• Esporte

    Saturday, 18-May-2024 08:42:03 -03

    Roger vive semana perfeita no Grêmio e critica jogador que 'treina andando'

    RAFAEL VALENTE
    DE SÃO PAULO

    15/08/2015 02h00

    Lucas Uebel/Divulgação/Grêmio FBPA
    ROGER MACHADO É O NOVO TÉCNICO DO GRÊMIO. O treinador assina contrato até o final do ano e será apresentado no final da tarde - http://www.gremio.net/news/view.aspx?id=18489&language=0&news_type_id=4
    Roger Machado durante um jogo do Grêmio

    Roger Machado, 40, o treinador mais jovem do Campeonato Brasileiro, teve uma semana inesquecível na curta carreira, iniciada em 2011.

    Comandou o Grêmio na goleada por 5 a 0 sobre o arquirrival Internacional, no último domingo (9), e no triunfo por 2 a 0 sobre o Atlético-MG, então líder do torneio, em Belo Horizonte, na quinta (13).

    Ao atender a Folha na quarta (12), um dia antes do jogo em Minas, ele demonstrou serenidade com o momento.

    Pudera: as boas novas vêm de alguns meses.

    Ele vem colhendo bons frutos desde que assumiu o Grêmio no lugar de Felipão, em maio, na quarta rodada. O time estava 11ª posição.

    Hoje, o Grêmio é o terceiro colocado, a apenas quatro pontos do líder, Corinthians.

    O técnico é um admirador de Tite, de quem foi jogador em 2001, no Grêmio, e do ex-jogador Tostão, colunista da Folha. Aliás, emoldurou a coluna "Óbvio, básico e essencial", publicada em 2 de agosto, e a pendurou na parede de sua sala no centro de treinamento do clube. Diz que ela resume tudo o que pensa.

    *

    Folha - Como tem sido a semana pós-goleada no Gre-Nal?
    Roger Machado - Foi um resultado atípico. Tudo repercute diferente, mas é preciso serenidade. Não me permito abater no insucesso nem ficar eufórico nos triunfos. Às vezes no futebol se avalia somente o momento.

    O trabalho está acima do que esperava? Como foi retornar ao clube onde foi jogador e auxiliar técnico?
    Sai do Grêmio no fim de 2013. Não imaginava que voltaria tão cedo. Pelo contrário, quando sai fui buscar conhecimento e coloquei meta, com quantos anos gostaria de voltar. Não posso dizer quando, pois é algo que guardo para mim. Mas voltei antes do previsto. Como me planejei e me capacitei, tudo está correndo bem. É a prova de que vale a pena buscar conhecimento.

    Como tem sido a cobrança?
    Hoje, o elenco do Grêmio tem 30 jogadores, metade é da base. Já tivemos seis titulares da base, todos abaixo de 22 anos. É uma renovação, mas há a cobrança a curto prazo. Como o campeonato é longo, vamos ver onde podemos chegar. Uma equipe jovem oscila. Queremos pelo menos ficar no bloco de classificação à Libertadores.

    Quais tem sido as dificuldades como treinador?
    Ser ídolo no Grêmio facilitou um pouco. A imprensa local valorizou a escolha da diretoria. Também facilitou eu ter compreendido que precisava me capacitar antes de assumir um compromisso do tamanho do Grêmio. Ocorreu um momento de desconfiança por eu ter pouca experiência. Acho que a diferença de idade foi o que pesou mais. Todos imaginavam que eu não teria respeito porque a diferença não é grande para os veteranos do time. No entanto, foi muito tranquilo.

    Você citou a busca por conhecimento. Como foi isso?
    Eu sou formado em educação física e tenho curso de gestão esportiva. Gostaria de estudar algo mais específico, como há na Europa. No Brasil me parece que o mais próximo é o curso da CBF. Desde 2011, estava no Grêmio como auxiliar e fui interino em oito ocasiões. Geralmente nas trocas de técnico. Precisava ter outra vivência. Sai no final de 2013 para ser treinador. Passei pelo Juventude em 2014. No início deste ano, fui para Europa fazer observações e depois assumi o Novo Hamburgo no Gaúcho.
    Após Estadual, cheguei a pensar em fazer uma pós-graduação em treinamento, mas surgiu o convite do Grêmio e eu aceite ser treinador.

    Qual a importância da formação para o seu trabalho?
    Quando eu parei de jogar, fizeram essa pergunta: "Mas precisa de faculdade para ser treinador?". Não preciso [não é obrigatório no Brasil], mas devo fazer. Além de 17 anos como jogador, tive 30 treinadores que me ensinaram muito. Mas, se eu apenas repetisse aqueles treinamentos feitos por eles, sem atualização, estaria repetindo padrões e ideias de 40 ou mais anos. Só agregaria algo diferente se tivesse contato com a teoria. O conhecimento acadêmico dá vantagens como o conhecimento em outras áreas ligadas ao esporte. O aprendizado é determinante para que eu possa desenvolver bem o meu trabalho.

