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    Dirigentes que querem mudar Fifa temem represálias, afirma Figo

    LEANDRO COLON
    DE LONDRES

    17/05/2015 02h00

    Ben Stansall - 19.fev.2015/AFP
    O ex-jogador português Luís Figo apresenta a sua campanha para a presidência da Fifa
    O ex-jogador português Luís Figo apresenta a sua campanha para a presidência da Fifa

    Candidato à presidência da Fifa na eleição marcada para o próximo dia 29, o ex-jogador português Luís Figo, 42, afirmou que dirigentes de federações com quem conversou "temem represálias" se assumirem publicamente uma posição a favor de mudanças na entidade.

    Em entrevista à Folha, ele disse que a Fifa mantém uma "imagem péssima". "Ninguém considera a Fifa uma entidade transparente", declarou o ex-jogador, estrela na década passada de clubes como Real Madrid, Barcelona, Inter de Milão e seleção portuguesa.

    O presidente da Fifa, Joseph Blatter, no cargo desde 1998, é o favorito a conquistar um quinto mandato. Há ainda outros dois candidatos: o presidente da federação holandesa, Michael van Praag, e o príncipe Ali bin al-Hussein, da Jordânia.

    Figo pediu que a entrevista fosse feita por e-mail por causa das viagens que vem fazendo pelos países na reta final de campanha.

    Folha - Por que o sr. decidiu ser candidato e qual seu principal objetivo caso seja eleito?

    Luís Figo - Numa altura em que vemos a imagem da Fifa se degradando cada vez mais, creio que é chegada a hora de devolver ao futebol parte daquilo que me deu ao longo da carreira. Os meus principais objetivos passam por mais transparência, união, cooperação, novos processos de decisão, uma filosofia de liderança diferente, em que sejamos uma equipe forte, empenhada em trabalhar a favor do futebol.

    O presidente Blatter parece ter força para se reeleger. Qual sua aposta para vencê-lo?

    Tenho viajado por todo o mundo e falado com muitos dirigentes das federações e me parece claro que a maior parte das pessoas concorda que é preciso mudar. Quando apresento minhas ideias, tenho muito boa receptividade e a reação é muito positiva.

    Por outro lado, há vários dirigentes que me dizem que receiam assumir publicamente a favor da mudança porque temem represálias contra si, contra a sua federação e até contra o seu país.

    Em tantos anos de mandato, é óbvio que o Blatter não fez só coisas erradas, mas creio que é chegada a hora de assumir também, como líder, a responsabilidade pela situação a que se chegou, uma organização com uma imagem péssima, com patrocinadores que não renovam contratos, com um sentimento generalizado de mudança.

    Como melhorar a imagem da Fifa diante de escândalos de corrupção nos últimos anos?

    Ninguém considera a Fifa uma entidade transparente. A falta de transparência afeta gravemente a credibilidade de uma organização.

    Proponho medidas destinadas a criar mecanismos que tornem as decisões mais claras, mais rápidas para pessoas. Pretendo criar órgãos independentes de controle e auditoria, um comitê de futebol com especialistas reconhecidos mundialmente.

    No fundo, voltar a aproximar a Fifa dos torcedores, dos protagonistas, instituições e empresas com quem lida.

    Se o senhor for eleito, vai manter a Copa de 2022 no Qatar (envolvida em denúncias de corrupção) ou pretende rediscutir o assunto?

    Já expressei a minha opinião sobre isso. Se não houver provas de que a escolha das sedes dos mundiais 2018 (Rússia) e 2022 foi errada ou teve alguma irregularidade, temos que deixar os países trabalharem da melhor maneira possível.

    A CBF não tem feito uma renovação. O senhor pediu ou pedirá apoio à CBF?

    O Brasil é um grande país de futebol e gostaria de contar com o apoio de todos os países, mas a decisão de quem apoia ou não cabe à CBF, você tem de perguntar a eles.

    O senhor tem conversado com ex-jogadores brasileiros e parceiros de Real Madrid, como Ronaldo e Roberto Carlos, sobre sua candidatura?

    Tenho conversado com muita gente, incluindo jogadores e, claro, atuais e antigos jogadores brasileiros. O Roberto Carlos inclusive teve a amabilidade de anunciar publicamente o seu apoio.

    Quero contar com gente capaz e conhecedora da realidade. Tal como num time, uma pessoa sozinha não consegue ganhar jogos. Alguns serão, com certeza, brasileiros.

    O senhor defende o uso da tecnologia para auxiliar o juiz, por exemplo?

    A tecnologia é cada vez mais importante em todas as áreas da nossa vida e penso que será também cada vez mais utilizada no futebol. Já o é em diferentes áreas como os estádios, os gramados, os equipamentos, as chuteiras.

    E na arbitragem também se começam a ter mais exemplos da tecnologia na linha do gol. Podemos estudar mais formas de ajudar o trabalho dos árbitros com recurso às tecnologias, levando sempre em conta que o futebol é um jogo de regras simples, cuja essência temos de preservar.

    Qual sua opinião sobre o número de países participantes de uma Copa?

    Defendo que o Congresso da Fifa decida isso. Das três hipóteses em discussão –manter como está, em 32, aumentar para 40 ou 48, sou favorável a subir para 40, permitindo a entrada de mais nações, sem perder a competitividade e também como forma de garantir mais receita para reinvestir no desenvolvimento do futebol.

    Nascimento:

    4.nov.1972 (42 anos), em Lisboa (Portugal)

    Posição:

    Meia

    Equipes:

    Sporting (1989-95)

    Barcelona (1995-2000)

    Real Madrid (2000-05)

    Inter de Milão (2005-09)

    Seleção (1991-2006)

    Principais conquistas:

    4 vezes campeão espanhol

    4 vezes campeão italiano

    2º lugar na Euro-2004

    4º lugar na Copa-2006

    Ganhador da Bola de Ouro da "France Football" (2000)

    Eleito melhor jogador do mundo pela Fifa (2001)

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