• Esporte

    Saturday, 04-May-2024 06:28:31 -03

    Corrupção no futebol

    'Renuncia quem tem coisa errada na vida', diz Del Nero na Câmara

    MARIANA HAUBERT
    DE BRASÍLIA
    DE SÃO PAULO

    09/06/2015 16h09

    Ed Ferreira/Folhapress
    BRASÍLIA, DF, 09.06.2015:O presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, durante Comissão do Esporte da Câmara dos Deputados
    O presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, durante Comissão do Esporte da Câmara dos Deputados

    Nesta terça-feira (9), o presidente da CBF Marco Polo Del Nero foi à Câmara dos Deputados prestar esclarecimentos na Comissão de Esporte da casa. Logo no início de seu depoimento, ele lamentou a prisão do ex-presidente e atual vice da CBF, José Maria Marin, na Suíça.

    "São fatos sumamente graves noticiados pela imprensa, mas infelizmente atingem um grande companheiro com quem tive convívio nos últimos anos. Isso machuca muito mais. Eu participava de todos os momentos com ele. O propósito das denúncias a todos surpreendeu, e a mim também", disse Del Nero.

    Com seu nome envolvido no escândalo de corrupção que levou Marin à prisão, Del Nero negou qualquer possibilidade de pedir renúncia, como fez Joseph Blatter, presidente da Fifa.

    "Renuncia quem tem alguma coisa errada na vida. Eu vou até o fim, vou cumprir minha obrigação, fui eleito democraticamente cm 45 dos 47 votos, tenho obrigação com os meus eleitores. Às vezes dá vontade de ir embora, qualquer presidente de clube no Brasil quer sair correndo tudo dia, mas tem obrigações com o eleitorado dele", disse.

    "Não vou renunciar, vou ficar até o meu último dia de mandato", completou Del Nero.

    Para o deputado João Derly (PCdoB-RS), a renúncia de Del Nero seria um "ato de coragem neste momento". O deputado Altineu Cortes (PR-RJ) também pediu a saída de Del Nero. Ambos assinaram o requerimento que convidou o dirigente para a sessão.

    Na audiência, Del Nero também afirmou que as mudanças discutidas nesta semana para alterar o estatuto da CBF não são uma resposta imediata às denúncias.

    "Essas mudanças que fizemos na CBF não são decorrência das denúncias. Temos um plano de trabalho. Tínhamos um planejamento. Era um projeto previsto. Já estava na minha cabeça que deveríamos fazer essa reforma. Eu via que tinha muita coisa no futebol brasileiro que tinha que mudar. Oito anos é um tempo bom para se fazer uma boa administração e passar para o antecessor, para que ele possa implementar uma nova modalidade", disse.

    Questionado sobre o motivo de ter tirado o nome do ex-presidente da confederação, José Maria Marin, da sede da CBF, Del Nero afirmou que cumpriu apenas uma determinação da Fifa. "Houve uma determinação da Fifa do banimento provisório do Marin. Digamos que ele seja absolvido das acusações, o nome dele vai voltar a figurar lá na sede novamente", disse.

    Del Nero voltou a negar as acusações contra si. "As investigações acontecem nos Estados Unidos. Eu não tive acesso a nenhum documento", se defendeu. "Temos que esperar o desdobramento das investigações. O que eu puder esclarecer, eu esclareço".

    Aos parlamentares, Del Nero explicou que assinou alguns contratos da CBF como colaborador de Marin antes de assumir a presidência da entidade. "Eu acompanhava os contratos quando era chamado. Em alguns fui chamado, outros não. E aqueles que fui chamado participava como ouvinte. Poderia opinar? Poderia. Mais na base do tempo de contrato, porque já estava determinado valores. É por aí que participava. A palavra final é sempre do presidente. Eu participei, sim, mas no regime presidencialista quem manda é o presidente", disse.

    Ele se eximiu de qualquer possibilidade de envolvimento com o esquema de corrupção na entidade ao afirmar não ter tido qualquer conhecimento sobre irregularidades. Questionado ainda se abriria seu sigilo telefônico, fiscal e bancário, Del Nero afirmou que apenas uma decisão judicial o poderia obrigar a tal ato.

    "Se o poder judiciário entender que vai quebrar meu sigilo, será quebrado. Por que vai quebrar meu sigilo? O que fiz de errado? Não é assim que vai abrindo sua conta. O poder judiciário tem este poder e se puder, certamente vai abrir. Ainda assim, o promotor requer e o juiz decide. Temos que obedecer a Constituição Federal", se defendeu.

    Ao final da reunião, alguns deputados avaliaram que a CPI mista para investigar as denúncias de corrupção na CBF ainda é necessária. "Eu não fiquei convencido. Ainda estamos intrigados com o coconspirador 12, que é muito próximo ao perfil de Del Nero. Vamos aguardar as investigações de uma CPI porque ainda não temos as respostas que queremos", afirmou Derley.

    Segundo o deputado, o pedido de criação da CPI já tem cerca de 160 assinaturas de apoio. O número necessário para que ela seja instalada é de 171 apoios.

    No entanto, se de um lado parlamentares pediram a renúncia de Del Nero, do outro, deputados da bancada da bola elogiaram a ida do dirigente á Câmara para prestar esclarecimentos. Para o deputado Marcelo Aro (PHS-MG), ninguém deve ser pé-julgado antes da conclusão das investigações.

    "Devemos apoiar as investigações mas não querer antecipar o juízo e já fazer uma condenação pendido a renúncia", afirmou. Aro é diretor de Ética e Transparência da entidade.

    Sócio de Del Nero em um escritório de advocacia e também diretor da CBF, o deputado Vicente Cândido (PT-SP) elogiou o colega por ter comparecido a audiência. Por ter sido convidado, Del Nero não era obrigado a comparecer.

    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024