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    Corrupção no futebol

    Carta mostra que Valcke recebeu pedido de US$ 10 milhões sob suspeita

    LEANDRO COLON
    DE LONDRES
    BERNARDO ITRI
    ENVIADO ESPECIAL A ZURIQUE

    02/06/2015 05h50

    Uma carta mostra que o secretário-geral da Fifa, Jerôme Valcke, recebeu o pedido de repasse de US$ 10 milhões (R$ 32 milhões) que as autoridades americanas alegam ser propina de esquema de corrupção no futebol.

    Segundo documento divulgado pelo canal sul-africano SABC, Valcke recebeu uma solicitação por escrito no dia 4 de março de 2008 do ex-presidente da Associação de Futebol Sul-Africana, Molef Oliphant, pedindo a transferência desse montante para Jack Warner, então presidente da Concacaf, a Confederação de Futebol das Américas do Norte e Central. 

    As autoridades americanas apontam que esse dinheiro foi usado para comprar votos a favor da candidatura da África do Sul à Copa de 2010. A carta diz que os US$ 10 milhões devem ser "administrados e implementados" por Jack Warner, acusado de ligação com o esquema que levou sete cartolas da Fifa à prisão na semana passada, entre eles o ex-presidente da CBF José Maria Marin.

    O documento mostra que Valcke tinha, pelo menos, ciência dos valores.

    Reprodução
    Documento divulgado pelo canal sul-africano SABC
    Documento divulgado pelo canal sul-africano SABC

    Procurada pela *Folha* para comentar a carta, a Fifa afirma que o documento não contradiz sua versão sobre o episódio. Diz que Valcke, como secretário-geral, recebe "todas as cartas e solicitações" da Fifa.

    Em entrevista coletiva no último sábado (30), o presidente da Fifa, Joseph Blatter, foi questionado se era o responsável por liberar os US$ 10 milhões. "Definitivamente, não sou. Não tenho US$ 10 milhões", respondeu. Ao seu lado, estava o próprio Valcke, em silêncio. Naquele momento, ambos não contaram o que sabiam da história, inclusive da existência dessa carta.

    Segundo a entidade, a liberação do dinheiro coube a Julio Grondona, então presidente do comitê de finanças da Fifa e que morreu no ano passado. A Fifa reafirmou que Valcke nem outro membro do comando da entidade estavam envolvidos no caso. 

    A Fifa argumentou que, em 2007, o governo sul-africano elaborou um projeto de US$ 10 milhões para apoiar a diáspora africana nos países do Caribe, como parte do legado da Copa-2010, sediada na África do Sul.

    A partir dessa solicitação, diz a Fifa, a federação africana pediu que o dinheiro para esse projeto fosse gerido pelo então presidente da Concacaf, Jack Warner, que teria recebido a quantia para executá-lo.  A entidade máxima do futebol alega ainda que os US$ 10 milhões saíram do orçamento do Comitê Organizador Local da Copa-2010, órgão subsidiário da Fifa. Os pagamentos teriam sido aprovados, diz, por Julio Grondona.

    A Fifa afirma, por fim, que nem Valcke nem outro executivo participou da implementação do projeto. 

    De acordo com o jornal "The New York Times", funcionários do governo norte-americano, falando sob condição de anonimato, apontaram Valcke como o responsável pela transferência de US$ 10 milhões. A revelação aproxima o escândalo do presidente da Fifa, Joseph Blatter, de quem Valcke é braço direito. O número 2 da instituição seria o "alto funcionário da Fifa" que, segundo o indiciamento, transferiu o montante para contas controladas por Jack Warner, na época presidente da Concacaf.

    O pagamento, feito em três parcelas entre janeiro e março de 2008, é central no indiciamento de Warner e compõe um dos escândalos de corrupção que estão sendo investigados nos EUA.

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