasil, e estudar um esquema tático com duas linhas de quatro no 4-4-2. Mas sei que não é a primeira linha do futebol".

    RAIO-X - TITE

    NOME

    Adenor Leonardo Bacchi.

    NASCIMENTO

    25 de maio de 1961 (53 anos), em Caxias do Sul (RS)

    CLUBES COMO TÉCNICO

    Grêmio, Corinthians, Atlético- MG, Palmeiras e Inter

    PRINCIPAIS TÍTULOS

    Libertadores-2012, Mundial de Clubes-2012, Copa do Brasil-2001 e Brasileiro-2011

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