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    Árbitros paraguaios ficam fora da Copa América após caso das escutas

    MARCEL RIZZO
    SÉRGIO RANGEL
    ENVIADOS ESPECIAIS A SANTIAGO

    23/06/2015 20h23

    A suspeita de que os árbitros assistentes Rodney Aquino e Carlos Cáceres possam ter participado de esquema de manipulação de resultado, em jogo do Corinthians na Libertadores 2013, fez com que o trio de arbitragem paraguaio que participa da Copa América, e trabalhou no jogo da seleção brasileira contra a Venezuela, domingo (21), esteja provisoriamente afastado da competição.

    Enrique Cáceres, o árbitro, e Aquino e o outro Cáceres já não foram escalados para os jogos das quartas de final, que serão realizados de quarta (24) a sábado (27).

    A Folha apurou que a comissão de arbitragem não pretende mais escalá-los no torneio, mesmo se o Paraguai for eliminado para o Brasil, no sábado (27), o que abriria a possibilidade de usá-los sem conflito com partidas da seleção do país natal. O árbitro Enrique Cáceres não está envolvido na confusão e poderá ser utilizado como quarto árbitro em algumas partidas. Os auxiliares, não.

    Os assistentes Rodney Aquino e Carlos Cáceres são pivôs em suspeita de esquema de manipulação de resultados, escancarada em conversas telefônicas divulgadas pela TV argentina no domingo, envolvendo o ex-presidente da Associação Argentina de Futebol Júlio Grondona, morto em 2014.

    Grondona insinua que Carlos Amarilla, árbitro paraguaio, teria ajudado o Boca Juniors contra o Corinthians, em jogo pelas oitavas de final da Libertadores. Amarilla falhou em pelo menos três lances (dois gols mal anulados e um pênalti não marcado, todos contra o time brasileiro). O 1 a 1 eliminou o Corinthians.

    Aquino e Cáceres eram os auxiliares naquela noite. Amarilla nega as acusações, mas foi afastado pela Federação Paraguaia de jogos do torneio local, assim como Aquino e Cáceres, que ainda não se manifestaram sobre o assunto.

    Outro pivô das denúncias, o argentino Angel Gnecco, representante da AFA na Conmebol que teria pedido Amarilla no jogo do Boca contra o Corinthians, está no Chile participando da competição e das escolhas dos árbitros.

    Ele foi o assessor dos árbitros paraguaios na partida entre Brasil 2 x 1 Venezuela, no sábado, cargo que normalmente tem a missão de avaliar a atuação do trio e fazer um relatório para a Conmebol. Gnecco também deve ficar fora dos jogos finais da competição.

    Para a partida entre Brasil e Paraguai, sábado em Concepción, a comissão de arbitragem escolheu o uruguaio Andrés Cunha.

    O brasileiro Sandro Meira Ricci será o ábitro de Chile x Uruguai em Santiago, nesta quarta (24). O colombiano Wilmar Rodán comanda Peru x Bolívia, quinta (25), em Temuco, e o mexicano Roberto Garcia Orozco será o árbitro de Argentina x Colômbia, sexta (26), em Viña del Mar.

    Infográfico Seleções na Copa América

    ENTENDA O CASO

    Um programa de TV argentino exibiu no domingo (21) escutas telefônicas que mostram gravações da chamada "Máfia do Futebol", que está sob investigação local. Uma das conversas exibidas levantam suspeitas sobre a arbitragem de Carlos Amarilla, que em 2013 prejudicou o Corinthians no duelo contra o Boca Juniors na Libertadores.

    O diálogo em questão – ouça os áudios aqui – envolve Julio Grondona, então presidente da AFA (Associação do Futebol Argentino), que morreu em 2014, e Abel Gnecco, representante argentino no comitê de árbitros da Conmebol e se dá em 17 de maio de 2013, dois dias depois do Boca eliminar o Corinthians em pleno Pacaembu. Na ocasião, o paraguaio Carlos Amarilla foi questionado pelos corintianos por dois gols anulados e um pênalti não assinalado.

    Na conversa gravada, Gnecco relata como foi a decisão pela escolha do juiz paraguaio.

