• Esporte

    Saturday, 27-Apr-2024 02:55:27 -03

    Corrupção no futebol

    Empresa investigada nos EUA fez Marin ceder Copa América ao Chile

    MARCEL RIZZO
    ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE

    10/06/2015 12h00

    A Copa América começa nesta quinta-feira (11), no Chile, manchada pelos esquemas de corrupção desbaratados pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, mas a bola poderia mesmo é estar para rolar no Brasil.

    Em março de 2012, 11 dias depois de assumir a presidência da CBF, uma das primeiras decisões de José Maria Marin foi ceder a edição de 2015 do torneio continental, que seria no Brasil, para o Chile. Os brasileiros organizarão em 2019.

    O que parecia somente uma decisão política teve também participação de empresa protagonista na investigação americana sobre o pagamento de propinas para acordos comerciais das próximas quatro edições da Copa América.

    A Folha apurou que a empresa argentina de marketing esportivo Full Play, que na época detinha exclusividade nos direitos comerciais desta edição 2015 da Copa América, pressionou para que houvesse a alteração na sede.

    O motivo seria a preocupação que a Copa do Mundo de 2014, que se realizaria no Brasil, causasse dificuldade em conseguir patrocinadores para o torneio continental –não há indício, na investigação americana, de pagamento de propina neste caso específico.

    As autoridades indicam pagamentos de R$ 20 milhões aos cartolas pelo repasse dos direitos de transmissão do torneio, negócio intermediado pela Traffic.

    Diferentemente da Copa do Mundo, que tem apelo global, a Copa América depende, na maioria, de parceiros locais.

    O temor da Full Play, responsável por vender contratos de patrocínio e de televisionamento, era que as empresas brasileiras, que gastariam (e gastaram) milhões de reais em patrocínios e eventos relacionados à Copa um ano antes da Copa América, não abririam o bolso um ano depois por um torneio de alcance continental.

    A decisão da troca, então, foi sacramentada pela Conmebol, com aval da CBF e da federação chilena, e inicialmente anunciada como um gesto de amizade da confederação brasileira para a chilena, que também já havia feito a solicitação à entidade sul-americana, para agradar ao então presidente do Chile, Sebastián Piñera. Ele tinha entre suas promessas de campanha levar competições esportivas importantes ao país.

    Em maio de 2013, no ano seguinte à troca de sede, foi criada a empresa Datisa, com sede no Uruguai, uma sociedade entre as empresas Full Play, TyC (Torneos y Competencias), esta também argentina, e a brasileira Traffic, que teria os direitos de quatro edições do torneio (2015, a edição especial de 2016, nos EUA, de 2019, no Brasil, e 2023, no Equador).

    A criação da Datisa foi uma maneira encontrada de evitar uma longa e cara disputa judicial, já que a Traffic questionava seus direitos sobre o torneio.

    Executivos dessas três empresas estão entre os indiciados pelo departamento de justiça americano e são suspeitos de pagar propinas para conseguir os contratos com a Conmebol –Hugo e Mariano Jinkis, da Full Play, e Alejandro Burzaco, da TyC, tiveram as prisões decretadas.

    Os dois primeiros estão foragidos e o terceiro se entregou à polícia nesta terça (9), na Itália. J. Hawilla, da Traffic, colabora com as investigações e prometeu pagar US$ 151 milhões (R$ 470 milhões) de multa ao governo dos EUA.

    Foi a Datisa quem vendeu os patrocínios para o evento de 2015. São 11 patrocinadores, oito deles com mercado forte no Chile. Um dos principais parceiros é a aérea LaTam, empresa formada pela fusão da chilena Lan com a brasileira TAM, mas que hoje tem como sede Santiago. A telefônica Claro, com forte presença no Chile, também é uma das patrocinadoras.

    A organização da Copa América do Chile anunciou que o presidente da federação chilena, Sergio Jadue, pediu que todos os contratos da competição fossem auditados, para mostrar que não há problemas em nenhum deles.

    A CBF nega qualquer pressão para mudança de sede e diz que a realização da Copa-2014 exigiria muitos esforços e que seria interessante ter mais tempo para organizar a Copa América –agora serão mais de quatro anos.

    Outro argumento para a troca é que os clubes seriam prejudicados, já que para realizar o torneio no país o Campeonato Brasileiro teria que parar, como aconteceu em 2014, e encurtaria o calendário.

    Nenhum representante da Full Play, da TyC ou da Datisa foi encontrado para comentar o assunto. Contatada, a assessoria da Traffic informou que "os fatos mencionados se deram em 2012, quando a Traffic não detinha os direitos de comercialização da Copa América. A empresa, portanto, não tem nenhuma relação com o ocorrido".

    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024