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    Praias do Canadá não têm borogodó e são tediosas

    MARILIZ PEREIRA JORGE
    ENVIADA ESPECIAL A TORONTO

    18/07/2015 18h00

    Danilo Verpa/Folhapress
    Crianças brincam na praia de Sugar Beach, no Canadá
    Crianças brincam na praia de Sugar Beach, no Canadá

    Dia destes fez um calorão aqui. Calorão de grudar o cabelo na nuca. Eu já tinha ouvido falar das praias de Toronto e resolvi ver se praia de canadense tem borogodó. Era só o que faltava, além de tudo eles ainda terem praias com borogodó.

    Não tem. Tem praias que nem são assim tão praias. Peguei o rumo para Sugar Beach. Gosto do nome. Poético. Mas a praia o que mais falta é poesia. É uma praia artificial construída num lugar que um dia foi estacionamento de carros. Bem, tem uma certa poesia transformar um lugar onde um dia havia carros e hoje tem areia, guarda-sóis e pessoas lagarteando ao sol.

    O nome vem da fábrica de açúcar que funciona a todo vapor ao lado de onde foi construída a praia. Mas o cheiro que vem da cana queimada não é nada doce.

    De longe, engana. Você vê a areia branquinha, os guarda-sóis todos cor-de-rosa, cadeiras branquinhas de madeira. Espaço entre as pessoas. A água no horizonte. Parece um cenário de filme. Não, parece uma propaganda da Chanel.

    De perto, tudo muito organizado. Ninguém fala alto. Ninguém passa chutando areia. Ninguém besunta água oxigenada no corpo. Ninguém passa gritando: biscoito! Mate geladinho! Esfiha! Sacolé! Ninguém toma cerveja, porque é proibido beber nas ruas –e nas praias. Ninguém entra na água –porque não há acesso entre a areia e a água do lago Ontário.

    Ou seja, um tédio.

    Também não me animei com a cor da água. Não tem pneus, tênis ou cocô boiando como na baía da Guanabara, mas também não é convidativa como em dias com sorte e sem cocô nas areias de Ipanema. Em compensação, tem a melhor vista para as provas de vela, que terminam neste sábado (18), do Pan.

    Como eu queria uma praia de verdade. Peguei o ônibus para a Woodbine Beach, a mais pop de Toronto, também na beira do lago Ontário, e a praia mais praia que uma praia pode ser na beira de um lago.

    De longe, engana. Faixa de areia enorme. Cheia de ondinhas por causa do vento. Pessoas praticando kitesurf. Redes de vôlei. Parei de contar quando cheguei em cinquenta. Cinquenta. Areia escura e batida. Vendedores de sorvete. Ciclistas e corredores na orla. Parecia a Praia Grande.

    De perto, parecia a Praia Grande. Praia Grande de canadense. Ninguém fala alto. Ninguém passa chutando areia. Ninguém besunta água oxigenada no corpo. Ninguém passa gritando: biscoito! Mate geladinho! Esfiha! Sacolé! Ninguém toma cerveja, porque é proibido beber nas ruas –e nas praias.

    Dentro da água, meia dúzia de corajosos. "Sabe quando você liga o chuveiro na temperatura mais fria no inverno? A água é assim", disse o vendedor de água. Assim mesmo. Não arrisquei mais do que a canela.

    Arrisquei foi mesmo o pescoço. Não acreditei no sol canadense e perambulei o dia todo sem chapéu e sem protetor solar. A praia pode não ter borogodó, mas o sol queima tanto quanto o nosso.

    A gente tem praias melhores do que eles, pensei sorrindo. Mas e qual é a vantagem disso? Não consegui pensar em nenhuma.

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