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    Técnico de natação se torna o 1º brasileiro a treinar seleção dos EUA

    PAULO ROBERTO CONDE
    ENVIADO ESPECIAL A TORONTO

    16/07/2015 02h00

    Divulgação/Universidade de Louisville
    Arthur Albiero faz parte da comissão técnica da seleção dos Estados Unidos
    Arthur Albiero faz parte da comissão técnica da seleção dos Estados Unidos

    "Arthur, Louisville está à procura de um head coach".

    "Louisquem?"

    "É sério".

    "Nem ferrando vou para uma universidade desconhecida. Mas darei uma olhada".

    Arthur Albiero não sabia, mas esse diálogo com um amigo, ocorrido em meados de 2003, mudaria sua trajetória e marcaria seu nome na história da natação nacional.

    Nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, ele se tornou o primeiro brasileiro a fazer parte da comissão técnica da seleção dos Estados Unidos, principal potência das piscinas.

    Em reconhecimento ao trabalho que fez na Universidade de Louisville, de início renegada por ele próprio, Arthur, 42, foi convocado para ser assistente técnico da equipe feminina no Canadá.

    "É histórico e interessante. Treino atletas de vários países, inclusive o brasileiro João de Lucca, e não vou poder torcer muito alto por eles", disse Arthur, antes da competição, à Folha.

    Radicado nos Estados Unidos desde 1992, o brasileiro colhe agora os frutos de uma saga cheia de reviravoltas.

    Paulista de São Bernardo do Campo, ele teve relativo sucesso como atleta nas piscinas entre o final dos anos 1980 e início dos 1990.

    Nadou quatro anos e meio pelo Minas Tênis Clube, um dos mais tradicionais do país, mas nunca tirou de sua meta o desejo de ir para a América do Norte –ambição fortalecida depois de fazer uma viagem ao Alabama aos 13 anos.

    Resolveu, então, dar uma guinada na direção de suas braçadas. "Eu curtia muito o estilo de vida de faculdade americana. Acordar, ralar, treinar, estudar, ser cobrado, dar resultado", contou.

    Em agosto de 1992, voou para viver o seu sonho americano. "Foi um investimento forte do meu pai [também Arthur], que me bancou".

    Passou por universidades nos Estados da Califórnia e de Michigan, pelas quais conquistou alguns títulos nacionais de segunda divisão.

    "Quando parei de competir, pensei 'o que vou fazer'? Não queria voltar para o Brasil. Aí, consegui um mestrado e me dediquei a trabalhar como técnico", afirmou.

    O destino o levou, primeiro, a uma universidade pequena onde, já casado e com filho, sobreviveu três anos "à base do cartão de crédito".

    Depois de ajudar muito atleta a contar azulejo, recebeu uma proposta da Universidade do Alabama, esta, sim, bem mais tradicional. Galgou posições rapidamente e se consolidou como um dos principais técnicos por lá.
    Após a ascensão meteórica, soube da oportunidade em Louisville pelo amigo com quem travou o diálogo do início da reportagem.

    "Louisville era uma universidadezinha safada naquela época, sem tradição na natação. Eu sabia pouco sobre ela e estava bem no Alabama".

    Mas a curiosidade venceu. Acabou indo para lá com a mulher, Amy, e os filhos Estefan, Nicolas e Gabriela, todos também nadadores.

    "Quando cheguei, o time de natação tinha uma estrutura muito ruim. A piscina era precária. A cultura interna era de beberrões e drogados. Enfim, uma bosta. Mas pensei, 'farei disso um career move'", disse Arthur, que detém cidadania americana.

    Sob Arthur, Louisville passou a figurar entre as instituições de elite da natação americana, o que poucos anos antes era impensável.

    O sucesso o levou à equipe americana que foi ao Pan de Toronto –uma de suas atletas, Kelsi Worrell, defende o time dos EUA no Canadá.

    O coração ficou dividido depois do início das provas de natação.

    "Adoro o Brasil, de coração. Mas eu tenho uma carreira e não tenho como sair. Não descarto voltar ao país, mas quero estar no time olímpicos dos EUA nos Jogos do Rio, em 2016", disse.

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