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    Australiano ressurge em Kazan após vício em pílula e empurrão de Phelps

    PAULO ROBERTO CONDE
    ENVIADO ESPECIAL A KAZAN

    02/08/2015 02h00

    Chris Hyde/Getty Images
    O nadador australiano Grant Hackett
    O nadador australiano Grant Hackett

    Passava das 20h em Gold Coast quando Michael Phelps avistou o ex-rival, a quem vencera e para quem perdera inúmeras vezes. Engajaram uma conversa saudosa, até que pelas tantas o americano soltou: "Você parece em boa forma física para alguém com 34 anos. Eu acho que deveria voltar para a nadar. Pense nisso."

    Grant Hackett riu e prometeu considerar, para não ser deselegante. Rico, lenda olímpica e multirecordista mundial, o australiano não tinha muito mais a provar na natação -porque, fora dela, vivia o inverso.

    Mas a semana em Gold Coast, cidade australiana que recebia o Pampacífico, torneio quadrienal que reúne país banhados pelo oceano, e o elogio o instigaram.

    "Eu vi as provas, lembrei do que Phelps me disse e pensei: 'até que seria interessante'. Poderia redescobrir o prazer no esporte", contou o australiano em entrevista à Folha.

    Em um raio de seis meses, foi de aposentado a ativo, perdeu os quilos sobressalentes e se sentiu bem na água.

    Voltou a treinar com seu ex-guru, Dennis Cotterell, que o orientou nos seus sete pódios olímpicos e 18 mundiais.

    Os segundos caíram tanto no cronômetro que Hackett resolveu arriscar-se na seletiva australiana, em abril. O inacreditável aconteceu: ele obteve uma vaga no revezamento 4 x 200 m da equipe de seu país, que disputa a partir deste domingo (2) as provas de natação do Mundial de Kazan.

    "Estou ansioso. Tento não me pôr pressão, porque fiquei seis anos fora da natação e não esperava, de jeito algum, entrar no time de Kazan", disse.

    Mas entrou. Ele disputará o revezamento 4 x 200 m na sexta (7). "Ter uma medalha agora seria comparável a ganhar um ouro no meu auge."

    Não parece ser tão impossível ir ao pódio com seus colegas, cuja faixa etária é bem inferior. "Eu acho que posso melhorar meu tempo da seletiva."

    Curiosamente, o veterano abdicou de disputar os 1.500 m livre, prova que o consagrou lhe deu ouros olímpicos nos Jogos de Sydney-2000 e Atenas-2004. Ele vai se dedicar aos 200 m e 400 m livre para tentar os Jogos de 2016.

    "A ideia de ir para o Rio me atrai. Nunca achei que teria outra chance de competir nos Jogos Olímpicos. Com certeza está no meu radar", comentou.

    PERÍODO OBSCURO

    O retorno fulminante do veterano inspira, porém também esconde um período obscuro.

    Hackett formava uma espécie de "casal 20" na Austrália com a cantora Candice Alley, com quem teve dois filhos, Charlize e Jagger. Há três anos, ambos se separaram de forma penosa, e o ex-nadador entrou numa espiral de degradação que envolveu bebida, brigas públicas e dependência a Stilnox, uma pílula para dormir.

    "Foi um período difícil. Tudo foi muito público e envolveu julgamento, as crianças, opinião pública. Eu não conseguia dormir de nervoso, e as pílulas se tornaram a solução a curto prazo", contou à Folha.

    Mesmo enquanto se afundava, Hackett negava o vício. Seu pai, Neville, chegou a contradizê-lo publicamente e assegurar que, sim, o filho dependia do medicamento.

    No fogo cruzado, ele foi parar numa clínica de recuperação no Arizona, nos EUA.

    "Ir para a reabilitação foi duro, mas me ajudou a conhecer eu mesmo. Tive sorte de não ter se transformado em algo ainda pior. Hoje estou livre."

    O primeiro passo para voltar a ser "aquele" Grant Hackett, que amedrontava e causava admiração até em Phelps, começa neste domingo (2).

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