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    Corrupção no futebol

    Em 17 anos, Blatter privilegiou periferia e sonhou com Nobel da Paz

    RAFAEL REIS
    MARCEL RIZZO
    DE SÃO PAULO

    03/06/2015 02h00

    Joseph Blatter, 79, nasceu em Visp, Suíça, no coração da Europa. Mas, desde que ingressou na Fifa, 40 anos atrás, aprendeu do seu maior padrinho político que era preciso agradar à periferia do futebol para ficar no poder.

    Foi conquistando um apoio quase incondicional de África e Ásia que ele sobreviveu por 17 anos na presidência da federação internacional.

    Em sua gestão, a Copa do Mundo foi de maneira inédita ao continente africano (2010) e voltou ao Brasil depois de 64 anos (2014). Também nos anos Blatter, o Oriente Médio foi agraciado pela primeira vez para organizar a competição (Qatar-2022).

    Tudo como ensinou João Havelange, mandatário entre 1974 e 1998, que dobrou o número de seleções no Mundial e investiu na expansão para outros continentes com a intenção de tirar o poder das mãos da elite europeia.

    Afinal, é impossível dissociar Blatter do seu antecessor. Ambos fazem parte da mesma estrutura política.

    Foi o brasileiro quem levou à Fifa o suíço, um ex-jogador amador de futebol formado em administração e economia, que havia trabalhado na federação local de hóquei no gelo e na organização da Olimpíada de 1972 e 1976.

    Blatter foi contratado em 1975. Seis anos depois, virou secretário-geral, o segundo cargo da entidade. Assim, tornou-se aprendiz de Havelange. Em 1998, quando o dirigente decidiu deixar a presidência, o braço direito foi a indicação imediata.

    A primeira eleição foi a mais apertada das cinco de Blatter. Ele bateu Lennart Johansson, opositor histórico de Havelange, por 111 a 80.

    Depois, vieram as vitórias sobre Issa Hayatou, em 2002, a reeleição sem adversários, em 2007, a exclusão de Mohammed bin Hammam, em 2011, e o sucesso contra o príncipe Ali bin Hussein, na semana passada. Sempre com apoio maciço da periferia e contra crescente onda de oposição da Europa.

    Os agrados políticos (e financeiros, já que cada pleito era acompanhado de generosa bonificação aos votantes) tinha uma intenção quase secreta: além de garantir a reeleição, Blatter sonhava faturar o prêmio o Nobel da Paz.

    Sua aposta era que o trabalho de integração social feito pela Fifa nos países pobres pudesse lhe dar tal honraria.

    BLINDAGEM

    Até as investigações conduzidas pelos EUA que levaram à renúncia, Blatter parecia blindado a escândalos.

    Não que seus anos à frente da Fifa não tivessem casos nebulosos. Mas eles nunca chegavam ao presidente.

    Três anos depois de assumir, a ISL, principal parceria comercial da Fifa, caiu em caso semelhante ao atual, de pagamento de propinas para obtenção de acordos. Segundo a Justiça suíça, Blatter teve conduta "desajeitada", mas não recebeu dinheiro.

    Outra bomba estourou em 2010, com as suspeitas de suborno nas escolhas das sedes das Copas de 2018 e 2022.

    O caso derrubou membros do Comitê Executivo da Fifa, fez com que a entidade criasse um comitê de investigação e mudasse o processo de definição de escolha dos países organizadores do torneio.

    A desconfiança aumentou quando o relatório final do comitê de investigação, feito pelo norte-americano Michael J. Garcia, não foi divulgado. Garcia se revoltou e deixou o cargo, o que pode ter sido o estopim para o início do fim de Blatter na Fifa.

    Editoria de Arte/Folhapress

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