    "Estive falando com Alarcón [Carlos Alarcón, representante paraguaio na Comissão de Árbitros da Conmebol] e ele me disse: [...] 'Estão querendo o Amarilla aí na Argentina?' Veja, se querem eu não sei, eu quero. Coloque ele e deixe de me encher o saco. Alarcón, ponha ponha o Amarilla e deixe de me ferrar. Bom, foi assim, ele colocou e bom... E saiu bem porque, bem, tem de ser assim", disse Gnecco a Grondona.

    A conversa é uma das 11 reveladas pelo programa de TV, que teve acesso às escutas usadas em uma investigação que começou em 2012 e teria investigado de sonegação de impostos em negociações de jogadores a manipulações no futebol. Embora a apuração seja anterior à divulgação do escândalo da Fifa, a presença de Grondona une os dois casos, já que o argentino era vice-presidente da entidade internacional e foi citado no inquérito que prendeu sete cartolas em Zurique, José Maria Marin entre eles.

    ESCUTAS TELEFÔNICAS
    Conversa entre Grondona e Abel Gnecco indicam que argentinos teriam escolhido árbitro de Corinthians x Boca Juniors, em 2013

    Os personagens:

    Jorge Adorno/Reuters

    Carlos Amarilla
    * Árbitro paraguaio
    * Atuou na Copa do Mundo de 2006
    * Foi criticado por sua arbitragem no jogo de volta entre Corinthians e Boca Juniors pelas oitavas de final da Libertadores de 2013, no Pacaembu
    * Deixou de marcar um pênalti para o Corinthians e anulou gol legal da equipe alvinegra
    * Ele admite ter cometido erros, mas nega que tenha favorecido o Boca Juniors

    Jorge Adorno/Reuters

    Julio Grondona
    * Ex-presidente da AFA (Associação do Futebol Argentino)
    * Morto em 2014, é investigado por envolvimento no escândalo de corrupção no futebol revelado pela Justiça americana
    * Comandou a federação argentina de 1979 até sua morte
    * Começou a carreira de dirigente ao fundar o Arsenal de Sarandí, em 1956
    * Também foi dirigente do Independiente, entre 1962 e 1979

    Abel Gnecco
    * Diretor da escola de árbitros da AFA
    * Representante argentino no comitê de árbitros da Conmebol (Confederação de Futebol da América do Sul)

    A conversa:

    (17 de maio de 2013, dois dias depois do Boca Juniors eliminar o Corinthians da Libertadores)

    Grondona: Como está, Abel? Bem. E você?

    Gnecco: Sim, estou bem porque saí desta confusão, não? Mas enfim, sei lá.

    Grondona: No fim foi tudo bem. Ninguém queria esse louco de m... e jogou o melhor reforço que o Boca teve no último ano, o Amarilla (risos).

    Gnecco: Sim, disse isso, mas sei lá. Falei com Alarcón [Carlos Alarcón, presidente da Comissão de Árbitros da Conmebol] e ele me disse que esse ano é meio... É novo, que tem que ter... Bom, então fazemos uma coisa [inaudível]. Aí na Argentina eles querem o Amarilla? Olha, se não querem eu não sei. Eu quero. Então coloca ele e não me encha o saco. Coloca o Amarilla e para de me f... Bom, aconteceu assim, colocou ele e, bom, foi tudo bem porque tem de ser assim.

    Grondona: E agora quem vai? Quem tem que colocar agora no Boca e Newell's [partida das quartas de final]?

    (Os dois conversam sobre possíveis árbitros para mediar o jogo. Mais tarde, Grondona dá a entender que teria comprado os árbitros assistentes em uma partida contra o Santos pela semifinal da Libertadores de 1964, quando era dirigente do Independiente)

    Grondona: E fique de olho nos bandeirinhas que coloca, que com esse... Como se chama? Taibi [Ernesto Taibi, árbitro assistente argentino] tem que ter cuidado.

    Gnecco: (risos) Não, não, os bandeirinhas...

    Grondona: Por favor, porque o árbitro faz tudo e o bandeirinha põe tudo a perder.

    Gnecco: Julio, isso eu aprendi com você há mais ou menos 40 anos.

    Grondona: Em 64, quando jogamos contra o Santos, ganhei do Leo Horn [árbitro holandês; na verdade, o árbitro da disputa foi o inglês Arthur Holland] com os dois bandeirinhas.

    Gnecco: (risos) Sim, sim, já sei.

    Grondona: Tchau, até logo.

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