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    OPINIÃO

    Felipão mostra que ainda não digeriu fracasso da Copa-2014

    PAULO VINÍCIUS COELHO
    COLUNISTA DA FOLHA

    20/05/2015 02h00

    "Eu não quero ser um inconveniente!"

    Esta foi a última frase do técnico gaúcho Luiz Felipe Scolari antes de entregar sua carta de demissão nesta terça (19) à cúpula do Grêmio.

    Ele sofria com os gritos da torcida do time pedindo sua saída no aeroporto. Por um ano, cada dúvida ou pergunta da diretoria e da imprensa pareciam trazer embutidos um pedaço dos 7 a 1.

    O Brasil ainda não digeriu o fiasco. Felipão também não.

    Isso se espalhou pelas relações de trabalho desde que ele voltou ao Grêmio. Quando um repórter fazia uma pergunta mais dura, era como se lhe atirasse na fuça o maior fiasco de sua carreira.

    Sob o peso do 7 a 1, Felipão, 66, não demonstrou nessa passagem a paciência que caracterizava o técnico campeão da Libertadores de 20 anos atrás, aquele que formava garotos como o lateral Roger e o goleiro Danrlei.

    Em 51 jogos, ele teve 26 vitórias, 12 empates e 13 derrotas, um aproveitamento de 60%. Não levou o Grêmio à Libertadores deste ano, falhando no Brasileiro e também na Copa do Brasil de 2014. Em 2015, perdeu o Campeonato Gaúcho para o Inter e começou mal o Brasileiro.

    UM E OUTRO

    Felipão é e será sempre duas coisas. O técnico histórico e vencedor, campeão de duas Libertadores por dois clubes diferentes (Grêmio em 1995 e Palmeiras em 1999) e da Copa do Mundo de 2002.

    E também vilão do vexame contra a Alemanha. A única maneira de escapar do fiasco teria sido recusar o convite para voltar à seleção em 2012.

    Duas semanas depois do fiasco no Mineirão, Fábio Koff, então presidente do Grêmio, pegou um avião e foi até a casa do treinador no bairro paulistano da Pompeia.

    Felipão ouviu o convite com dúvidas, mas disse sim. "Eu não poderia dizer não ao doutor Fábio", argumentou.

    Também enxergou a chance de cicatrizar a ferida. Sua mulher, dona Olga, não gostou. Felipão respondeu: "Olga, tu não estás entendendo. O futebol é a minha vida!"

    O medo da companheira era vê-lo ainda mais machucado. É como está hoje, tachado de ser um fracasso em tudo o que fez após o penta.

    De 2002 para cá, Felipão tornou-se amado em Portugal. Vice-campeão europeu, não realizou o sonho do título, mas levou os portugueses à final inédita e à semifinal da Copa depois de 40 anos. Em seguida, fracassou no time inglês do Chelsea e passou pelo Uzbequistão antes de voltar ao Brasil.

    No Palmeiras, o treinador foi vítima, vilão e herói. Num clube destruído administrativamente, era difícil ser só mocinho. Saiu em 2012 em 19º lugar depois de 24 rodadas de Brasileiro, na rota para o rebaixamento inevitável.

    Dois meses antes, havia conquistado o improvável título da Copa do Brasil.

    O técnico voltou à seleção, ganhou a Copa das Confederações e achou que sua velha receita seria suficiente para o hexa. Não era.

    Longe do sucesso que colecionou, Felipão precisa se lembrar de quem é.

    Ninguém ganha ou perde o tempo todo. Telê Santana foi bi mundial no São Paulo e duas vezes eliminado na Copa do Mundo. Vicente Feola foi campeão mundial e caiu na fase inicial em 1966. Zagallo foi herói em 1970 e vilão em 1974 e 1998.

    Felipão começou a carreira de técnico em 1982 querendo apenas sustentar sua família. Conseguiu. Hoje ele precisará se lembrar que há duas páginas em sua enorme carreira. Seu sucesso sempre será lembrado. Os seus fracassos também.

    OS TÍTULOS DE FELIPÃO EM CLUBES

    1992-1996 (Grêmio)

    Três gaúchos (1987, 1995 e 1996), Copa do Brasil (1994), Libertadores (1994), Recopa (1996) e Brasileiro (1996)

    1997-2000 (Palmeiras)

    Copa do Brasil (1998), Copa Mercosul (1998), Libertadores (1999) e Torneio Rio-São Paulo (2000)

    2000-2001 (Cruzeiro)

    Copa Sul-Minas (2001)

    2008-2009 (Chelsea)

    Sem títulos

    2009-2010 (Bunyodkor)

    Campeonato Uzbeque (2009)

    2010-2012 (Palmeiras)

    Copa do Brasil (2012)

    2014-2015 (Grêmio)

    Sem títulos

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