Ao ser questionado sobre as críticas que recebeu como jogador nos anos 90, o técnico da seleção, Dunga, se comparou a um "afrodescendente". Mas a declaração não repercutiu bem e, pouco menos de três horas após a frase, ele pediu desculpas.

Ainda assim não escapou das críticas.

O rapper Emicida foi um dos primeiros. Utilizou o Twitter para protestar contra o técnico da seleção.

"Pqp Dunga, cala essa m... dessa boca seu imbecil", publicou.

Embora sem insultos, especialistas também se manifestaram sobre o depoimento a pedido da Folha e foram contundentes.

"A opinião do Dunga não é só infeliz. Ela reflete a ignorância dele e de parte da sociedade. Traduz, na prática, o racismo", disse o advogado Dojival Vieira.

Para ele, que também é responsável pela agência de notícias Afropress, a declaração "associa a ideia de que ser negro é ser um coitado, vítima".

"Ele comanda a seleção, que é um símbolo para a nossa sociedade de diversidade étnico racial, como é a música. Os ídolos brasileiros no futebol são negros. Ou seja, além de mau técnico, Dunga é ignorante. A declaração dele reproduziu uma ideia do século 19", completa Vieira.

A opinião é parecida com a do também advogado Silvio Luiz de Almeida, professor de direito no Mackenzie.

"Me chama a atenção uma pessoa no cargo dele não ter ideia do que está falando e, ao mesmo tempo, estar reproduzindo um pensamento racista."

"A comparação é esdrúxula. Se ele fosse afrodescendente, jamais faria tal comparação. Não tem noção do sofrimento dos negros e não sabe que o racismo não dá uma segunda chance, como ele teve ao voltar à seleção brasileira", completou.