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    Grupo vê indício de fraude na venda de Neymar e cobrará R$ 85 milhões

    BERNARDO ITRI
    DO PAINEL FC

    02/04/2015 02h00

    Dono de 40% dos direitos econômicos de Neymar antes de sua transferência para o Barcelona, o grupo de investidores DIS vê "fortes indícios" de fraude na transferência do jogador do Santos para o Barcelona.

    A DIS pretende receber € 25 milhões (R$ 85 milhões) do time brasileiro, da equipe espanhola e do próprio jogador.

    Os investidores notificaram no dia 28 de março os clubes e seus cartolas envolvidos na negociação, além de Neymar e seus representantes, apontando operações que, segundo a DIS, contêm irregularidades.

    No documento, obtido pela Folha, o grupo cita que houve "simulação de contratos" e que a N&N, empresa da família de Neymar, é "sociedade de fachada".

    A DIS entende que Santos, Barcelona e o jogador acordos que prejudicaram os investidores.

    "Há um fortíssimo conjunto de indícios e documentos que indicam, de forma clara, ter havido uma série de contratos deliberadamente simulados entre as partes com o objetivo de fraudar os direitos econômicos de titularidade da DIS", afirma o advogado Paulo Magalhães Nasser, sócio do escritório Miguel Neto, que defende o grupo.

    Na notificação, o grupo DIS afirma que Neymar assinou contrato com o Barcelona em 2011 garantindo sua transferência para o clube. Por este acordo, Neymar tinha direito a € 40 milhões. O grupo se refere a este valor como "benefícios injustificados".

    Os investidores pleiteiam, portanto, 40% deste valor, ou seja, € 16 milhões.

    A DIS cita também que foram oferecidos outros "benefícios injustificados pelo Barcelona ao Santos".

    Refere-se a dois contratos firmados entre os dois clubes. O primeiro, no valor de € 7,9 milhões, no qual os catalães compraram o direito de preferência na compra de três jovens jogadores que estavam no time do litoral.

    Outro acordo citado se refere a um amistoso que poderia ser realizado entre os dois times, no Brasil. Mas, como o jogo não aconteceu, o Santos teria direito a receber € 4,5 milhões do Barcelona.

    Ao somar os dois valores, chegando a € 12,4 milhões, a DIS avalia que essa quantia diz respeito a 55% do Santos e, proporcionalmente, tem direito a mais € 9 milhões.

    Na notificação, a DIS dá prazo até dia 30 de abril para que a transação seja esclarecida e informa que vai cobrar judicialmente o que pleiteia.

    Os investidores se baseiam ainda em um outro documento, assinado entre Santos e Barcelona, em 2013.

    O acordo, ao qual a reportagem teve acesso, diz que os dois clubes se comprometem a dividir eventual pagamento extra a ser feito ao grupo DIS, oriundo de ação judicial.

    Trecho desse acordo diz: "Na hipótese de qualquer um dos clubes receber uma reivindicação da DIS, levará ao conhecimento da outra parte, a fim de esclarecer os passos a seguir".

    Editoria de arte/Folhapress

    CONTA FECHADA

    No entendimento da DIS, no final das contas, o Santos recebeu 55%, percentual que lhe cabia, dos € 40 milhões acordados entre Neymar e Barcelona, em 2011.

    Lê-se o seguinte na notificação: "O Santos, ao tomar conhecimento em 2013 dos fatos anteriores e dos contratos que versaram sobre os € 40 milhões, firmados sem causa lícita, poderia escolher entre: denunciar [...] ou tomar parte nesta trama, recebendo também uma série de benefícios injustificados para continuar a dar cobertura às fraudes anteriores."

    E continua: "Aparentemente, optou por esta segunda hipótese".

    Para a DIS, o Santos manobrou para receber os € 22 milhões a que teria direito sobre o primeiro contrato entre Neymar e Barcelona.

    O clube paulista recebeu € 12,4 milhões dos contratos pela preferência dos jogadores e pelo amistoso e outros € 9,4 milhões pela venda de Neymar, além de € 171 mil pagos às entidades que representam jogadores no Brasil.

    OUTRO LADO

    Presidente do Santos entre entre dezembro de 2009 e agosto de 2013, Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro afirma que, devido a problemas de saúde, não participou das negociações entre o clube, Neymar e Barcelona.

    "Eu estava fora de toda a história. Ela foi tocada pelo Odílio [Rodrigues, presidente em exercício]. Nem sei o que tinha nos contratos", afirma Ribeiro.

    No contrato ao qual a reportagem teve acesso, em que Barcelona e Santos se comprometem a dividir gastos extras com o grupo DIS, em uma eventual ação judicial, consta a assinatura de Ribeiro.

    "A única coisa que fiz foi, quando vi o Neymar jogando sem aquela felicidade, perguntar se ele queria sair. Perguntei se recebesse proposta de clubes alemães, espanhóis, o que ele preferia. Ele disse que queria o Barcelona", completou o cartola.

    Vice de Ribeiro no Santos quando houve a negociação de Neymar, Odílio Rodrigues não atendeu às ligações da reportagem.

    Após a saída de Ribeiro em agosto de 2013, Odilio comandou o Santos até dezembro de 2014. No contrato, também aparece a assinatura dele.

    Até a conclusão desta edição, a N&N, empresa que cuida da carreira de Neymar, não respondeu à reportagem sobre as acusações da DIS, assim como Wagner Ribeiro, agente de Neymar.

    Procurada, via assessoria de imprensa, o Barcelona também não respondeu.

    Na época do acordo, o time tinha Sandro Rosell como presidente e Josep Maria Bartomeu como vice.

    Bartomeu é o atual presidente do clube.

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