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    Obcecado por futebol, Sabella tem estilo tranquilo e 'descarta' fantasmas

    ALEX SABINO
    DE COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    18/04/2015 02h00

    Alejandro Sabella, 60, nunca comprou a ideia da rivalidade Brasil e Argentina. No meio da Copa do Mundo de 2014, disse não entender a disputa entre os países. "São dois irmãos e dois gigantes da América Latina."

    Provável novo técnico do São Paulo, o vice-campeão mundial sempre considerou que sua filosofia de trabalho casava melhor com o espírito brasileiro no futebol.

    "Nós nos apegamos muito ao fatalismo. Quando passei pelo Brasil, nunca treinei tanto na vida", lembrou, em entrevista para a revista argentina "El Gráfico" em 2009.

    Mesmo ano em que saiu da sombra de Daniel Passarella, de quem foi auxiliar por 15 anos, e levou a Libertadores como técnico do Estudiantes.

    Peronista, fã da presidente Cristina Kirchner e viciado em refrigerantes, Sabella está sem emprego desde o final da Copa, quando decidiu não continuar à frente da seleção.

    Segundo seu empresário Eugenio Lopez, se recolheu em La Plata (região da grande Buenos Aires), onde mora, e de lá só saiu para ir à Europa, ver partidas e conversar com outros profissionais.

    "Futebol é uma obsessão. Penso nisso o tempo todo. Às vezes, minha mulher me fala que estou em casa, mas é como se não estivesse", disse à Folha pouco antes da Copa.

    A amigos Sabella disse não ter interesse imediato em trabalhar na Argentina. Acreditava que viria uma oferta da Inglaterra ou Brasil, dois países onde atuou como atleta.

    No Reino Unido, é considerado o maior estrangeiro da história do Sheffied United, onde jogou entre 1978 e 1980.

    O único momento em que abriu o sorriso em uma entrevista coletiva no Mundial foi quando o narrador Martin Tyler, da Sky Sports britânica, lembrou do tempo em que ele desfilava pelos campos do país com cabelos compridos.

    Seis anos mais tarde, foi contratado pelo Grêmio. Não brilhou, mas da convivência com Valdir Espinosa tirou um mantra que repete incessantemente como treinador: "a partida de futebol é ganha sempre pela equipe que ocupa melhor os espaços".

    Os atletas da seleção brincavam não aguentarem mais a mesma frase dia após dia. Mas foi apoiada nela que a Argentina quase foi campeã.

    Sabella saiu da competição com crédito mesmo entre os jornalistas argentinos que criticavam seus métodos e a ausência de Carlos Tevez.

    Enquanto Felipão morreu abraçado ao seu modo de ver o mundo, Sabella virou a Argentina do avesso em meio à Copa. Quando percebeu que os gols e jogadas de Messi seriam suficientes na fase de grupos, mas não no mata-mata, mudou peças e esquema.

    Tornou seu camisa 10 uma peça voluntariosa da estratégia tática, voltando para ajudar a marcação. Mexeu no miolo da zaga (Fernández por Demichelis). Mudou a cabeça de área (Gago por Biglia).

    "Uma coisa é ganhar. Mas não basta. Eu quero mostrar profissionalismo, honestidade, equilíbrio. Ser coerente com o que sou e não pedir aos jogadores algo que não possam fazer", disse em depoimento ao livro "Pachorra, Histórias para Conhecer Sabella", dos argentinos Pablo Hacker e Javier Saúl.

    Pachorra, seu apelido na Argentina, serve para designar alguém calmo, tranquilo.

    Fã declarado de Rivellino, Sabella morou em São Paulo em 2005, quando Daniel Passarella foi contratado pelo Corinthians. Chegou como auxiliar e ficou só quatro meses.

    Surpreendeu pela capacidade de se comunicar em português. Enquanto Passarella parecia sempre depressivo e não ganhava a confiança dos atletas, "Alê" era querido.

    "Um cara sensacional. Não havia ninguém que não gostava dele", afirma Gustavo Nery, ex-lateral do time.

    Depois que alçou voos solos, Sabella adotou perfil de liderança mais discreta. Sem explosões emocionais. Ou, como ele diz, sem enxergar fantasmas onde não existem. O que, em se tratando de clube em turbulência como o São Paulo, pode ajudar bastante.

    "Não me preocupo com o que jogador diz em entrevista. Eles têm o direito de ter opinião própria e dizer isso a vocês [jornalistas]. No final de tudo, o que importa é dar o melhor em campo e vencer jogando bem. No futebol, isso é tocar o céu com as mãos."

    Sabella se tornou a única opção do São Paulo para suceder Muricy Ramalho, que deixou o time em meio a uma série de atuações fracas.

    No início, o clube abriu o leque, com Vanderlei Luxemburgo e Abel Braga, mas agora espera o sim do argentino ainda na próxima semana.

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