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    Aos 80, Pepe lembra glórias, 'fuga' de campo e caso amoroso com peruana

    RODOLFO LUCENA
    RAFAEL VALENTE
    DE SÃO PAULO

    04/04/2015 02h00

    Com quatro mundiais no currículo, 405 gols e 27 títulos pelo Santos, José Macia, o Pepe, ainda hoje se ressente de uma passagem menos nobre em sua vitoriosa carreira no futebol.

    Aos 80 anos, o ex-ponta esquerda campeão mundial pelo Brasil (1958 e 1962) e pelo Santos (1962 e 1963 ) recorda com tristeza de um clássico com o São Paulo, em 1963, que ficou famoso como o dia em que o time de Pelé "fugiu" de campo antes do fim do jogo para não ser goleado.

    Com Coutinho e Pelé expulsos no primeiro tempo, três jogadores do Santos simularam contusão a pedido do técnico Lula.

    Assim, como o time ficou com sete jogadores em campo, o árbitro Armando Marques teve de encerrar o clássico aos 11 min do segundo tempo, com o placar de 4 a 1 para o São Paulo.

    Pepe foi um dos jogadores que simulou contusão. Deixou o campo após um choque com o zagueiro Bellini, quando o placar estava 3 a 1. O lateral Aparecido e o ponta direita Dorval foram os outros a seguir as ordens de Lula.

    "Eu me arrependo do que aconteceu naquele dia. Não acho que foi uma mancha na minha carreira porque eu obedeci o técnico. Mas ficou chato. Só não repercutiu mal porque eu tinha muito crédito", recorda Pepe, ao receber a Folha em seu apartamento, em Santos.

    A mágoa e a vergonha que ainda sente daquela partida é uma das histórias do livro "Pepe, o Canhão da Vila", biografia do ex-ponta esquerda que será lançada em junho pela editora Realejo.

    Escrita pela jornalista Gisa Macia, 44, filha de Pepe com Lélia Macia, a obra recupera histórias da infância do atacante, da carreira como jogador e treinador e até o cotidiano dos dias de hoje.

    O toque familiar imprime dinâmica incomum ao livro. De 1935 até 1970, ou seja, do nascimento de Pepe ao nascimento de Gisa, a narrativa se dá em terceira pessoa.

    Depois, o livro passa a ter passagens em primeira pessoa, baseadas na vivência da jornalista.

    A VEDETE E A PERUANA

    O trabalho de pesquisa e redação durou cinco anos. A fonte principal foi, claro, o ex-jogador, mas também ajudaram familiares, companheiros de infância e do futebol.

    Porém, o fato de ter a vida narrada pela filha não poupou Pepe de expor episódios embaraçosos de sua vida.

    "Meu pai era jovem, famoso como jogador do Santos, já namorava minha mãe e mesmo assim tinha caso uma vedete", diz Gisa, aos risos, durante a entrevista.

    "Ah, não...", interrompe Pepe, mostrando-se desconfortável em relação ao caso.

    "Na época, os homens tinham de manter as mulheres castas até o casamento. Outros jogadores também tinham casos fora da relação. As vedetes eram as Panicats daquela época", diz Gisa.

    "Eu era um cara solteiro... [Gisa interrompe e diz 'o senhor já namorava a mamãe']. Namorava, mas não transava", defende-se, aos risos.

    A biografia também traz à tona a namorada que Pepe teve no Peru, com quem se encontrava só nas excursões ao país com o time do Santos.

    A moça, que conheceu o atacante quando ele tinha um respeitável topete, desencantou-se ao encontrá-lo anos depois, carequinha da silva.

    "Contam que, ao me ver na saída do aeroporto, ela disse 'Pepito, ay que lástima'", diverte-se Pepe. "Mas isso não é verdade. Foi invenção dos meus companheiros de Santos só para me provocar."

    O livro revela ainda o gosto dos jogadores santistas pelo carteado na concentração, especialmente de Pepe.

    "Uma vez fomos dormir três ou quatro horas da manhã sendo que, no mesmo dia, tinha jogo com o Corinthians, às 11h. O [técnico] Lula estava perdendo e não queria parar. Ainda assim o Santos ganhou de 2 a 0 do Corinthians, em 1954", diz Pepe que, no entanto, não foi escalado para esse duelo.

    VIDA SIMPLES

    O livro reúne também passagens tristes, como o acidente que levou o irmão Silvio, o mais velho do santista, à morrer com só sete anos, após cair da janela da casa da família, em São Vicente. Pepe tinha apenas dois anos.

    As histórias com o outro irmão, Mário, e com o pai, dono de uma mercearia em São Vicente, são lembradas com saudade pelo ex-jogador.

    Pepe enfatiza que, apesar da fama, sempre foi um homem de vida simples, fiel à sua turma. Ainda hoje, dedica as manhãs de domingo a encontros com os velhos amigos Geléia, Sebinho e De Paula, em São Vicente.

    Reunidos sob a sombra de uma árvore centenária na praia da Boa Vista, eles reavivam memórias da infância.

    O encontro é sagrado para Pepe. "Se, por algum motivo, é cancelado, muda o humor do Canhão da Vila", diz Gisa, que escolheu essa história como desfecho da biografia.

    OS MAIS DE PEPE

    Veja algumas lembranças:

    O AUGE DA CARREIRA

    "O período que defendi o Santos. Reinamos nas décadas de 1950 e 1960. Não há um ano para definir o que foi aquele time. Foi um período."

    O GOL MAIS BONITO

    Os dois de falta contra o Milan, no Maracanã, na vitória santista por 4 a 2, no segundo jogo da decisão do Mundial Interclubes de 1963. Ele fez o primeiro e o quarto gol

    O RIVAL PREFERIDO

    "O Corinthians", diz, aos risos. "Mas vencer Palmeiras e São Paulo também era muito bom. Contra o Corinthians, o bicho [premiação após o jogo] já estava garantido"

    O MELHOR MARCADOR

    O lateral direito Djalma Santos (Palmeiras). "Era muito leal, nada violento. Tecnicamente era muito bom", diz Pepe, que citou ainda De Sordi e Carlos Alberto Torres

    SEU MELHOR TREINADOR

    "Foi o Lula, comandante no Santos. Gostei também do Aimoré Moreira, técnico nas seleções brasileira e paulista."

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