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    Corrupção no futebol

    EUA têm base legal para investigar caso de corrupção no futebol

    GIULIANA VALLONE
    DE NOVA YORK

    28/05/2015 02h00

    Os dirigentes presos nesta quarta-feira (17), em Zurique, na Suíça, acusados de participarem de suposto esquema de corrupção, tinham ligações com a Fifa, organização com sede na Suíça, dirigem ou dirigiram confederações em outros países e são acusados de pagar propinas em diversos locais do mundo. Ainda assim, foram presos por determinação da Justiça dos Estados Unidos.

    Isso porque, ainda que parte dos crimes investigados não tenha acontecido em solo americano, as autoridades dos Estados Unidos têm instrumentos legais para processar e condenar cidadãos ou empresas estrangeiras por atos de corrupção desde que eles tenham conexão com atividades no país.

    De acordo com a secretária de Justiça, Loretta Lynch, os acusados usaram bancos e sistemas de remessa de dinheiro americanos para distribuir pagamentos de propinas oriundos do esquema.

    "Quem encosta nas nossas fronteiras com empreendimentos de corrupção por meio de reuniões ou do uso do nosso sistema financeiro será considerado responsável. Ninguém está acima ou abaixo da lei", disse James Comey, diretor do FBI, polícia federal norte-americana.

    Um dos instrumentos que pode ser usado pelas autoridades americanas é a lei de combate à corrupção no exterior, conhecida como FCPA.

    Em vigor desde 1977, o texto se aplica a empresas e indivíduos norte-americanos, mas também a estrangeiros com atividades ou que tenham propriedades no país.

    O mercado do "soccer" (futebol) cresceu exponencialmente nos últimos anos, o que daria razões econômicas para as investigações. Segundo a revista "Forbes", o faturamento da liga americana subiu quase 200% entre os anos de 2008 e 2012.

    Lynch ainda usou como exemplo a realização nos Estados Unidos, em 2016, da Copa América. "O que deveria ter sido uma expressão de espírito esportivo internacional foi usado como veículo para um esquema de propinas", disse.

    DETENÇÕES NA SUÍÇA

    O ex-presidente da CBF José Maria Marin, 83, e outros seis dirigentes da Fifa foram detidos nesta quarta-feira (27) pela polícia suíça em uma operação surpresa, realizada a pedido das autoridades dos Estados Unidos. Os cartolas são investigados pela Justiça americana em um suposto esquema de corrupção.

    Segundo o Departamento de Justiça dos EUA, foram detidos, além de Marin, Jeffrey Webb, Eduardo Li, Julio Rocha, Costas Takkas, Eugenio Figueredo e Rafael Esquivel. Eles participariam do congresso da Fifa e da eleição da entidade, que ocorre nesta sexta (29).

    Editoria de arte/Folhapress

    As autoridades suíças relataram que os detidos devem ser extraditados para os Estados Unidos, onde a Procuradoria de Nova York faz a investigação.

    Segundo o Departamento de Justiça dos EUA, a maior parte do esquema envolvia subornos e propinas entre dirigentes da Fifa e executivos do setor na comercialização de jogos e direitos de marketing de campeonatos como eliminatórias da Copa do Mundo na América do Norte, a Concacaf, a Copa América, a Libertadores e a Copa do Brasil –esta última, organizada pela CBF.

    ESQUEMA DE MAIS DE US$ 100 MILHÕES

    As acusações, segundo a polícia suíça, estão relacionadas a um vasto esquema de corrupção de mais de US$ 100 milhões dentro da Fifa nos últimos 20 anos, envolvendo fraude, extorsão e lavagem de dinheiro em negócios ligados a campeonatos na América Latina e acordos de marketing e transmissão televisiva.

    Em nota, autoridades suíças divulgaram que contas dos acusados foram bloqueadas no país. Elas eram usadas para recebimento de subornos.

    Além dos detidos nesta quarta, outros sete dirigentes e empresários foram acusados de corrupção no caso por lavagem de dinheiro e fraude. "Era um esquema que atuava há 24 anos para enriquecer dirigentes através da corrupção no futebol internacional", informa nota da Justiça americana.

    Segundo autoridades dos Estados Unidos, quatro acusados detidos confessaram culpa no caso nesta quarta.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Além da investigação nos EUA, as autoridades suíças recolheram nesta quarta (27) documentos na sede da Fifa, em Zurique, em uma apuração relacionada à escolha das sedes das Copas de 2018 e 2022.

    "A Fifa vai cooperar plenamente com a investigação e apoiará a busca por provas. Como observado pelas autoridades suíças, a coleta de provas está sendo realizada numa base de cooperação. Estamos satisfeitos em ver que a investigação está sendo energicamente perseguida para o bem do futebol e acredito que vai ajudar a reforçar as medidas que a Fifa já toma", informou a entidade em nota divulgada para a imprensa.

    Segundo o Departamento de Justiça dos EUA, 14 pessoas serão acusadas formalmente por envolvimento no caso. Além dos detidos, estão também os dirigentes Jack Warner e Nicolás Leoz, os executivos de marketing esportivo Alejandro Burzaco, Aaron Davidson, Hugo Jinkis, Mariano Jinkis, além de José Margulies, um suposto intermediário que facilitava pagamentos ilegais.

    Réu confesso, José Hawilla, 71, dono da Traffic Group, maior agência de marketing esportivo da América Latina, que tem os direitos de transmissão, patrocínio e promoção de campeonatos de futebol e jogadores, além de empresas de comunicação no Brasil, também é citado pela Justiça americana.

    Segundo a nota do governo dos Estados Unidos, o executivo teria concordado com o confisco de US$ 151 milhões (R$ 473 milhões na cotação atual) de seu patrimônio –US$ 25 milhões (R$ 78 milhões) deste total já teriam sido pagos no momento da confissão.

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