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    Amazonas pagou R$ 1 milhão sem contrato por segurança na Copa

    JOSÉ MARQUES
    DE BELÉM

    22/03/2015 02h00

    O sistema de segurança dos quatro jogos da Copa do Mundo na Arena da Amazônia, em Manaus, ficou sob responsabilidade de uma empresa que não firmou contrato com o governo do Estado, mas recebeu R$ 1 milhão após o evento, apontam documentos obtidos pela Folha.

    A despesa não foi publicada no Diário Oficial.

    Ação que tramita no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) amazonense também levanta suspeita de que a firma, chamada Agência Nacional de Segurança e Defesa, seria de fachada e o dinheiro teria sido usado como caixa dois na campanha de reeleição do governador José Melo (Pros).

    Extrato do dia 26 de junho de 2014 mostra que a conta corrente da empresa tinha saldo zerado. Em 8 de outubro, ela salta para R$ 1 milhão com o depósito do governo.

    Em resposta ao TRE, a Secretaria da Segurança Pública justifica que a ausência de contrato foi causada pela restrição de tempo e que o serviço foi "imprescindível" para "evitar o ocorrido na Olimpíada de 1972 (...) marcada pela ação de terroristas e resultou na matança de 18 pessoas".

    O primeiro jogo da Copa em Manaus, entre Inglaterra e Itália, foi em 14 de junho, mas apenas quatro dias antes foi protocolado o pedido de contratação emergencial.

    No dia 20, já após a disputa entre Camarões e Croácia, uma funcionária da pasta enviou e-mail à presidente da empresa, Nair Queiroz Blair, pedindo que ela apresente "proposta de preço" para o serviço. O trâmite da contratação só foi concluído após as partidas na capital se encerrarem e, mesmo assim, sem assinatura do documento entre as partes.

    Depois, Nair enviou documentos que supostamente comprovariam que o serviço de monitoramento foi feito. O Estado reconheceu a dívida e transferiu a quantia.

    Juristas consultados pela reportagem dizem que tanto o direcionamento do pedido de proposta como o pagamento por serviço já iniciado são irregulares –além da falta de contrato e de divulgação na imprensa oficial.

    PRISÃO NO CULTO

    A empresária –que já havia sido condenada a devolver cerca de R$ 3 milhões para o Ministério da Cultura em outra ocasião– foi presa pela Polícia Federal na véspera do segundo turno das eleições. Ela estava em sala reservada de um espaço onde acontecia um culto evangélico com R$ 7.700 na bolsa.

    A Polícia Federal e o Ministério Público dizem que Nair participava de esquema de compra de votos. O Ministério Público também abriu procedimento preparatório para apurar a contratação da Agência de Segurança e Defesa.

    Em reportagem exibida no dia 8, o "Fantástico", da TV Globo, visitou o endereço apontado como sede da agência e descobriu que a empresa nunca funcionou no local.

    OUTRO LADO

    O governo do Amazonas informou que o governador José Melo instituiu no último dia 9 uma comissão de sindicância para apurar em até 30 dias fatos relacionados à contratação da agência.

    "O governo só irá se pronunciar sobre qualquer questionamento referente a essa contratação quando os trabalhos da comissão estiverem concluídos", diz o comunicado do governo do Estado.

    A reportagem não conseguiu localizar a empresária Nair Queiroz Blair.

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