    O que fez na Europa?
    Fui com um amigo para a Itália fazer observações. Ele mora em Verona e observei treinos e partidas do Chievo. Mas estendi a visita para outras cidades. Vi o Bayern vencer a Roma por 7 a 1, vi jogos em Portugal, na Inglaterra. Assisti ao PSG, o Real Madrid. Vi grandes contra times grandes, grandes contra pequenos e pequenos contra pequenos. Em 35 dias, foram dez jogos.

    O que te impressionou?
    O que me chamou a atenção é a concentração e a intensidade nos treinos. Algo que tento repetir aqui. Lá o jogador treina muito mais concentrado e com intensidade maior. Cobro meus jogadores para que eles estejam inteiros e focados durante as duas horas de atividade. O treino é a parte mais importante. Treinamos cinco ou seis dias para jogar um dia. Sempre digo que 'ninguém que treina andando joga correndo'. Nos treinos, procuro fazer com que os jogadores tenham de lidar com as mais diversas situações de uma partida para eles tomarem as melhores decisões. Se treinarem desconcentrados, vão tomar decisões erradas. São filosofias parecidas com as de Tite e Juan Carlos Osorio [técnico do São Paulo].

    Jogadores aceitam isso?
    O perfil do jogador vem mudando. Tanto do ponto vista físico, como em relação ao interesse. Eu fui um jogador questionador. Gostava de saber o objetivo de cada treino. Não era comum essa conduta. Hoje o jogador tem interesse em saber o que vai treinar. E explicar a atividade para ele é positivo. O meu trabalho é em cima de princípios: posse de bola, pressão de bola, linha alta [marcação], amplitude de campo. Favorece a performance e a responsabilidade.

    Após a goleada 7 a 1 da Alemanha no Brasil os técnicos brasileiros foram taxados de desatualizados. Como vê isso?
    Você tem razão. Após o 7 a 1 muito dos problemas do futebol caíram na conta dos técnicos, mas temos de analisar de modo mais amplo. Durante muito tempo fomos o país do futebol pelas conquistas e talvez tenhamos ficado um pouco fechados para o que se fazia em outros lugares. Todas as áreas do futebol precisam de uma constante atualização. Não precisamos replicar o que ocorre lá fora. Mas temos de observar, analisar e entender que nosso futebol é nossa cultura, nosso DNA. Há 30 anos o Brasil exportava treinadores pelo mundo mostrando nossa metodologia de trabalho. Muito desses países olharam e se desenvolveram a partir da nossa cultura. O 7 a 1 mostrou muitos erros, mas não quer dizer que não temos grandes profissionais. Analiso o resultado de outra forma e entendo que para voltarmos a ser protagonistas precisamos voltar a trocar experiências.

    Quais são suas inspirações? O Tite é uma delas?
    Trabalhei com o Tite no Grêmio. Ele foi um dos primeiros que percebeu que eu me interessava por tática. Até me deu um disquete com o software "Tática 3-D" que permitia simular jogadas. E disse: 'Toma de presente que esse é seu futuro'. Antes dos jogos do Grêmio, eu colocava o disquete no computador e ficava brincando. Um outro momento que recordo foi em uma Libertadores. Perdemos um jogo no Paraguai e disse para o Tite que não entendia como nossa tática tinha funcionado bem no jogo anterior pelo Brasileiro e naquela partida tinha dado errado. A movimentação diferente de um jogador específico, que facilitou o desempenho em um jogo e não deu certo no jogo seguinte. Tite foi um incentivador. Guardo até hoje o disquete pelo valor simbólico.
    Gosto também do Tostão. Sempre leio as colunas. Inclusive, uma que ele publicou recentemente está no mural na minha sala no CT. O título é "Óbvio, básico e essencial". Expressa bem o que penso e transmito aos jogadores. Especialmente o final em que ele diz: 'Entregamos a bola para os adversários, eles gostaram, passaram a tratá-la bem e não querem devolvê-la. Para desconstruir e reconstruir nosso futebol, é preciso recuperá-la. Isso é essencial, óbvio e básico. O declínio, em qualquer atividade, acontece quando as instituições e os profissionais passam a gostar mais do sucesso, da fama e do dinheiro'.

    *

    RAIO-X
    ROGER MACHADO

    NOME
    Roger Machado Marques

    NASCIMENTO
    25.abr.1975 (40 anos), em Porto Alegre (RS)

    TRAJETÓRIA
    Jogador revelado pelo Grêmio (1994-2003), com passagens pelo Vissel Kobe, do Japão, e também pelo Fluminense

    COMO TÉCNICO
    Juventude (2014), Novo Hamburgo (2015) e Grêmio (desde maio deste ano). Ainda foi auxiliar técnico no Grêmio entre o início de 2011 e o final de 2013

    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024