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    Santista diz que arbitragem na Libertadores-64 'foi estranha mesmo'

    RAFAEL VALENTE
    DE SÃO PAULO

    23/06/2015 02h00

    Gabo Morales - 7.nov.2013/Folhapress
    Lima (esq.) ao lado de Dalmo e Pepe, os três enfrentaram o Independiente em 1964
    Lima (esq.) ao lado de Dalmo e Pepe; os três enfrentaram o Independiente em 1964

    Cinquenta anos após a eliminação na semifinal da Copa Libertadores-1964, que impediu o Santos de buscar o tricampeonato do torneio, o jogo contra o argentino Independiente ainda repercute para quem esteve em campo. Caso do coringa Lima, 73, que defendeu o esquadrão santista de 1961 a 1971.

    "Naquela época todos comentavam que a arbitragem foi estranha. Então, não fico surpreso com o caso ter sido retomado", disse, por telefone, para a Folha.

    Lima refere-se as escutas telefônicas reveladas por uma televisão argentina neste domingo (21), nas quais dois dirigentes dão a entender que a arbitragem do jogo entre Santos e Independiente, em 1964, estava arranjada.

    Os cartolas que tiveram as ligações gravadas são Julio Grondona, ex-presidente da Associação de Futebol Argentino, que morreu em 2014, e Abel Gnecco, representante argentino no comitê de arbitragem da Conmebol.

    A conversa entre os dois dá a entender que o Independiente –clube no qual Grondona fazia parte da diretoria– foi ajudado.

    Em um determinado momento, Grondona diz a Gnecco: "Em 1964, quando jogamos com o Santos, eu bati o [árbitro] Leo Horn, que era holandês, com os dois bandeirinhas". "Sim, sim, já sei", responde Gnecco, aos risos.

    Na verdade, o árbitro das duas partidas foi o inglês Arthur Holland. Na primeira partida, o Independiente ganhou de virada por 3 a 2, no Maracanã. Em Avellaneda, venceu por 2 a 1 e foi para a final.

    "A arbitragem foi estranha no jogo que fizemos no Rio. Lembro que naquela época era normal enfrentarmos equipes argentinas e nunca tivemos problemas, mas contra o Independiente foi diferente", recorda Lima.

    "A arbitragem deixou o Independiente bater a vontade. Nos lances duvidosos, o apito era contra o Santos. Nos contra-ataques, os bandeiras marcavam impedimentos inexistentes contra o Santos, às vezes o árbitro dava uma falta para impedir nosso ataque. São situações não tão claras de interferência da arbitragem, mas que há um prejuízo psicológico para o time", completou.

    SEMIFINAL

    Nos dois jogos contra o Independiente, o Santos não teve força máxima. Do ataque mais famosos, apenas Pepe jogou a primeira partida.

    Dorval, Mengálvio, Coutinho e Pelé (este machucado) ficaram fora. O capitão Zito jogou, mas não estava bem fisicamente segundo a Folha da época.

    Pepe e Rossi fizeram os gols do Santos, que chegou a estar vencendo por 2 a 0 e foi derrotado por 3 a 2, no Rio.

    A atuação do árbitro, aliás, foi "boa" para a Folha. Já os auxiliares Cabrera e La Rosa, ambos do Paraguai, foram "fracos" segundo o jornal.

    No segundo jogo, o quarteto ofensivo também ficou fora. Mas Pepe teve a companhia de Toninho Guerreiro e Almir Pernambuquinho (este também disputou a primeira partida).

    A derrota foi por 2 a 1. O gol santista foi de Toninho Guerreiro.

    "O Santos já tinha dois títulos de Libertadores e dois Mundiais. Acho que não era interessante para os dirigentes verem novamente o Santos na final. Só assim consigo explicar porque a arbitragem estaria contra nós", diz Lima.

    ESCUTAS TELEFÔNICAS

    Conversa entre Grondona e Abel Gnecco indicam que argentinos teriam escolhido árbitro de Corinthians x Boca Juniors, em 2013

    Os personagens:

    Jorge Adorno/Reuters

    Carlos Amarilla
    * Árbitro paraguaio
    * Atuou na Copa do Mundo de 2006
    * Foi criticado por sua arbitragem no jogo de volta entre Corinthians e Boca Juniors pelas oitavas de final da Libertadores de 2013, no Pacaembu
    * Deixou de marcar um pênalti para o Corinthians e anulou gol legal da equipe alvinegra
    * Ele admite ter cometido erros, mas nega que tenha favorecido o Boca Juniors

    Jorge Adorno/Reuters

    Julio Grondona
    * Ex-presidente da AFA (Associação do Futebol Argentino)
    * Morto em 2014, é investigado por envolvimento no escândalo de corrupção no futebol revelado pela Justiça americana
    * Comandou a federação argentina de 1979 até sua morte
    * Começou a carreira de dirigente ao fundar o Arsenal de Sarandí, em 1956
    * Também foi dirigente do Independiente, entre 1962 e 1979

    Abel Gnecco
    * Diretor da escola de árbitros da AFA
    * Representante argentino no comitê de árbitros da Conmebol (Confederação de Futebol da América do Sul)

    A conversa:

    (17 de maio de 2013, dois dias depois do Boca Juniors eliminar o Corinthians da Libertadores)

    Grondona: Como está, Abel? Bem. E você?

    Gnecco: Sim, estou bem porque saí desta confusão, não? Mas enfim, sei lá.

    Grondona: No fim foi tudo bem. Ninguém queria esse louco de m... e jogou o melhor reforço que o Boca teve no último ano, o Amarilla (risos).

    Gnecco: Sim, disse isso, mas sei lá. Falei com Alarcón [Carlos Alarcón, presidente da Comissão de Árbitros da Conmebol] e ele me disse que esse ano é meio... É novo, que tem que ter... Bom, então fazemos uma coisa [inaudível]. Aí na Argentina eles querem o Amarilla? Olha, se não querem eu não sei. Eu quero. Então coloca ele e não me encha o saco. Coloca o Amarilla e para de me f... Bom, aconteceu assim, colocou ele e, bom, foi tudo bem porque tem de ser assim.

    Grondona: E agora quem vai? Quem tem que colocar agora no Boca e Newell's [partida das quartas de final]?

    (Os dois conversam sobre possíveis árbitros para mediar o jogo. Mais tarde, Grondona dá a entender que teria comprado os árbitros assistentes em uma partida contra o Santos pela semifinal da Libertadores de 1964, quando era dirigente do Independiente)

    Grondona: E fique de olho nos bandeirinhas que coloca, que com esse... Como se chama? Taibi [Ernesto Taibi, árbitro assistente argentino] tem que ter cuidado.

    Gnecco: (risos) Não, não, os bandeirinhas...

    Grondona: Por favor, porque o árbitro faz tudo e o bandeirinha põe tudo a perder.

    Gnecco: Julio, isso eu aprendi com você há mais ou menos 40 anos.

    Grondona: Em 64, quando jogamos contra o Santos, ganhei do Leo Horn [árbitro holandês; na verdade, o árbitro da disputa foi o inglês Arthur Holland] com os dois bandeirinhas.

    Gnecco: (risos) Sim, sim, já sei.

    Grondona: Tchau, até logo.

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